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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: A FAVORITA

Sinopse: Na Inglaterra do século 18, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough, exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana. Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de sua prima  Abigail. 

No clássico "Ligações Perigosas" (1987) havia como condutor principal da trama a sedução, da qual era uma arma de manipulação entre os poderosos para obter os seus principais objetivos. Porém, os poderosos também são meramente humanos e cabe a eles próprios encarar as consequências dos seus atos ambiciosos. "A Favorita" transita mais ou menos por esse pensamento, do qual os protagonistas obtêm certo lucro a partir das artimanhas vindas da sedução, mas tendo um alto preço a se pagar.
Dirigido por Yorgos Lanthimos ("O Lagosta", 2015 ), o filme se passa no século XVIII, onde Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman, que será vista na próxima temporada de "The Crown"). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), nova criada que logo se torna a favorita da majestade e que agarra essa oportunidade a qualquer preço.
Yorgos Lanthimos  tem chamado atenção nesses últimos tempos ao realizar filmes que nos dá uma certa sensação de incomodo. Em A Favorita isso não é diferente, ao ponto da fotografia por si só se torna incomum, pois o realizador utiliza lentes grande-angulares extremas, de modo a causar distorções próximas do efeito do olho mágico das portas. Seria, portanto, uma representação de como enxergaríamos de uma maneira indiscreta os nobres daqueles tempos, dos quais liberam o seu lado animalesco e longe de olhares curiosos.
Com uma reconstituição de época caprichada,  Yorgos Lanthimos  honra o período histórico, mas não fazendo o mesmo com as suas figuras centrais, das quais não são endeusadas, mas sim retratadas de uma forma humana e, por vezes, absurdamente crua. Ao retratar um período especifico do reinado da rainha Ana, observasse que estamos diante de uma bolha moldada pela própria, da qual tenta por alguns momentos escapar do mundo real. Essas escapulidas, aliás, são orquestradas por Sarah, da qual já sabemos por antemão que existe uma ambição vinda da própria, mas encontrando em sua prima Abigail uma rival à altura.
Tanto Rachel Weisz como Emma Stone e Olivia Colman estão ótimas em seus respectivos papeis, sendo que cada uma injeta uma grande dose de ambiguidade nas suas respectivas personagens na medida certa e fazendo com que fiquemos incapazes de prever o que elas irão fazer logo em seguida. Sarah Churchill  e Abigail Masham são primas, mas  rivais na disputa pelo poder e atenção da rainha, cuja a rivalidade se oscila entre o carinho e agressão, união mas persuasão. Os realizadores fornecem, portanto, um amplo desenvolvimento para as três personagens, principalmente da atriz Colman, que nos brinda com uma surpreendente atuação mesmo quando ela está limitada em uma cadeira de rodas.
Aos poucos, se percebe que cada uma delas vai aprendendo o preço a se pagar pelo que quer e quando se obtém. Independente da época, o filme é um retrato perverso, porém, necessário sobre os jogos políticos de ontem e hoje, dos quais muitos desse submundo se tornam afortunados, mas se tornando prisioneiros pelas suas próprias escolhas. O ato final enxergamos as três personagens principais muito diferentes do início da trama, sendo que Sarah, por exemplo, conseguiu enxergar muito além de sua bolha, enquanto Ana e Abigail encaram de frente as consequências ao continuarem dentro dela.
"A Favorita" é um retrato sobre as ambições do ser humano em querer se tornar afortunado, mas se dando conta que está preso dentro de sua própria bolha particular e que jamais conseguirá ser libertado. 



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