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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 4 de julho de 2017

Cine Especial: Cinema Independente Brasileiro Hoje: Parte 4



 Nos dias 08 e 09 de Julho eu irei participar do curso Cinema Independente Brasileiro Hoje, criado pelo Cine Um e ministrado pelo crítico de cinema do jornal Zero Hora Daniel Feix. Enquanto o final de semana da atividade não chega por aqui eu irei relembrar de alguns filmes do cinema brasileiro independente que eu assisti nesses últimos dez anos.  

BRANCO SAI PRETO FICA (2015)



Sinopse: Tiros em um baile de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva.


Branco sai preto fica, o cineasta Adirley Queirós namora com o Cinema marginal dos anos 60 e 70, nitidamente se inspirando em filmes de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci (O bandido da luz vermelha e Bang bang). Aqui as regras da verossimilhança são quebradas na construção da trama: desdém aos gêneros, quadrinhos, animação, musical, cultura pop, satírico, documental, ficção, tudo misturado num imenso liquidificador e criando um sabor genuíno. Nessa salada, Queirós deixa o cinéfilo com a pulga atrás da orelha, pois a ficção e documentário se misturam a todo o momento (lembrando obras recentes como Castanha). Pegando um evento traumático que ocorreu na metade dos anos 80, na cidade satélite de Ceilândia, o cineasta quer falar sobre preconceito e a separação das classes sociais em Brasília (e o Brasil como um todo). Durante um baile funk, policiais militares saíram invadindo e atacando a socos as pessoas negras do local.
Aos gritos, a pessoa que se diz autoridade disse: "Branco sai preto fica". Entre os sobreviventes, acompanhamos as historias de dois dos dançarinos: Marquim e Sartana. Marquim perdeu o movimento das pernas e Sartana usa perna mecânica, consequência da selvageria policial. Sonhos arruinados, os dois, na parte fictícia, criam um esquema para destruir a capital do país: lançar uma bomba "cultural", que contém músicas e outros itens que eles consideram importantes e que serão usados como arma contra o preconceito. O filme se passa em três tempos: passado (por meio das fotos e matérias de época, além da narração off e depoimentos), presente ( a vida atual dos dois sobreviventes, que moram em Ceilândia e sofrem com a questão da pobreza e do fato de serem deficientes físicos.) e futuro (um  vingador vem do futuro para colher registros que comprovem a violência criada pelos policiais).
É justamente na parte ficção científica em que o filme nos puxa certas risadas e ganha atenção total do cinéfilo: de uma forma bem simples tecnicamente, mostra um dialogo através de um telão, sendo que esses momentos remete o clássico seriado Jornada nas Estrelas. Mostra uma viagem pelo espaço usando trilhos do metrô e um quiosque metálico onde o personagem viaja pelo tempo. Ame ou odeie o filme, uma coisa não há como negar de forma alguma: a coragem do cineasta em querer fazer o seu filme, da sua maneira e sem se intimidar com as suas consequências.
Tendo a segurança pelo que faz, apenas pela paixão de gostar naquilo que está criando, se inspirando numa história trágica de seus protagonistas, em meio a uma trilha que remete os bons tempos dos bailes funk, para não dizer de uma época que se tornou mais dourada conforme os anos passam. 

Orestes (2015)



Sinopse:A filha de uma militante política traída e executada, uma defensora da pena de morte e uma enfermeira que lida diariamente com o resultado da violência são alguns dos personagens que se confrontam nesta reflexão sobre os mecanismos da justiça.

