O filme "O Amante Duplo" (2018) de François Ozon criou um dos mais curiosos jogos psicológicos do cinema recente, onde o jogo de câmera, efeitos, e se alinhando com grandes talentos culminou com o seu final surpreendente. Inevitável, portanto, que surgisse filmes que tentasse alcançar o mesmo efeito, mesmo correndo sério risco de ficar aquém do esperado. "Não Olhe” segue uma premissa semelhante, não obtendo o mesmo grande resultado, mas não significa que soe dispensável.
Maria (India Eisley) irá completar 18 anos, mas a chegada na vida adulta não lhe traz nenhum fruto: pouco sociável, mantém uma relação monótona com os pais, jamais teve namorados ou algo do gênero e sem muitas expectativas para com relação ao futuro. Sua única amiga, Lily (Penelope Mitchell) troca beijos e carícias com o namorado na frente dela e despertando aos poucos os seus desejos dos quais ela nunca alcança.
Seu pai (Jason Isaacs) é um cirurgião plástico e que acaba saindo com várias pacientes. A mãe (Mira Sorvino) torce por uma melhora no casamento e tenta convencer a sua filha a ir no baile de formatura. Porém, Maria começa a conversar com seu outro lado obscuro através do espelho e despertando nela desejos antes nunca consumados.
Para o cinéfilo de plantão o filme faz referência a todo o momento ao clássico "O Médico e o Monstro", mas aqui a origem do lado obscuro do ser humano não vem de nenhuma fórmula de laboratório, mas sim de traumas psicológicos que, por vezes, soam inverossímeis, mas também toleráveis. Embora novo na área, o cineasta Assaf Bernstein procura não explicitar sobre o que acontece na tela, mas sim deixar que nós tiremos as nossas próprias conclusões sobre o que acontece na história. O resultado é um filme tenso que, embora saibamos o que virá acontecer em seguida, faz com que não desviamos o olhar.
Aliás, é notório que há todo um cuidado em cada cena em que o cineasta elabora, onde os jogos de sombras e espelhos, além dos reflexos nos vidros, não são jogados na trama de uma forma gratuita, mas sim esses simbolismos se encontram lá para se casar com a proposta principal da trama. A fotografia obscura e efeitos visuais primários, porém, eficazes, fizeram me lembrar dos filmes de suspense psicológico que emergiram após o estrondoso sucesso de "Psicose" (1960). Ainda é cedo dizer se Assaf Bernstein terá uma carreira promissora, mas se seguir essa linha, obviamente falaremos mais dele daqui em diante.
Em questão de elenco o sucesso é parcial. Embora nova na área da atuação, India Eiley impressiona no seu papel duplo, mesmo que em alguns momentos o seu desempenho poderia ter se encaminhado por caminhos ainda mais corajosos. E se atuação ambígua de Jason Isaacs soa mais do que óbvia, por outro lado, é bom ver Mira Sorvino de volta numa atuação digna de nota, mesmo que em pouco tempo de tela.
Com um final em aberto com relação ao destino dos respectivos personagens, “Não Olhe” é aquele típico suspense psicológico que nos prende atenção, mesmo quando determinadas perguntas ficam no ar e que somente serão respondidas quando Freud explicar.
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