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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: ‘Bacurau’ - O Contra-Ataque Vindo do Cinema Nacional

Sinopse: Bacurau é uma cidade esquecida do Nordeste, mas unida pela força do seu povo. Porém, estranhos acontecimentos põem os seus habitantes em alerta. 

O gênero fantástico do nosso cinema brasileiro tem gerado filmes que nada mais são do que uma metáfora sobre a nossa já complexa realidade brasileira. Em "Trabalhar Cansa" (2011), por exemplo, o horror sobrenatural ali fica em segundo plano, enquanto os problemas vindos do mundo real acabam se tornando ainda mais assustadores do que qualquer outro monstro. É aí que chegamos a "Bacurau", obra que é uma grande metáfora de um Brasil pós-golpe 2016 e do qual precisa reagir.  
Dirigido por Kleber Mendonça Filho, do filme "Aquarius" (2016) e de Juliano Dornelles, do filme "O Ateliê da Rua do Brum" (2015),  a trama do filme se concentra pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, onde os  moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Gradualmente, eles se dão conta de que algo estranho está acontecendo, pois enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez, carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a surgir. Por conta disso, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados, mas resta saber quem são os inimigos e de que maneira eles irão se defender.  
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles bebem muita da fonte de vários gêneros, ao ponto de o filme ser identificado como uma ficção cientifica, mas ganhando também pinceladas de suspense, horror e até mesmo ganhando contornos dos tempos de western spaghetti italiano. Porém, o filme jamais esquece de suas verdadeiras raízes e prestando até mesmo uma homenagem aos tempos do "Cinema Novo" e sintetizando o melhor de nossa cultura brasileira como um todo. Ao mesmo tempo, a cidade de Bacurau é um retrato do Brasil atual, com várias pessoas com suas cores, crenças e realidades distintas, mas se mantendo sempre unidos em meio aos obstáculos do dia a dia.  
Os obstáculos, aliás, surgem das formas mais imprevisíveis, porém, bastante identificáveis. A presença política, por exemplo, é uma representação do descaso do próprio perante o povo em que ele busca votos. Não deixa de ser simbólica a cena de livros serem jogados como se fossem restos, ou de alimentos e medicamentos quase vencidos e que faria até mesmo os políticos da direita do mundo real se sentirem envergonhados.  
Porém, “Baucurau” vai ainda mais além, onde enxergamos naquela realidade do Nordeste um Brasil sendo invadido e garimpado por homens gananciosos. Em tempos em que cada vez mais a teoria de que houve um segundo golpe em nossa história se fortifica, a ficção do filme se torna ainda mais próxima da nossa própria realidade nua e crua. Curiosamente, o drone em forma de um disco voador que surge diversas vezes em cena, seria uma metáfora da paranoia norte americana com relação a invasão comunista dos anos cinquenta, só que aqui vista de uma forma inversa e elevando ainda mais a metáfora de que o Brasil está sendo invadido e vendido a preço de banana. 
Aliás, a imagem dos nortes americanos vista na obra é caricata, mas feita propositalmente, pois ela seria uma representação dos pensamentos fascistas e conservadores do Presidente atual Donald Trump. Já os atos e consequências que surgem ao longo da trama acaba desencadeando uma reação em fúria daqueles habitantes que não aceitam serem explorados e tão pouco mortos devido a ganância vinda de poderosos. Se há um personagem que sintetiza muito bem isso é Lunga (Silvero Pereira), cuja a sua imagem, com sangue nos olhos, diga-se de passagem, seria a representação de um Brasil em fúria e pronto para contra-atacar contra aqueles que querem nos dar um golpe pelas nossas costas.  
O ato final nos reserva momentos de pura tensão e cujo a violência e sangue ficarão por ali marcados para sempre. É bem da verdade que as palavras finais de um determinado personagem seriam, infelizmente, o prenúncio de algo muito pior que poderá acontecer em nosso mundo real. Cabe, então, os brasileiros deixarem as suas diferenças de lado e reagirem que nem o povo de Baucurau como um todo.   
Com um grande elenco, incluindo a sempre ótima Sonia Braga, "Bacurau" é o melhor filme brasileiro destes últimos anos e que no futuro ele falará muito sobre esses tempos atuais e nebulosos dos quais nós vivemos. 


Nota: O filme ganhará pré-estreias nos dias  23 e 24 de Agosto (às 20h30) no Cinebancários de Porto Alegre. Mais informações cliquem aqui. 

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