Atualmente a resposta dos brasileiros contra o crime tem sido muito agressiva, aonde muitos desejam até mesmo a morte de bandidos através do linchamento. Esse assunto, por vezes, se manifesta em alguns casos, como quando ocorrem confrontos entre policiais e (supostos) criminosos e é então quando entra em cena reflexões sobre o que ocorreu realmente nos tempos da ditadura. No mais novo filme de Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come), Orestes constrói um cenário entre ficção e realidade para voltar no assunto com todo o seu lado complexo do decorrer do tempo.
Inspirado na tragédia Oréstia de Ésquilo com o caso do Cabo Anselmo, agente infiltrado que colaborou para a morte de vários militantes nos anos 1970, entre eles sua companheira Soledad Viedma, o filme estabelece e enlaça outros assuntos similares do passado, presente e cria um mosaico de inúmeros debates e reflexões para serem digeridas gradualmente. Das inúmeras opiniões colocadas na mesa, vários envolvidos com a discussão, basicamente divergem de uma defensora de vitimas da violência que procura explicar de uma forma franca os sentimentos de vingança com o discurso de proteger os inocentes contra os bandidos que devem ser punidos severamente. Nesse ponto, o filme escancara os movimentos de grupos que praticam justiças com as próprias mãos e que acreditam estar acima de qualquer pessoa para praticar tais atos.
Em situações que exploram o lado emocional, as sessões de psicodrama envolvem os mesmos protagonistas, com destaque para a filha de Soledad e suas dores com relação a dúvidas quanto a sua paternidade. No nível jurídico, um julgamento fictício protagonizado por dois advogados põe em debate a culpabilidade de um Orestes fictício que, é baseado no caso de Anselmo e Soledad, e por extensão o perdão aos torturadores facultado pela Lei da Anistia. As cenas filmadas de São Paulo, aonde focam um  urubu voando  e depois por um helicóptero policial representam esse assunto e transformam num verdadeiro  estudo sobre as pulsões latentes na sociedade do passado e de hoje.
Em certo momento do longa, um dos personagens, sobrevivente da ditadura, diz: “Tive que procurar ajuda profissional para arrumar minha cabeça porque eu ia pirar. A questão não era o torturador que me machucou. É o torturador que tinha dentro de mim”. Os padrões de comportamento que são repetidos podem também ser fruto do que em psicologia chamamos de reforço positivo. Aquele que é achacado, assim que mudar de posição, não perderá a chance de dar o troco.
Nesse particular, Rodrigo, que dirigiu e escreveu o documentário, faz importante crítica à Lei da Anistia, que ao perdoar os crimes, chancela a impunidade e deixa livre a possibilidade de que os tais padrões de comportamento continuem acontecendo. A revisão da lei da Anistia proposta pela OAB foi rejeitada pelo STF, ainda em 2010, sob a justificativa de que, “devemos olhar para o futuro não para o passado”, nas palavras de Marco Aurélio Mello. A instância máxima da Justiça falava em transição democrática pacífica. O perdão aos torturadores trouxe uma carga emocional fortíssima para os violados e não propiciou a transição. Ainda vivemos em uma ditadura. Mas as vítimas e os motivos mudaram.
Embora sendo exibido num circuito restrito, Orestes é um documentário para ser visto por todos, onde nós coloca  de frente com o melhor e o pior de nós e resta somente você descobrir quais desses dois lados você mais alimenta.


ELA VOLTA NA QUINTA (2016)



Sinopse:Grave crise no relacionamento de um casal de idosos afeta a rotina dos filhos, dois rapazes que se preparavam para finalmente saírem de casa.

Ela Volta Na Quinta reitera uma das características já marcantes do diretor mineiro André Novais Oliveira, estreante em um longa-metragem (de seu curta-metragem anterior): a de extrair uma extrema naturalidade ficcional da convivência com a própria família. Por orçamento reduzido, o diretor utiliza-se do núcleo parentesco a fim de baratear custos e "confundir" o espectador entre paralelismos da realidade, documentário, fantasia e verdade. Dona Zezé e seu Norberto, como protagonistas de uma crise conjugal após quase quatro décadas de casados. A crise da relação, suas causas e consequências, são fictícias.
Contudo, o trato entre os membros da família, tiques adquiridos após muitos anos de convivência, permanecem. O que eles trocam em cena é resultado de uma intimidade intrínseca a todos. Novais vai usar dessa relação já firmada entre ele, seus pais, o irmão e a namorada para criar um roteiro diferente à vida de cada um. Faz isso com uma coragem que é compartilhada por todos os membros envolvidos no processo. Faz isso também do lugar de fala de um cineasta negro classe média morador de uma grande cidade.
E partindo de todos esses pontos, ao escrever uma história sobre o fim da relação, ele vai justamente fazer um filme bem afetuoso. Essa construção fantasiosa da memória começa já nas primeiras imagens do filme. Uma sequência de fotos desbotadas que revela os primeiros anos de namoro entre Zezé e Norberto, o nascimento do primeiro, segundo filho, os ambientes domésticos, o cachorro que os irmãos tinham na infância. 
Na trilha, o soul de Cassiano, cantor por sua vez esquecido-se da memória musical brasileira. O ponto de partida pressupõe, portanto, que o casal protagonista vem de anos de uma relação amorosa e que aquela família viveu plenamente a experiência da ternura. E tudo isso parece ser, eis a palavra perigosa, verdade. Corta para a imagem da mãe olhando a janela, colocando a mão sobre a cabeça e caindo no chão. Logo depois, num plano dentro do quarto do casal, onde dona Zezé e seu Norberto se deitam após trocarem algumas palavras desinteressadas entre eles. Os conflitos estão dados.
A câmera, importante frisar, não está ali para ser uma observadora documental, sua posição assume quase sempre esse ponto de partida fictício, colocada próxima e rente aos personagens, bastante cientes de sua presença. Novais conta uma história desse núcleo familiar inventado no compasso paciente e manso que parece ser próprio da família “real”. Filma não somente a interação dentro do espaço compartilhado por seus pais, como também pequenos extratos do cotidiano dos dois filhos, sendo um deles o próprio diretor, e seus respectivos núcleos de relações afetivas e conflitos (conversam sobre preço de aluguel e trânsito na cidade de Belo Horizonte, o jovem casal que debate sobre ter ou não ter filho antes de adquirir uma casa própria, os passeios de fim de semana).
O filme nos convida a todo o momento para se sentir a vontade na sala de estar desses cidadãos que, gradualmente, se tornam mais e mais próxima. É incrível o trabalho de direção de Novais ao conseguir, usando de todos os privilégios e desvantagens de sua proximidade com seus atores, extrair deles uma projeção natural de seus discursos, quebrando como que por mágica aquela conhecida relação intimidadora provocada por essa máquina pesada do olho gigante que é a câmera. Os diálogos partem de ideias roteirizadas, mas nunca engessadas. O diretor risca o fósforo e deixa o fogo queimar no seu ritmo. Com isso, consegue fazer com que o fluxo das conversas seja absolutamente espontâneo, o que facilmente se pode confundir com o cinema documental. Não é.
A história da vida reservada dessa família é também a história do direito à ficção, da memória marcadamente inventada, de poder usar as construções simbólicas da realidade para desafiar a ideia de que existe, de fato, alguma realidade. O uso da música a pontuar toda essa construção no filme é também bastante significativo na medida em que é por ela muitas vezes que sublimamos o real e emolduramos nossas vidas em versos alheios.


