Sinopse: Cataguases, Minas
Gerais. Luzimar e Gildo são amigos de longa data e acabam se reencontrando após
muitos anos. Na véspera de Natal, os dois têm a chance de relembrar histórias
do passado e acertar assuntos mal resolvidos.
Desejo e raiva reprimidos
podem andar juntos, principalmente quando determinados assuntos ficam pendentes
durante anos. Por mais que domamos os nossos demônios interiores, por vezes, há
de nós termos que enfrentar os nossos próprios erros do passado. O mais novo filme
brasileiro Redemoinho trata desse assunto e muito mais, principalmente pelo
fato de conseguir o feito de fazer com que nos identifiquemos facilmente com a
trama.
Depois de anos trabalhando
na TV, em obras como a mini série Justiça, José Luiz Villamarim finalmente
decide embarcar na direção de um filme para o cinema, do qual o resultado é um
filme autoral e que merece todo o respeito. A trama se passa numa cidadezinha
simples de Minas Gerais, onde vemos o trabalhador de tecelagem Luzimar (Irandhir
Santos, ótimo como sempre) se reencontrar com o velho amigo Gildo (Júlio
Andrade), que está de passagem pela cidade e ambos decidem passar o resto da
tarde juntos. No decorrer de uma conversa e outra, ambos começam a relembrar do
passado e tocando em assuntos espinhosos há muito tempo não discutidos.
Embora a premissa possa
parecer simples num primeiro momento, o cinema de José Luiz Villamarim faz toda
a diferença, já que a câmera se torna uma terceira pessoa que acompanha dupla
em sua encruzilhada pela cidade. Mais do que planos sequências que surgem a
todo o momento, como quando ambos visitam um campinho de futebol, a câmera do
cineasta faz com que nos tornemos o observador que fica na defensiva, como se quiséssemos
apenas observar, mas sem se intrometer com os eventos que virão a seguir. É
algo similar com que já vimos em filmes como o húngaro O Filho de Saul que,
embora em proporções menores, o resultado é similar e eficaz.
Uma vez a gente se tornando
a terceira pessoa (ou observador) da trama, ficamos sem reação perante as ações
imprevisíveis, tanto da dupla central, como também de figuras que moldam aquela
pequena cidade. Basicamente o filme oscila entre o drama, suspense e fazendo
com os seus personagens tenham as suas redenções, mesmo quando elas não aparentem
uma conclusão. Numa realidade onde opressão e o medo da verdade assombram os
seus habitantes, o filme não prega para que a gente julgue esses personagens,
pois eles mesmos já se julgam internamente devido as suas escolhas, por vezes, impensadas.
Embora com momentos finais
que dão certo alivio para aqueles que assistem, Redemoinho é um verdadeiro soco
no estômago por saber criar um reflexo de nossa sociedade, por vezes, oprimida
e cada vez mais perdida em seu dia a dia.
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