Sinopse: Renata vive isolada no interior com sua filha adolescente e seu marido, compreendendo o medo como um sentimento comum. No entanto, a chegada de um desconhecido desperta nela um desejo por tudo aquilo que estava adormecido.
No filme "O Estranho Que Nós Amamos" (2017), da diretora Sofia Coppola, era uma verdadeira análise do papel do homem alfa perante a presença de mulheres que acabam nascendo dentro delas sentimentos antes nunca sentidos. Porém, uma vez que uma mulher já possui uma experiência sem vida através do homem ela, talvez, procure novas experiências, mas somente para se dar conta que, acima de tudo, precisa sentir-se bem consigo mesma. "A Mesma Parte de Um Homem" (2022) é um retrato da mulher perante as duas formas de um homem, mas que ambos a levam por uma escolha antes que seja tarde.
Dirigido por Ana Johann, o filme conta a história de Renata (Clarissa Kiste), vive no interior com sua filha adolescente (Laís Cristina) e seu marido, inseridos em uma família patriarcal de origem humilde e compreendendo o medo do exterior como um sentimento comum. Ao perder o único referencial masculino, Renata e a filha se sentem inseguras como nunca. Por isso, elas se fecham em casa, trancam as portas e recusam a aproximação de outros homens. A chegada de um desconhecido (Irandhir Santos) todavia, desperta sentimentos conflituosos.
Se passando em um mesmo cenário, mais precisamente uma casa e as floresta ao redor, o filme nos passa certa claustrofóbica, principalmente em momentos de tensão onde é mostrado a verdadeira pessoa que é o marido do início trama. No momento em que o mesmo sai de cena, se constrói um novo cenário, mais precisamente indefinido, onde ambas as protagonistas criam uma espécie de faz de conta com o novo homem que surge que se encontra, aparentemente, desmemoriado. Nasce assim uma espécie de jogo, onde ambas estão jogando com a figura masculina, mas cujo o mesmo se apresenta como um personagem ambíguo e colocando a semente de dúvida a todo momento.
Ana Johann procura criar análise sobre a personalidade dessas duas figuras centrais, sendo que a mãe decide embarcar no jogo até mesmo de sedução e experimentando sensações que ela mesma nunca havia sentido em vida. A cena de sexo entre Lais Cristina e Irandhir Santos é digna de nota, já que de um lado vemos a personagem feminina se despertando, enquanto nele desperta algo que poem dúvida a sua própria natureza. Uma cena muito bem filmada, onde a tensão e o erotismo caminham muito bem em mãos dadas.
Vista em filmes como "Ferrugem" (2018), Clarissa Kiste constroi para a sua protagonista um ar de complexidade, cuja as camadas vão se descascando a partir do homem em que surge esse novo homem e revelando nela uma nova faceta que surpreende até mesmo os vizinhos em volta. Porém, a jovem Laís Cristina não fica muito atrás, pois ela cria para a sua personagem uma aura selvagem e que me fez muito me lembrar a personagem Juma Marruá da clássica novela "Pantanal" e protagonizado por Cristiana Oliveira. Porém, a personagem possui certa noção da realidade em sua volta e sabendo muito bem jogar as mesmas cartas da mãe em cena.
O ato final nos reserva momentos de até mesmo tensão, onde a verdade precisa vir a tona, pois a natureza do trio central clama pela verdade e cujas as portas e as janelas precisam ser abertas. Uma vez que a situação sai do controle se tem, portanto, a oportunidade de ambas as protagonistas não temerem o mundo a frente, já que a natureza do homem, mesmo nas mais diversas formas diferentes, é previsível e terminando sempre no mesmo beco. "A Mesma Parte de Um Homem" é sobre os obstáculos que o universo feminino precisa enfrentar, mas cuja a redenção não irá tardar.
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