A Vizinhança do Tigre (2016)



Sinopse: Os jovens Juninho (Aristides de Souza), Eldo (Eldo Rodrigues), Adilson (Adilson Cordeiro), Menor (Maurício Chagas) e Neguinho (Wederson Patrício) são moradores da periferia de Contagem e vivem divididos entre o trabalho e a diversão, o crime e a esperança. Para sobreviver à luta de cada dia, eles terão que domar o tigre que mora dentro de si.

Vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2014, A Vizinhança do Tigre é uma experiência curiosa, mas jaz familiar, pois é uma espécie de documentário/ficção, algo que está sendo bastante visto nos filmes nacionais desde Castanha. O diretor Affonso Uchoa entra nesse mundo particular do bairro Nacional, região pobre de Contagem de MG, e revela o dia a dia de jovens daquele cenário. Observador com a sua lente, cineasta jamais interfere nas situações que acontece na sua frente para nascer então o nascimento da narrativa de uma forma realística, passando então a impressão precisa das rotinas de cada um dos personagens, sem que a câmera faça com os momentos soem falsos ou até mesmo ensaiados.
O filme somente sofre com uma falta de ritmo no princípio e talvez venha a frustrar aqueles que esperam uma conclusão para a trama, o que não acontece, já que tudo fica em aberto e deixando a imaginação do cinéfilo se abrir após o término da sessão. Contudo, fica lógico para os nossos olhos que não há finalização para tais personagens, pois tudo que resta para eles é continuarem em frente e ver o que acontece. Porém, infelizmente a vida que eles levam possa levá-los para caminhos sem volta, como deixa muito claro nos créditos com relação ao destino de um dos personagens.
Juninho, Eldo, Adilson, Menor e Neguinho são cinco garotos que vivem em dificuldade e sonham com uma possível, embora distante vida melhor. Eles sempre se encontram divididos entre o trabalho e o lazer, e entre o divertido e o perigoso. O longa traz momentos inesquecíveis de situações corriqueiras, como dois deles conversando sobre as fotos da mãe em um celular ou outros roubando bergamotas da árvore do vizinho ao lado.
Uchoa não rotula seus personagens, mas também não procurar criar uma luz no universo do qual eles vivem. Ele retrata o principio do submundo do tráfico e ainda mostra a forma comum como um jovem brinca com uma arma. É um momento simples, porem chocante pelo fato de eles tratarem o objeto como se fosse um simples brinquedo.
Em um cenário de muita miséria, o técnico responsável pela fotografia opta em retratar o ambiente de uma forma mais nua e crua possível. O trabalho de câmera é sem duvida o ponto forte aqui, já que o cenário se torna uma espécie de personagem do qual eles convivem todos os dias. A câmera acompanha os personagens em meio ao ambiente e vendo até onde aqueles jovens irão ir no decorrer de suas vidas.
A vizinhança do Tigre é sobre crianças que poderiam ter uma vida comum, se não fosse pelo fato de serem obrigadas a amadurecerem precocemente e tendo que decidir entre a luz e o lado sombrio que a vida pode lhes oferecer.
  
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