O título do filme, Na
Vertical, pode até ser compreendido em seus minutos finais. Contudo, pouco é
dito sobre o seu significado, até certo momento, pois esse novo filme de Alain
Guiraudie (Um Estranho no Lago) é rodeado de mistérios. Esse teor enigmático
aumenta como um todo, principalmente ao desafiar a expectativa do cinéfilo que assiste,
tanto no ponto de vista concreto como também até mesmo do abstrato.
Também é um filme que
coloca o crítico num ponto que o faz levantar inúmeros questionamentos. Assim
como foi em seu filme anterior, Guiraudie encara a proeza de colocar imagens
explicitas, mas que, diferente do que se imagina, não soam vulgares e tão pouco
sendo um soco no estômago para os mais conservadores. Contudo, ele adensa o
sentido de enigma e fortalece a linguagem alusiva dos protagonistas,
procedimentos que dão ao filme um teor consistente ainda maior que sua obra
anterior.
Embora corajoso com a
possibilidade de seu conteúdo se resumir em sua sinopse, deve se levar em conta
alguns pontos a serem discutidos. O protagonista Leo (Damien Bonnard) é um roteirista
de cinema que perambula pelo interior da França em busca de algo original para
seu próximo projeto. Nessa cruzada, conhece um jovem que, num primeiro momento,
tenta convencê-lo a participar do seu filme, mas não obtendo sucesso.
Posteriormente, se
descobre que o rapaz mora com um senhor de idade e que, aparentemente, possuem uma
relação ambígua. Após isso, o protagonista
conhece uma jovem pastora de ovelhas, Marie (India Hair), que conversa por um
bom tempo com ele sobre o perigo que os lobos selvagens trazem para o rebanho
naquele território. A moça é mãe solteira, tem dois filhos e mora com o pai.
Uma atração entre ela
e Leo desperta de uma forma fortíssima. A história gera então consequências,
com a chegada de um novo filho (o nascimento da criança é provocador e realístico)
e dando continuidade do relacionamento de Leo com esses personagens do interior
da França. Ao mesmo tempo, Leo troca ligações desesperadas com o produtor de
seu projeto, do qual exige informações sobre o desenvolvimento da trama.
Mas, embora com toda
essa descrição que eu dou acima, isso não dá conta do verdadeiro teor que o
filme tem como um todo e que, sem abusar das relações imprevisíveis, a trama avança
de tal modo que acaba nos deixando despreparados com o que irá surgir em sua
reta final. Dificilmente aqueles que forem assistir a essa obra irão prever o
que virá a seguir e o que faz dela algo genuinamente especial. O ápice do filme
se encontra em seu final simbólico, do qual podemos interpretá-lo de inúmeras formas,
que vai desde em aceitar a diferença do seu próximo e encarar o mistério do seu
desconhecido.
Na Vertical é
original e imprevisível em sua proposta, pois quebra a perspectiva do cinéfilo
e o deixando em território completamente desconhecido.
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