Sinopse: Filho de
terapeuta sente prazer em telefonar para os clientes da mãe, dando início a uma
relação complicada com uma mulher.
No decorrer dos últimos anos vem surgindo
uma nova tendência em nosso cinema brasileiro, onde se é abordado em
determinados filmes, a desconstrução das famílias de classe média atual
brasileira. Títulos como Casa Grande, A que Horas ela Volta? e Mãe Só Há Uma,
são exemplos recentes que quebram com o cenário da harmonia pálida de
determinadas famílias e que colocam para fora, tanto os seus preconceitos, como
também o cansaço de se manter uma realidade insustentável. Fala Comigo é o mais
novo filme dessa tendência que, se por um lado, não possui as mesmas proporções
avassaladoras dos filmes aqui citados, pelo menos segue a tendência do que já
está estabelecido.
Dirigido por Felipe
Sholl (HOJE), acompanhamos a história de Diogo (Tom Karabachian), filho da psicóloga Clarice (Denise
Fraga), que decide telefonar para as clientes de sua mãe, para ouvir as suas
vozes e se masturbar durante o ato. Numa dessas ligações, começa a ter uma
forte atração pela paciente Ângela (Karine Teles de A Que Horas ela volta?),
da qual sofre pelo fato do seu marido tela abandonado. Não tarda para que ambos
acabem se conhecendo, iniciando uma ardente relação, mas que acabam sofrendo a
resistência e o preconceito por parte dos pais de Diogo.
Embora a trama não tenha
certa originalidade, o filme ganha nossa atenção, graças aos seus
desdobramentos da trama e dos quais obtém a nossa atenção do começo ao fim. Mesmo não sendo um veterano no ramo da direção, Felipe Sholl consegue passar segurança na direção,
principalmente em momentos dos quais se exige certo grau de sensibilidade,
principalmente com relação ao mundo dos jovens que a recém estão se
descobrindo. Além disso, o cineasta consegue extrair o melhor desempenho de
cada um dos envolvidos, ao ponto de conseguir nos passar toda a confusão
psicológica e mudanças da vida em que os seus personagens estão passando.
Se Denise Fraga cumpre com louvor
novamente o seu desempenho em cena, Tom Karabachian, como Diogo, acaba se
tornando então um verdadeiro achado. Embora as ações de seu personagem possam
ofender alguns num primeiro momento, ele nos passa aos poucos todas as
transformações internas e sentimentais das quais o seu personagem passa,
sintetizando então uma representação honesta do adolescente para a fase adulta
e ganhando aos poucos a nossa simpatia. Porém, Karine Teles como Julia é a
verdadeira alma do filme.
Se em A que Horas Ela Volta?,
Teles conseguia conquistar a nossa simpatia, mesmo através de uma personagem da
qual facilmente poderíamos odiar, aqui, ela consegue nos passar toda a confusão
sentimental da qual a sua personagem vai passando desde os primeiros momentos
do filme. Ao conhecer Diogo, Julia vê nele não somente o desejo, como também
uma espécie de recomeço e o caminho para a felicidade que antes não havia sido
alcançado. Ambos os atores em cena possuem uma química contagiante e fazendo
com a gente tenha o desejo de torcer por eles.
Nesse quadro então
apresentado a nós, a personagem de Karine Teles seria uma representação dos
novos tempos, das quais ela não se vê impedida pelas amarras dos falsos bons
costumes ainda existentes em nosso mundo contemporâneos. Já a personagem de
Denise Fraga seria a resistência, não só com a intenção de querer proteger o
seu filho, como também em ainda acreditar no valor de se manter a família intacta,
mesmo quando ela já se encontra em frangalhos. Se o politicamente correto surge
aqui para frear os desejos do casal central, ao mesmo tempo, o roteiro deixa
claro quando essa lei criada pelos bons costumes se torna então hipócrita e que
nada mais serve além de somente impedir das pessoas realmente serem felizes.
Embora os seus minutos
finais se tornem um tanto que previsíveis, Fala Comigo é um filme que levanta as
bandeiras da sensibilidade e tolerância e das quais precisamos tanto hoje em
dia.
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