Nos dias 30 e 31 de Maio eu estarei participando do curso História do Cinema Gaúcho, criado pelo Cine Um e ministrada pela Doutora, jornalista e professora Miriam de Souza Rossini. Enquanto os dois dias da atividade não chegam, estarei postando por aqui os filmes rodados em nossa terra (de ontem e de hoje) e que eu tive o privilegio de assistir.
Ainda Orangotangos
Sinopse: Porto Alegre, no dia mais quente do verão. Um casal de imigrantes chineses cruza a cidade em um vagão de metrô. Doentes e cansados, eles tentam ajudar um ao outro, ao mesmo tempo em que enfrentam a desconfiança dos demais passageiros e a incompreensão de sua língua. O chinês vagueia pelos corredores da estação de metrô e pelo mercado público da cidade, em busca de ajuda. É o início de uma série de situações-limite vividas por diversos habitantes da cidade.
Ainda Orangotangos é
a adaptação de contos extraídos do livro homônimo do escritor gaúcho Paulo
Scott. A trama se passa ao longo de 14 horas num dia quente do verão
porto-alegrense, mostrando algumas situações de 15 personagens em um dia normal
na cidade. O diferencial do filme está na sua proposta estética, um ousado (e
bem sucedido) plano seqüência de 81 minutos (uma tomada única, sem cortes),
algo até então inédito no cinema brasileiro, feito realizado anteriormente pela
bela obra-prima Arca Russa, 2002, de Alexandr Sokurov. Vale lembrar que
Spolidoro já utilizara essa técnica no curta Outros.
O ambiente urbano é o
meio em que os personagens transitam aleatoriamente sem maiores
comprometimentos ou ações conectadas entre eles, o filme inicia mostrando a
viagem de um casal de japoneses no metrô da cidade, onde ocorre algo
inesperado, de uma forma “natural”, como senão tivesse ocorrido, e a cena ao
som de Amigo Punk (música do grupo Graforréia Xilarmônica) executada por um
pequeno conjunto de músicos que tocam talvez o “hino não-oficial de Porto
Alegre”, em versão tango-gaudério. Terminada a viagem pelo metrô, os
personagens começam a transitar entre a realidade e a fantasia.
No transcorrer do
filme, esse amálgama entre a realidade e a fantasia pode cansar um pouco o espectador, principalmente nas cenas dentro do prédio, onde uma mulher vive um
pesadelo num ambiente surreal (nesse ponto, é notada a referência ao cinema de
David Lynch, onde o normal e o absurdo caminham juntos). No mesmo prédio, porém
em outro apartamento, um casal chega de uma festa, prontos para outra
empreitada, dessa vez voluptuosa, cometendo exageros como beber perfume e
provar desodorantes.
O fato é que mesmo
com essa sensação de estranhamento, o filme não perde o ritmo, pelo contrário.
Em uma passagem anterior à chegada de uma personagem ao prédio, durante o
trajeto percorrido na viagem de ônibus, ela e uma amiga discutem a origem da
típica expressão porto-alegrense do “tri”, além de um dos pontos mais altos e
cômicos do filme: a teoria do Papa Gremista. Uma ode a um dos principais
aspectos de identidade do povo gaúcho (num plano geral), a rivalidade da dupla
Gre-Nal. E esses encontros (e desencontros) dos personagens por meio da realidade
e da fantasia fluem até o final da trama.
Analisar Ainda Orangotangos
por um viés mais crítico no sentido existencial é perda de tempo, pois a
proposta não é essa, e isso fica claro desde o começo do filme. O filme deve
ser encarado como uma forma de entretenimento, sob o aspecto de um dia normal
onde alguns habitantes e passageiros transitam por uma pequena grande cidade
(ou grande cidade pequena) expondo suas ações por meio de situações cômicas e
bizarras, através de seus instintos e impulsos humanos, levando a crer que
estes homo sapiens ainda são orangotangos.
Me sigam no Facebook, twitter e Google+
Nenhum comentário:
Postar um comentário