Sinopse: Narra 60
anos da história do Brasil através das vivências do político Matheus Schmidt
(1926-2010), um dos protagonistas na luta pela democracia ao lado de Leonel
Brizola. Pelo caminho, ele enfrentou duas prisões, um exílio, resistiu a um
duro embate com a ditadura militar, denunciou prisões e desrespeitos aos
direitos humanos, foi para a rua defender estudantes e trabalhadores nos
confrontos com a polícia.
É difícil mais ou menos dizer quando foi exatamente em que eu comecei a ter um posicionamento com relação à
política. Porém, acho que foi precisamente há alguns anos atrás, quando eu fui
assistir no Cinebancários de Porto Alegre o documentário Dzi Croquettes. Nos
primeiros minutos de projeção da obra, por exemplo, havia sido dito que nos
tempos de ditadura, ao menos, 500 filmes haviam sido censurados pelos censores
a serviço dos militares que se diziam donos do poder na época.
Aquilo me soou como um
verdadeiro pesadelo, pois não existe coisa pior do que obras que, ao invés de serem apreciadas, eram então escondidas para ninguém conseguir testemunha-las.
Infelizmente muitas pessoas não têm esse interesse com relação aos assuntos de políticos,
mas querendo ou não, muito que é arquitetado na capital do nosso país pode sim nos
afetar mais cedo ou mais tarde. Nos últimos dez anos o cinema brasileiro tem
investido em colocar na tela inúmeras histórias dos 21 anos sombrios que assolaram
o nosso país e o documentário Matheus Schmidt, um caso de amor pelo Brasil é
mais um exemplo de reconstituição dos fatos daquele tempo.
Dirigido por Márcia
Schmidt, filha de Matheus Schmidt, a obra explora as raízes desse político que,
de uma forma direta ou indireta, participou das principais fases que o Brasil
passou em pelo menos três décadas. Ao longo da projeção, o documentário explora
políticos importantes da nossa história, que vai desde a Luiz Carlos Prestes,
João Goulart, Getúlio Vargas e Leonel Brizola. Esse último, aliás, é o que
melhor foi explorado na obra, principalmente pelo fato dele ter liderado a Campanha
da Legalidade aqui no RS no ano de 1961, sendo que conseguiu evitar por um
tempo o golpe que, infelizmente, viria com força em 1964.
Em meio a lutas, desistências,
perseguições, exílios e retorno ao país, Matheus Schmidt parecia ter a voz de
um orientador, do qual usava todos os seus recursos para tentar melhor guiar
esses lideres políticos da nossa história. Numa sessão especial do documentário,
do qual teve debate logo em seguida, alguém havia soltado uma comparação de Schmidt
com o personagem Forrest Gump, filme estrelado por Tom Hanks em 1994. A
comparação não é nenhum pouco forçado, já que ambos os protagonistas contracenam com figuras históricas da política, mas a diferença está no fato de Schmidt
realmente ter existido.
O ápice do documentário
está na forma que, gradualmente, vai sendo exibidos na tela os eventos dos
quais muitos políticos que, antes exilados para fugir da perseguição política, começaram
a retornar para o nosso país. O objetivo era a união desses homens, para assim
criarem novas siglas e assim começar a redemocratização dentro do Brasil. Do
preto e branco ao colorido, testemunhamos vários registros históricos, onde vemos
a força dos grupos de esquerda crescer e nascer assim partidos como o PDT, do
qual Matheus Schmidt fazia parte e era um dos pilares de sustentação da sigla.
É aí que o documentário
entra num território que me soa familiar, onde me fez me lembrar da morte de Tancredo
Neves, a posse de José Sarney e as eleições de 1989. É aí que os eventos
daquele período ecoam com os de hoje, pois na época Leonel Brizola era figura
certa no segundo turno contra o então candidato Fernando Collor, mas não conseguindo
o número necessário de votos e que até hoje é algo suspeito. Collor havia sido
adotado pela mídia, alguém que trabalharia ao lado de poderosos, para obter o
melhor lucro e enquanto isso o povo era esquecido.
Nesse redemoinho claustrofóbico
político, Matheus Schmidt sempre esteve
lá, seja como deputado ou em outra posição política. Após a fase
cinzenta de Collor, a cineasta Márcia
Schmidt faz questão também de colocar na tela o período
do FHC e o que ocorreu não é muito diferente se for comparado aos dias de hoje. O ápice do
documentário, aliás, está justamente nos minutos iniciais da obra, onde em pleno
Congresso Nacional, de 1998, Matheus assume o microfone do plenário para
denunciar a então escandalosa liberação de verbas orçamentárias por acordo
entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e a Câmara de Deputados em troca
de apoio na votação de pautas decisivas para a FHC. O presidente da Mesa
Diretora à época? Michel Temer.
Quase vinte anos
depois, a luta de políticos com posicionamentos semelhantes ao de Schmidt segue
a mesma, mas também seguem os mesmos aqueles que são eleitos, não para fazer
política, mas para atuar como mestres da politicagem mentirosa, barata e se tornando
lideres do crime organizado. É aí que surge então a necessidade preciosa na realização desses tipos de filmes, onde os seus realizadores buscam registros históricos de nossa história, para sim
serem colocados na tela e fazendo com que as novas gerações tenham melhor
conhecimento sobre os altos e baixos de nossa política. Atualmente vivemos numa
nova história, da qual se torna cada vez mais um reflexo de um passado cheio de
erros e cabe a nós então freá-los.
Matheus Schmidt, um
caso de amor pelo Brasil não é somente sobre a trajetória de um homem do ramo
da política, como também um olhar pessoal dos principais eventos de um país que
vive sempre sob ameaça de ser amordaçado pelos golpistas de ontem e hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário