Sinopse: “A Nação Que Não
Esperou Por Deus” foi filmado no Mato Grosso do Sul, onde os cineastas Lucia
Murat (Quase Dois Irmãos) e Rodrigo Hinrichsen mostram o impacto da chegada da
eletricidade na região em paralelo aos impasses decorrentes de conflitos com
pecuaristas, que invadiram parte de uma reserva.
Em certa ocasião nas
minhas idas e vindas nas sessões de cinema, eu havia assistido um documentário
que, infelizmente me falha a memória do titulo da obra, em que revelava certos
projetos de leis sem fundamento do nosso país, mas que felizmente que não foram adiante. Em um deles
(surgidos nos anos 20 ou 30) mostrava a tentativa do governo em retirar os índios
de suas terras e fazer com que eles se misturassem com a sociedade. Embora aparente,
num primeiro momento, uma forma de criação para um bom convívio entre as raças,
na realidade o projeto era inviável, pois no final das contas fazia com que o índio
desvencilhasse de suas raízes e isso me veio à tona ao assistir a esse mais novo
filme de Lúcia Murat (Quase dos Irmãos).
Mesmo correndo o risco
de ser esquecido pelo grande público, o documentário dirigido por Murat se
aprofunda num ponto de nosso país que a maioria desconhece, mas que nunca é tarde
para ser descoberto. Filmado no Mato Grosso do Sul, o filme explora a mudança drástica
quando se chegam a energia elétrica na reserva indígena Kadiweu e que,
infelizmente junto com ela, veio o estabelecimento de cinco igrejas evangélicas
no território. Ao mesmo tempo, surgem inúmeros impasses devido aos conflitos
com os pecuaristas que, infelizmente, invadiram parte da reserva.
De uma forma simples,
focando inúmeros depoimentos para a câmera, sendo alguns momentos de narração
protagonizados pela diretora, o documentário começou como ideia surgida em
1997, quando a cineasta conheceu pela primeira vez os índios Kadiwéus para a
criação do filme Brava Gente Brasileira. Fora isso, ela e o diretor Rodrigo
Hinrichsen gravaram momentos distintos dos indígenas em três momentos preciosos
ao longo de 17 anos, o que colaborou para registrar a saga da tribo durante um período
de mudanças, que por vezes parecem irreversíveis, pois o contato com o homem
branco somente aumentava.
Um dos momentos
chaves dessa intervenção de pessoas de fora, é registrado pelo documentário no
momento em que acontece uma reunião entre representantes de tribo com os
pecuaristas locais sobre a questão da posse da terra. É nesse momento em que é destrinchado
o preconceito e a mentalidade atrasada vinda dos pecuaristas, que se acham entendedores
e donos de tudo. Além de por na mesa esse conflito e a forte influencia do
conservadorismo estúpido vindo dos evangélicos, os cineastas puderam também criar uma espécie de painel de
ontem e hoje, aonde mostra os índios mantendo suas antigas tradições, mas não
escondendo o fato de já usar certos recursos da civilização, como veículos, mídia
e até mesmo a forma contemporânea de se vestir da cidade grande.
A nação que não
esperou por Deus é um filme que merece ser visto e revisto por todos, pois é
uma obra que registra a luta de um povo em manter as suas terras e tradições,
mesmo aparentando estarem a beira de uma extinção iminente.
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