10º) Macunaíma (1969)
Sinopse: Macunaíma é
um herói preguiçoso, safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e de
negro (Grande Otelo) virou branco (Paulo José). Depois de adulto, deixa o
sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade,
conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões
milionários, policiais, personagens de todos os tipos. Depois dessa longa e
tumultuada aventura urbana, ele volta à selva. Um compêndio de mitos, lendas e
da alma do brasileiro, a partir do clássico romance de Mário de Andrade.
A relação mais
concreta entre a chanchada e o filme de Joaquim Pedro de Andrade está na figura
de Grande Otelo, grande comediante dos filmes da Atlântida. É, contudo, no
humor e na malandragem dos personagens que reside uma relação muito mais forte
e interessante. Há um narrador que encaminha a história, nos elucida em seus
pontos obscuros, nos ajuda nesse primeiro momento em que Macunaíma segue os
seus instintos e lida com as coisas conforme as encontra. Como (super) herói,
seu maior poder acaba ser o de se adaptar às condições, seja fisicamente
(metamorfose em príncipe, branco/negro) seja na sua atitude.
Macunaíma é um herói
volatil, imoral, sua única característica imutável é o seu caráter, a lei maior
de sempre levar vantagem. A ida de Macunaíma para a cidade não é motivada, se
norteia pelo senso comum do êxodo rural, tão retratado num primeiro período do
Cinema Novo. Chega num pau-de-arara e irá se deslumbrar com a cidade, mas logo
irá encarar o novo contexto da mesma forma que o mato. Macunaíma parece até
tratar com um certo desdém as coisas da cidade, as coleções de Ci, as coleções
do gigante. Sua motivação só surgirá com a morte de Ci, seu único interesse por
um item colecionável é pelo Muiraquitã, por ter um motivo sentimental para ele.
Mas isso não faz de
Macuinaíma um anticapitalista. O malandro se adapta facilmente à cidade por
mimetizar o estilo de vida urbano, tarefa fácil: basta comprar umas roupas,
carregar uma guitarra, fingir que é hippie. Num outro nível, a antropofagia-
capitalista é comum aos dois mundos, um devora o outro em todo lugar. O final
triste revela como discurso maior do filme o das relações de poder. Há uma
impossibilidade de o malandro gerar qualquer continuidade, produzir qualquer
permanência ou concretude. Todas as relações do filme são destruidoras
(capitalismo antropofágico), onde o ganhar ou perder diferenciam- se apenas
pelo momento em que ocorrem.
11º) CENTRAL DO
BRASIL (1998)
Sinopse: Dora
(Fernanda Montenegro) é uma mulher que trabalha na estação Central do Brasil
escrevendo cartas para pessoas analfabetas; uma de suas clientes, Ana (Soia
Lira) aparece com o filho Josué (Vinícius de Oliveira) pedindo que escrevesse
uma carta para o seu marido dizendo que Josué quer visitá-lo um dia. Saindo da
estação, Ana morre atropelada por um ônibus e Josué, de apenas 9 anos e sem ter
para onde ir, se vê forçado a morar na estação. Com pena do garoto, Dora decide
ajudá-lo e levá-lo até seu pai que mora no sertão nordestino. No meio desta
viagem pelo Brasil eles encontram obstáculos e descobertas enquanto o filme
revela como é a vida de pessoas que migram pelo país na tentativa de conseguir
melhor qualidade de vida ou poder reaver seus parentes deixados para trás.
Naquele ano (1998)
fazia um tempo que uma produção nacional não desfrutava de tamanha visibilidade
internacional. Um Road Movie sentimental de impressionante eficácia, a partir da
amizade entre uma mulher que busca uma segunda chance e um garoto que quer
procura suas raízes. Apesar de dramaticamente simples, o longa é cuidadoso,
arcabouço de emoções calculadas e imagens poderosas, diálogos enxutos e grandes
interpretações. Entre os mais de trinta prêmios arrebatados, destacam-se o Urso
de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda
Montenegro, conquistados no festival de Berlim
de 1998, e o globo de ouro de 1999 de melhor filme estrangeiro.
Além disso, recebeu duas
indicações ao Oscar, de melhor filme estrangeiro e de melhor atriz. Montenegro,
em uma incrível e sutil caracterização, foi à primeira atriz latina americana a
ser indicada ao Oscar de melhor atriz. Um feito histórico. Me sigam no Facebook, twitter e Google+
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