Sinopse: Um casal
idoso segue uma vida silenciosa, sem comunicação, numa casa isolada do resto da
sociedade. Esta paz é perturbada pela chegada de um homem jovem e misterioso,
que se instala no lugar e mantém relações ambíguas com seus anfitriões.
Quando eu penso em Cavalo
de Turim, último filme do cineasta Béla Tarr, penso que ele poderia ser
interpretado de múltiplas formas, pois era uma trama que não possuía um período
especifico, pois se passava num local longínquo da civilização. Relembrando
ele agora, ouso dizer que o local daquele filme é uma espécie de purgatório e
que os dois protagonistas do local nunca se dão conta disso. Essa mesma
sensação eu senti novamente ao assistir o filme Lamparina da Aurora que, embora
sejam tramas distintas, ambas possuem um forte teor peculiar sobre o mundo, a
vida e a morte.
Escrito, dirigido,
produzido e fotografado pelo próprio cineasta Frederico Machado (O Signo das
Tetas), o filme se sustenta de poucos elementos, sendo três personagens, nenhum
diálogo, poucos cenários esternos, uma velha casa, uma mesa para jantar, uma
escadaria de pedra, um bosque e um rio. O que o torna então no mínimo original em sua essência
é o modo como esses ingredientes serão reunidos e utilizados ao longo da trama.
Falar muito sobre a trama, aliás, seria meio
que estragar a experiência, pois tudo que é apresentado ali está fora do convencional.
Não há uma trama com
começo, meio e fim e muito menos algo ali que seja solucionado e finalizado por
aqueles que irão assistir. Há ao menos um núcleo dramático para então se seguir,
sendo ele formado por um casal de idosos (os atores Vera Leite e Buda Lira) que
dividem a mesa, a cama e tudo da casa de uma forma silenciosa, como se em suas
vidas não se é mais preciso dizer nada um para o outro. A rotina acaba mudando
quando surge do nada um jovem (Antonio Saboia) do qual não se sabe ao certo
qual é exatamente a ligação dele com o casal.
A partir desse
momento tudo acontece, onde à trama vem e volta no tempo, como se passado,
presente e até mesmo sonhos compartilhassem um único espaço. Não há explicação definida
do que havia acontecido com eles antes ou depois, já que não há dialogo algum,
mas sim somente inúmeras cenas que nos levanta mais perguntas do que respostas.
É como se tudo que presenciamos fosse algo que ecoasse vindo de um passado, ou
então de um sonho fragmentado e que somente foi criado a partir dos pensamentos
e lembranças de cada um deles.
O pesado silêncio
entre os personagens, o perfeccionismo na elaboração de cada cena, luzes e
sombras que remetem o melhor do expressionismo alemão, a delicada união entre
musica e sons, tudo faz para que o filme se torne um legitimo filme de horror.
Porém, não espere por cenas explicitas de violência, mas é graças à elaboração de
uma atmosfera gótica que faz então toda a diferença. Medo da solidão, o tempo
que não para, a falta de respostas sobre a vida, o medo da morte e do
esquecimento é o que fazem mover esses personagens em seu universo particular e
isolado do nosso.
lamparina da Aurora é
um filme sobre os nossos medos interiores, cujas inúmeras perguntas que nos aflige
em vida talvez nós não queiramos que um dia venham a ser respondidas.
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