Sinopse: Numa península do Mar de Barents, no
Ártico, um pai de família (Aleksey Serebryakov) luta contra os desmandos de um
prefeito corrupto. Para enfrentar o político que tenta desalojá-lo, ele recorre
a um colega de Moscou.
Polícias e
funcionários corruptos, um presidente da câmara prepotente e mafioso, um
sistema judicial crítico e distante, uma igreja que abençoa isto tudo, e um
cidadão perdido nesta rede kafkiana que só tem a vodka para ajudar a esquecer o
desespero. Bem-vindos à Rússia moderna. Mas será só na Rússia? Tudo parece
muito familiar e se houvesse um banqueiro o retrato ainda mais familiar iria
parecer.
Andrey Zvyagintsev
utiliza um drama familiar (a luta inglória de um cidadão comum contra o sistema
- uma espécie de "David contra Golias") como base para efetuar uma
sátira política sem qualquer condescendência à decadente Rússia contemporânea,
asfixiada por um onipresente e totalitário Estado tirânico e corrupto. E
atira-se de pés juntos, expondo, de uma forma metafórica (os simbolismos estão
por toda a parte, inclusive no próprio titulo – uma vez que leviatã era uma
criatura mitológica que se assemelhava a um grande polvo ou baleia) e com
recurso a um humor negro e sarcástico sublime, as promíscuas e imorais interligações
tentaculares entre o poder político, judicial e religioso (não poupando,
contudo, nenhum extrato social, afinal todos fazem parte e/ou são coniventes de
algum modo, mais que não seja pela sua passividade, com a "máquina
instalada").
Estamos, portanto,
perante um filme duro e intenso (contudo, sutil), sem réstia de esperança e/ou
sem qualquer mensagem edificante (mas o mais angustiante é que este acaba por
constituir uma -quase- parábola universal). Um desmoronamento de uma Rússia, sem ética,
moral, valores ou justiça. Andrey Zvyagintsev trouxe ao cinema um irônico e
provocador retrato de uma sociedade em crise e decadência, onde o poder, a
religião, a política e as influências dominam a lei e as decisões.
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