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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Cine Especial: 'Old Henry' - Metamorfoses de um Gênero

Sinopse: Fazendeiro com um passado misterioso abriga um estranho em sua casa com uma sacola de dinheiro. Ao mesmo tempo, homens estão em seu encalço.  

O gênero faroeste foi sem sombra de dúvida o mais explorados dentro da história do cinema, ao ponto de ficar saturado e se tornando apenas uma pálida imagem do que já foi um dia em tempos mais dourados. Por outro lado, não significa que ele esteja morto por completo, pois alguma vez ou outra ele é revitalizado, mesmo quando o mundo já não esteja mais tão interessado. No início da década de 90, por exemplo, dois filmes revitalizaram o gênero que foram "Dança com Lobos" (1990) e "Os Imperdoáveis" (1992).

Porém, cada um veio para dizer algo ao invés de somente gerar lucro para o estúdio. No caso do primeiro, dirigido e estrelado por Kevin Costner, o filme é um grande épico do gênero, mas que veio nos passar uma espécie de pedido de desculpas ao povo indígena, do qual foi massacrado pelo homem branco no mundo real e tendo sido retratado no passado quase sempre como selvagens e de forma muito estereotipada. Já o filme de Clint Eastwood chegava até mesmo ser uma obra a frente do seu tempo, já que retratava um pistoleiro que não vivia mais com um proposito e cujo o seu ato final desvenda a única coisa que ele sabia fazer de melhor na vida.

"Os Imperdoáveis" serviria de modelo para os demais filmes que iriam surgir ao longo dos anos, mas cuja a maioria não teriam o mesmo resultado. É então que foi constatado que a velha fórmula de mocinho x bandido não funciona em tempos atuais e é então que surgiu um faroeste mais psicológico e humano, que vai desde a "Três Enterros" (2003), "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005) e o recente "Ataque Dos Cães" (2021). Dessa nova leva é que surge de forma tímida, porém, muito compensadora que é o título "Old Henry" (2021) filme que merece ser descoberto por aqueles que ainda acreditam na força dentro do gênero.

Dirigido por Potsy Ponciroli, o filme é sobre um viúvo (Tim Blake Nelson) e seu filho (Gavin Lewis) que resgatam um homem ferido misterioso (Scott Haze) que também carrega uma bolsa de dinheiro. Mas quando um grupo de homens chegam dizendo que eles são da lei, o homem e o filho precisam decidir em quem confiar, mesmo que isso mostre sua verdadeira identidade.

Usando uma premissa similar ao que já foi visto em "Os Imperdoáveis", o filme se torna interessante já de imediato em sua abertura, onde testemunhamos alguém sendo caçado e posteriormente morto. Os personagens são jogados na tela sem ao menos sabermos um pouco sobre o seu passado, mas que gradualmente vai sendo aos poucos revelados. Neste último caso o protagonista Henry é que carrega a maior aura de mistério dentro da trama, já que só pelas suas atitudes e pelo seu visual constatamos que ele possui um passado carregado de dor e morte, mas que procura a sua redenção através do seu filho, mesmo tendo a consciência que o seu passado possa vir à tona a qualquer momento.

Embora desconhecido pela maioria do público, Potsy Ponciroli cria minuciosamente uma direção que mais parece de um velho veterano no ramo, cujo o seu enquadramento e posicionamento da câmera parece que sempre tem algo para dizer para nós que estamos assistindo. Os personagens se casam com o cenário principal da trama, assim como pequenas cenas que tem muito a dizer, como no caso, por exemplo, de um reflexo no espelho e que mostra duas perspectivas da mesma cena. Tudo isso é ainda mais elaborado graças a ótima fotografia John Matysiak e que faz com que cada cena se torne um verdadeiro mosaico cheio de detalhes a serem analisados.

Curiosamente, o filme se distancia muito da visão do típico protagonista que estamos acostumados assistir dentro deste gênero, sendo que Henry já se encontra na reta final da vida e estando fisicamente esgotado após carregar inúmeros fardos ao longo do seu trajeto. Tim Blake Nelson é aquele típico ator talentoso, mas que nunca sabíamos ao certo o seu nome, já que ele construiu uma carreira com inúmeros personagens coadjuvantes em diversos filmes famosos, mas nunca obtendo o grande estrelato. Aqui ele finalmente consegue ser o protagonista de um grande filme e talvez nos brindando com o melhor papel de sua carreira.

O seu Henry nada mais é do que alguém que praticou inúmeros atos no passado, fazendo com que se tornasse até mesmo uma lenda conhecida, mas optando em deixar tudo para trás e criando assim uma família. Porém, ele é o típico personagem que atrai o conflito, mesmo tendo o desejo de se esconder no fim do mundo, mas a sua natureza parece estar predestinada em atrair isso. A construção e a revelação sobre a sua real persona talvez seja um dos maiores acertos do filme, pois a revelação não deixa de ser surpreendente.

O filme é moldurado por poucos personagens, mas cujo os mesmos nunca se apresentam com as suas reais identidades assim como o protagonista em si. Isso faz com que não tenhamos o duelo entre mocinho e bandido, mas sim de pessoas normais, porém, vividas e cuja as suas histórias nunca serão o suficientemente enterradas. A famosa frase 'quem conta um conto, aumenta um ponto" nunca se encaixou tão bem quanto neste filme e cujo o seu ato final é bombástico, muito bem dirigido e que não sairá da minha memória tão cedo.

"Old Henry" é um maravilhoso faroeste, mas que nunca cai nas mesmas fórmulas do gênero, mas sim se revitalizando com os novos dilemas do mundo contemporâneo. 


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