Sinopse: Nas planícies da Anatólia, na Turquia, um grupo composto de um policial, um médico legista e um advogado conduz dois prisioneiros em busca do local onde enterraram sua vítima. Já é tarde da noite e, em meio à escuridão, eles não conseguem mais encontrar o local exato onde foi colocado o cadáver. Entre as divagações e os deslocamentos, o advogado e o médico começam a se conhecer melhor, percebendo que eles têm pontos de vista muito diferentes sobre a vida.
Ao assistir Era Uma Vem
em Anatólia no a recém reinaugurado Cine Capitolio de Porto Alegre, é de se lamentar
que quase nada veio para cá do cineasta Nuri Bilge Ceylan. Tanto CLIMAS (2006)
quanto 3 MACACOS (2008), foram obras que eu vi somente em DVD. Trabalhos que
não tiveram tanta aceitação por parte da crítica, que em geral achava seus
trabalhos ultra-estilizados. Porém, creio que depois de Era Uma Vez Em Anatólia,
vale uma conferida na obra anterior desse cineasta cheio de criatividade.
Este seu filme mais
reconhecido, com seus longos, mas preciosos 150 minutos de duração, apresenta uma
narrativa sem pressa alguma e carregada de um clima de apreensão, com a morte rondando
a trama e tornando a experiência incomum. A maior parte de sua metragem envolve
um grupo de policiais na busca e um cadáver, mas para encontrá-lo, recorrem ao possível
assassino. O corpo está enterrado em algum lugar da zona rural da cidade de
Keskin que, aliás, o lugar é belamente fotografado em scope e cada tomada
externa parece uma pintura em movimento.
A busca pelo cadáver
não é tarefa das mais fáceis durante a trama. O assassino, cujo rosto não esconde
uma vida marcada, pode estar jogando conversa fora com a polícia, como pode estar como ele mesmo diz,
confuso com relação ao local em que o corpo foi enterrado. Enquanto isso, tanto
o médico legista, quanto o promotor e o próprio homicida ganham momentos de
pausa e conversa que fazem o filme ganhar inúmeras camadas subliminares. São
momentos que acabam sendo tão inspirados quanto à cruzada deles em busca do
corpo.
Há um momento interessante,
que é quando todos os homens são hospedados na casa de um amigo em comum de um
deles e ficam pasmados com a beleza de uma linda jovem, até então a única
mulher a aparecer durante a projeção. Ela é como uma jóia escondida num território
selvagem. Era Uma Vez Na Anatólia, talvez
tenha a intenção de ser uma metáfora de seu próprio país (Turquia), dirigindo no escuro, tendo
dificuldades de desenterrar o seu próprio passado e de caminhar para um futuro
melhor, em que o país se tornaria tão moderno quanto os seus irmãos mais bem
sucedidos da Europa.
Mas para isso ainda precisam lutar contra as próprias
superstições e a falta de habilidade profissional, representado principalmente
pelos policiais despreparados com
relação ao que estão encarando. Mas o filme é muito mais do que isso. Trata-se
de uma das obras-primas desta década e que certamente merece ser revisto,
repensado e dissecado diversas vezes para melhor compreende-lo.
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