Sinopse: Documentário
relembra a história do militante do Partido Comunista Brasileiro Theodomiro
Romeiro dos Santos. Ele lutava contra a ditadura já aos 14 anos e aos 18, foi
preso por matar um militar. Theodomiro é torturado e se torna o primeiro condenado
à morte no Brasil. Mas o militante consegue fugir e 40 anos depois, ele faz
novamente o percurso dessa fuga, agora na companhia do filho.
Após o golpe de 2016 (sim
foi golpe, aceitem), do qual trouxe inúmeros retrocessos para o nosso país, o
cinema, por sua vez, vem cada vez mais vai tendo um papel fundamental, para
abrir os olhos daqueles que acreditaram que eram patriotas só por terem saído pelas
ruas protestar de forma cega, com a camisa da seleção brasileira e ter caído na
lábia de uma imprensa comprada. Se por um lado existem aqueles documentários
que defenderam impeachments da ex Presidente Dilma (como o dispensável Impeachment:
O Brasil nas Ruas), existe também aqueles que buscam realmente a verdade, tanto
sobre passado, como também sobre o presente e não esconde nada com panos quentes. Aliás,
é através do passado que a cineasta Emilia Silveira decide explorar uma das
figuras presentes dentro da história do primeiro golpe e do qual sofremos em nosso
país na década de sessenta.
O documentário Galeria F explora a
vida de Theodomiro Romeiro dos Santos, primeira pessoa do Brasil a ser condenada
a morte no século vinte. A sentença veio pelo fato de Theodomiro ser um
militante socialista na época e que, ao defender a vida de seus colegas devido
a uma repressão militar, acabou tendo que matar. Porém, Theodomiro escapa da
prisão e quarenta anos depois decide revisitar o percurso de sua fuga e ao lado
do filho.
O filme já começa com
um exemplo de como será a obra como um todo, onde vemos Theodomiro, ao lado de
sua família, revendo fotos do passado e das quais se encontram até mesmo momentos
do qual se encontrava na prisão. Emilia Silveira aproveita para escutar os relatos
do seu protagonista, entrelaçando-os com imagens de arquivo e dos quais nos faz
facilmente adentrarmos num dos períodos mais difíceis de sua vida. Ao lado do
seu filho, ele adentra ao cenário do qual ele permaneceu preso, mais
precisamente na galeria F de uma prisão, que mais parece um pequeno coliseu e
do qual sofria torturas e humilhações.
Apesar de revisitar
certos lugares, dos quais lhe faz relembrar de momentos dolorosos, Theodomiro
surpreende por manter sempre o bom humor. Ao lado de companheiros da época,
sendo muitos também militantes, o filme ganha um tom leve, mesmo perante em situações
pesadas e das quais eles descrevem em detalhes. O ápice do documentário é
quando Theodomiro relata sobre os poucos momentos que eles pegavam sol fora da
prisão e que, ao invés de aproveitarem esse momento, eles se uniam em círculos e
debatiam o que fariam mais pra frente fora da prisão.
Curiosamente, é
interessante observar o papel da imprensa naquela época e que, embora asfixiada
pela censura, procurava compreender nas entrelinhas quem era esse foragido da
justiça e do qual atraia cada vez mais curiosos. Não demorou muito para
Theodomiro ganhar aliados, sejam da imprensa, políticos ou cidadãos comuns, que
viam nele a imagem da resistência perante a intolerância de um governo golpista
daquele tempo. Pode-se dizer que esses elementos colaboraram para que
Theodomiro obtivesse uma chance maior para sua fuga, mas que não impediu que
atravessasse um verdadeiro calvário, principalmente pelo fato da sentença a
morte sempre ter ficado lhe assombrando.
Em sua reta final, a
cineasta Emilia Silveira coloca então o protagonista na sela da qual ele viveu
os seus principais tormentos. Transitando entre as cenas de hoje, com as
fotografias da cela daquela época, sentimos então o fim do calvário de
Theodomiro, mas do qual as cicatrizes, tanto físicas como nas lembranças permanecem
como registro. Ao rever esse passado, o protagonista não busca então vingança,
mas sim tenta nos fazer compreender o quão é doloroso ter participado de uma
causa, mas que valeu muito a pena.
Galeria F é um dos muitos documentários
brasileiros que virão futuramente, sendo o cinema da resistência e do qual não
medirá esforços para nos mostrar a realidade que o país passou e que está
passando atualmente.
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