Sinopse: Miguel Angel
Garcia Mazziotti, figura gay decadente do showbiz no Rio de la Plata, é
visitado por sua filha Virginia, de quem se manteve afastado por anos. "El
Gordo", como o chamam em Punta del Este, rejeita abertamente a visita de
Virginia mas, ao saber que vai se tornar avô, não consegue controlar a emoção e
acaba cedendo e compartilhando da felicidade de sua filha. Eles compartilham
então um verdadeiro fim de semana em família que, para ser feliz como em muitas
famílias, deve ser de mentira.
Dos países Sul
Americanos que adotaram a ditadura, o Uruguai, por exemplo, ainda se mantinha
com as cicatrizes em aberto em anos posteriores. Coube então ao presidente Jose Mujica dar um novo frescor ao país e rejuvenescê-lo, já que
não se poderia mais ser comandado por uma velha guarda e com seus antigos
costumes. O cinema de lá acabou se tornando uma espécie de reflexo dessa
virada, pois na maioria dos casos eram protagonizados por pessoas que não
possuía a mesma linguagem dessa nova geração. Os Golfinhos vão para o leste
é uma espécie de pequena síntese desse cinema rejuvenescedor, mas não
escondendo ainda as suas marcas de um passado conservador.
Dirigido por Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta, o título pode não ser compreendido num primeiro
momento, mas há sempre uma explicação para tudo. Quando os golfinhos vão para
oeste, a expectativa é de tempo bom, de felicidade, mas a ideia de que eles
estão indo em direção contrária cria então uma tensão dentro da trama, ou pelo
menos uma sensação de que há algo de podre na Dinamarca.
Delgado e Verónica
não só dirigem como também escrevem e interpretam ambos os protagonistas, sendo
que ela recebeu o Kikito de melhor atriz da seleção latina no Festival de
Gramado do ano passado. Embora ainda hoje façam poucos filmes, o Uruguai sempre
fez parte de Gramado, desde que o Festival de Cinema Brasileiro virou também
latino, no terrível pós-Collor, quando não se tinha uma representação nacional
para se manter uma competição de longas. Curiosamente, há quem diga que o
cinema de lá se sobressai com relação ao conteúdo da TV e, portanto, na maioria
das vezes, boas histórias se veem por lá somente na tela grande.
Aliás, é dessa
decadência televisiva que conhecemos o personagem chamado El Gordo, um grande astro da TV de antigamente e gay assumido. Numa
certa manhã surge do nada Virginia,
filha do protagonista e da qual ela própria pega o seu pai no flagra com um
jovem garoto de programa. Embora de entender que ambos não se falavam por um
bom tempo, a protagonista arrisca em revelar uma importante notícia para ele.
Tem-se então o início de um conflito entre pai e filha e do quais ambos não se
mostram preparados para uma eventual reconciliação e mudanças que podem ou não
surgir no horizonte.
Embora num certo
momento de a entender que os realizadores não sabiam ao certo em que direção
ir, seja no drama ou comédia, o filme pelo menos se sustenta através dos dois
grandes talentos, onde ambos se mantém firmes na corda bamba até a sua reta
final. Curiosamente não é um filme do qual se julga ninguém, mas sim
testemunhamos pessoas com as sua vidas vazias e tentando sobreviver numa
realidade corrida, alienada e sem muitas expectativas futuras. Cabe aqui o
cinéfilo, não só julgar, como também fazer com que a trama continue em suas
mentes e ficarem se perguntando o que os respectivos personagens farão
posteriormente num futuro próximo.
Com a participação curta do
astro César Troncoso (Banheiro
do Papa), Os Golfinhos vão para o leste é somente um pequeno exemplo do
choque de gerações distintas, mas que ambas tem mais em comum do que se
imagina.
NOTA: Filme exibido no último sábado para sócios do Clube de Cinema de Porto Alegre.
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