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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Eu Não Sou Seu Negro



Sinopse: O escritor James Baldwin escreveu uma carta para o seu agente sobre o seu mais recente projeto: terminar o livro Remember This House, que relata a vida e morte de alguns dos amigos do escritor, como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Junior. Com sua morte, em 1987, o manuscrito inacabado foi confiado ao diretor Raoul Peck.

Por mais que a “Era de Ouro do Cinema” represente o melhor da sétima arte americana, sempre me incomodei com o fato de muitos daqueles filmes (com exceção de Vinhas da Ira de John Ford) não retratassem a verdadeira realidade do período, mas sim uma fantasia plástica e vendida para todos que vivessem por lá e que comprassem essa ideia cegamente. “A terra da liberdade”, ou “da oportunidade”, era vendida a exaustão, tanto no cinema como na TV, mas camuflando o lado mais cru sobre o que realmente acontecia nas ruas, principalmente nas décadas de 60 e 70. Em Eu Não Sou Seu Negro, o lado plástico dessa fantasia é posta em cheque, quando o documentário solta na tela a realidade dura de um negro que vive em numa sociedade que se diz livre, mas que vale somente para as pessoas belas, de pele clara e que são de acordo com a realidade plástica que é vendida para eles pela mídia.
Dirigido por Raoul Peck, acompanhamos uma trama em narração off (voz de Samuel Le Jackson), onde ouvimos as palavras que haviam sido escritas pelo escritor James Baldwin, cujo o seu manuscrito era para ter se tornado o seu mais novo livro em solo americano e que relataria eventos fatídicos do qual ele próprio testemunhou. Vitima de câncer em 1987, Baldwin não viria o seu livro ganhar a luz do dia, mas o seu manuscrito acabou parando nas mãos de Raol Peck, sendo que o cineasta já era um grande fã do escritor quando ele havia lido o livro The Fire Next e que, segundo ele, mudaria a sua vida. Com o manuscrito em mãos, Peck não só joga as palavras de Baldwin na tela, como também faz com que elas se casem com registros históricos de um período onde os EUA viviam em protestos pelos direitos civis e que a terra de liberdade só se encontrava em palavras, mas não nas ruas.
Vivendo na França, Baldwin decidiu retornar para os EUA quando a comunidade negra começou a sair às ruas e protestar pelos seus direitos e viverem como iguais ao lado dos brancos. Como observador, o escritor testemunhou avanços, como no caso de uma jovem negra se tornando a primeira a ir numa escola formada por brancos, mas também retrocessos, como, por exemplo, vendo a mesma aluna negra sendo hostilizada por jovens brancos que se dizem donos da terra onde eles pisam. No decorrer de sua encruzilhada, Baldwin foi conhecendo os que viriam a ser seus amigos, sendo justamente Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Junior, sendo homens com ideias diferentes, mas que no fim da trincheira começaram a lutar pelo mesmo ideal.
Num trabalho de quase dez anos, Raol Peck conseguiu material de arquivos valiosos, cujas fotos, cenas de vídeo e depoimentos sintetizam um período onde a sociedade americana era praticamente dividida unicamente pela diferença da cor da pele e gerando então protestos, prisões, mortes e revelando a verdadeira cara intolerante e hipócrita dos homens brancos da América. É assustador, por exemplo, ver cenas de pessoas da época pregando a liberdade, mas diziam que, a ideia da união das raças, vinha de comunistas e que desejavam a ruína do povo americano. É um momento significativo e que ecoa nos dias de hoje, principalmente aqui no Brasil, onde a guerra entre as classes devido aos últimos eventos da política colocam para fora um grau de intolerância em pleno século 21.
Mas o ápice do filme se encontra nos momentos em que James Baldwin surge em cena. Com cenas de arquivos, onde o escritor deu palestras e entrevistas pela TV, Baldwin passa um olhar doce, mas que não esconde as marcas da dor, não física, mas emocional, por testemunhar os horrores que o preconceito causou, não só contra a sua pessoa, como também de pessoas próximas a ele. Ao testemunhar a queda de Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Junior, Baldwin se vê numa encruzilhada como observador, crítico, talvez um tanto cético, mas que no fundo não perde as esperanças por um futuro melhor.
Um dos melhores momentos do documentário, por exemplo, é dele cita em uma palestra a possibilidade de que em quarenta anos, mesmo com a ideia sendo remota para aquele período, de que um negro assumisse a presidência dos EUA. Se estivesse vivo, o escritor com certeza ficaria maravilhado se tivesse testemunhado Barack Obama assumindo a presidência em 2009, mas ao mesmo tempo, se entristecendo ao ver Donald Trump assumindo posteriormente e soltando discurso retrógrado e intolerante. Sendo assim, o documentário de Raol Peck é um retrato de um passado nebuloso, mas que, infelizmente, certas mazelas daquele período ainda persistem em sobreviver nos dias de hoje.
Assim como o recente 13ª Emenda, Eu não sou o seu negro é um filme obrigatório para ser visto e revisto, independente de sua cor, crença ou partido político.     




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