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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: RIO CIGANO



Sinopse: Durante uma viagem, os ciganos se vêem obrigados a atravessar a fazenda de uma Condessa. São expulsos de lá e em meio ao tumulto da fuga, a menina Reka se perde do grupo e é raptada. Ela é criada no casarão da fazenda como servente da condessa que, obcecada em não envelhecer, suga e destrói tudo à sua volta. Reka cresce absorvida pelo trabalho e se agarra às poucas lembranças de sua antiga vida. Kaia, por sua vez, vive ao lado de sua família, até que deixa o acampamento em busca de Reka.

Num primeiro momento, esse filme rodado pela cineasta Julia Zakia pode causar certo estranhamento e até mesmo enganar o cinéfilo que assiste num primeiro momento. Com uma câmera sempre em movimento, assistirmos o dia a dia de um grupo de ciganos reais e dando a sensação de estarmos até mesmo assistindo a um documentário. Essa fórmula realidade/ficção já é algo muito usado no nosso cinema recente como foi visto em Castanha.
Porém, quando já estávamos mais do que prontos para assistirmos a esse tipo de filme, a cineasta Zakia coloca a sua verdadeira proposta na mesa e fazendo com que tudo que a gente esperava do filme fosse descartado rapidamente. É nesse momento que surge Baka (Leuda Bandeira), uma feiticeira cigana, e imediatamente começa a contar sobre a lenda de mulheres lobas para duas jovens que se tornarão as verdadeiras protagonistas da trama. Kaia (Sielma Ferraz) e Reka (Ciça Ferraz) entram em cena e o filme se transforma numa espécie de conto de fadas gótico, o que é algo raro visto em nosso cinema.
Embora o universo cigano seja misterioso, e por vezes difícil de compreender as suas reais origens, Zakia usa a trama central de uma forma que beira ao simplismo, para então criar um universo cheio de camadas, das quais elas possuem regras próprias e que se diferem do nosso mundo real. Na trama principal, um grupo de ciganos decide passar por umas terras de uma estranha Condessa (Georgette Fadel), mas que acaba entrando em desavença com o Conde (Ricardo Puccetti) e seus lacaios. Nesse conflito, Reka se separa dos seus pais acidentalmente, sendo então pega pela Condessa e que suga a sua juventude.
O tempo passa, e Reka assume a sua forma adulta (vivida pela própria cineasta), mas é mantida presa e feita de criada pelos donos da fazenda. Filmado em Alagoas, mas também no interior de São Paulo e outras regiões, Zakia cria um lugar do qual é completamente indefinido e fazendo com que imaginemos onde se passa realmente a trama. Isso serve para que o lado fantasioso se fortaleça na trama e fazendo dela ser livre e ter a possibilidade de ter se passado em qualquer lugar do país ou até mesmo fora dele ou dessa realidade.
A bela fotografia de Adrian Cooper cria um verdadeiro show de beleza para os nossos olhos, onde se cria um contraste das cores quentes desse mundo cigano se comprado a realidade do sertão alagoano. Em um trabalho em que o lado visual se destaca como um todo, Zakia prova o seu talento para a criação de imagens poderosas e carregadas de inúmeras interpretações. Isso somente aumenta quando a trama se envereda cada vez mais para o gênero de horror, cujo barroco e o gótico se casam de uma forma perfeita.
É claro que o cinéfilo de carteirinha irá perceber que a trama tem muitos elementos que lembram um clássico da Hammer intitulado a Condessa de Drácula que, por sua vez, foi inspirado na história húngara Elizabeth Báthory, que no século XVI ficou conhecida como “A Condessa Sangrenta”, devido a inúmeros assassinados que teria cometido em rituais macabros, realizados para lhe garantir a beleza eterna. Essa lenda é inserida em Rio Cigano e fazendo com que a cineasta crie alguns momentos de horror intrigantes e que não devem em nada ao que a gente já viu dentro do gênero. O velho casarão, por exemplo, não deve em nada se comparado aos casarões ingleses vistos nos filmes de horror do estúdio inglês Hammer. 
Porém, o misticismo do mundo cigano é que prevalece no longa como um todo e retratado pela cineasta de uma forma que beira ao vicio. Destacando as suas músicas e costumes, a cineasta cria closes nos rostos dos personagens, onde se percebe que cada uma de suas marcas na pele possui uma história para se contar. Por sua vez, o foco fica em torno das duas jovens protagonistas, ou até mesmo nos símbolos dessa misteriosa cultura de andarilhos da terra.
Mesmo que a trama possa parecer fora do convencional para alguns, o conto que a cineasta criou mantém um encantamento que dificilmente você não deixa de se envolver. Embora os cinéfilos gaúchos, por exemplo, já estejam acostumados a ver filmes de horror brasileiro pelo festival anual Fantaspoa, é curioso observar que, quando vemos um filme como esse, ainda nos dá a sensação de novidade para nós. Nunca é demais o nosso cinema sair de um lugar comum e adentrar em gêneros dos quais ainda tem muito a ser explorados. 
Rio Cigano é apenas uma mostra de um cinema brasileiro rico de histórias do gênero fantástico, mas que ao mesmo tempo possui uma pitada forte da nossa cultura e folclore a serem descobertos. 
  
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