Sinopse: Publicado em 1877,
o romance de Tolstoi narra o caso extraconjugal de Anna Karenina, que se
apaixona pelo conde Vronsky e abandona a família, chocando a sociedade. Nesta
adaptação, Shakhnazarov inicia o relato 30 anos mais tarde, durante a guerra
russo-japonesa, quando o filho de Karenina procura saber do amante da mãe, o
que a fez desistir da vida.
Anna Karenina é como as
obras de William Shakespeare que, uma vez ou outra, sempre possui uma nova
adaptação cinema para ser então conferida. Curiosamente, cada nova adaptação
possui um teor que difere das outras e do qual somente o cinema é capaz de
realizar tal tarefa. Se na última versão do conto (versão de 2012 e estrelado Keira
Knightley) era uma bela fusão entre o cinema e o teatro, essa versão russa
sofre um pouco pelo tempo excessivo, mas sendo um filme plasticamente belo para
ser visto e que possui fórmulas na trama que a diferencia das outras.
Dirigido por Karen
Shakhnazarov (Tigre Branco), o filme começa em 1904, onde ocorre um conflito entre
a Rússia o Japão. Em meio às trincheiras, o filho de Anna Karenina (Elizaveta
Boyarskaya) procura descobrir quem foi realmente a sua mãe, através do relato de
Shakhnazarov (Maksim Matveyev), amante de Anna e que se encontra ferido após um
combate. Não demora muito para que certas lembranças do passado tragam novas revelações
sobre a verdadeira faceta de Anna Karenina.
Tendo interpretada
por grandes atrizes ao longo da história (vide Greta Garbo e Vivien Leigh),
Anna Karenina é aquele típico personagem, cuja sua via cruz já é mais do que
conhecida pelo público. Porém, sua aura de tragédia grega é algo que atrai independente
de qual época, pois é uma trama que flui de forma arredondada e que é sempre
correspondido por diversas gerações. Eis então que Karen Shakhnazarov tem uma
de suas tarefas mais ingratas, que é fazer com que a sua adaptação se diferencie
das outras e o resultando em algo parcial, mas com alguns frutos a serem
verificados.
O
filme já começa de uma forma que se difere das outras, onde acompanhamos em
narração off o depoimento do personagem Shakhnazarov, onde tudo que é visto na tela é
de acordo com o olhar do personagem com relação a Anna Karenina. Se num
primeiro momento achamos que o filme poderia se enveredar por um olhar machista
com relação aos fatos, eis que testemunhamos o nascimento de um amor proibido
de uma forma gradual e humana. Se por um lado Maksim Matveyev como Shakhnazarov
não tem muito que acrescentar com relação a sua presença na trama, Elizaveta
Boyarskaya como Anna é a verdadeira alma do filme, pois o seu olhar expressivo
transmite toda a felicidade, amor, angustia e tristeza que a personagem sente
ao longo da projeção.
Contudo, é preciso
tirar o chapéu para o desempenho do ator Vitaly Kishchenko, como o
personagem Alexei, marido da protagonista. Embora o seu personagem aja de uma
forma vingativa pelo fato de Anna ter lhe traído, e curioso que observamos um
personagem não movido somente pela frustração, como também pode ter sido
moldado pelos costumes dos homens da época e pelo lado conservador da igreja. Vitaly Kishchenko se aproveita então ao criar
um personagem dúbio, onde não sabemos então se sentimos por ele raiva ou pena ao
ser movido por regras e costumes impostos pela sua religião que tanto respeita
de uma forma cega e, por vezes, irracional.
Tecnicamente
o filme possui um belíssimo visual, cuja fotografia e edição de arte andam de
mãos dadas á todo momento. Curiosamente, as raras cenas de ação que surgem na
tela (como a já conhecida corrida de cavalos) empolgam e isso graças a uma
direção segura de Karen
Shakhnazarov. Porém, o filme falha um pouco no seu tempo, por vezes excessivo,
cuja algumas passagens da trama, principalmente aquelas que se passam em 1904 soam
um tanto que dispensáveis.
Contudo o que faz
dessa versão se diferenciar das demais é pelo fato de que algumas passagens da
trama ficam até mesmo em aberto e fazendo com que cada um tenha uma
interpretação com relação ao que foi apresentado. E quando a gente acha que
estamos nos encaminhando para o final que todos nós já conhecemos, eis que
Karen Shakhnazarov
nos planta a semente da dúvida com relação ao destino de alguns personagens
centrais da trama e fazendo com que se gerem até mesmo debates após a sessão. Anna Karenina - A
História de Vronsky pode até não ser a melhor versão sobre o conto, mas possui
um brilho próprio.
NOTA: Filme exibido no último sábado para sócios do Clube de Cinema de Porto Alegre.
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