Sinopse: Alfonsina (Débora Ingrid) tem 15 anos e sonha conhecer o mar. Querência (Marcélia Cartaxo) está na faixa dos 40. Das Dores (Zezita Matos) já no fim da vida, recebe o neto após um passado turbulento. No sertão compartilham sobrenome e muitos sentimentos. Amam e desejam ardentemente.
Mais uma vez o cinema Pernambucano
provando porque é considerado o melhor do nosso cinema nacional atualmente. A
História da Eternidade ganhou os prêmios de melhor filme pelo público da 38º
Mostra Internacional de São Paulo e melhor filme, direção, ator (Irandhir
Santos) e atriz (dividido com as atrizes Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e
Debora Ingrid) no Festival Paulínia. Estreando como diretor, Camilo Cavalcante foca
a trama num pequeno vilarejo no meio do sertão que, aparentemente sem muita importância,
mas logo se percebe que ali se guarda muita história para se contar.
Basicamente a trama foca o dia a
dia de três mulheres, sendo que cada uma possui uma batalha interna particular,
onde se contem desejos, repressões e sonhos que dificilmente podem ser realizados,
mas que também não custa sonhar um pouco. Curiosamente a trama é dividida em capítulos:
Pé de Galinha, Pé de Bode e Pé de Urubu, sendo que, se nos aprofundarmos em cada uma
das partes, iremos entender que os títulos têm muito haver o que acontece nas
tramas.
Embora sendo estreante, Cavalcante surpreende na criação de cenas das quais cada uma é um verdadeiro mosaico de detalhes, sendo que cada um deles possui um significado profundo. O filme se abre com um plano sequência (lembrando que haverá mais desses planos sem cortes no decorrer do filme) onde a câmera se encontra imóvel e focando um homem embaixo de uma arvore tocando a sua sanfona. Imediatamente surge um cortejo fúnebre de uma criança que veio a falecer e assim partimos para história de uma das três protagonistas.
Embora sendo estreante, Cavalcante surpreende na criação de cenas das quais cada uma é um verdadeiro mosaico de detalhes, sendo que cada um deles possui um significado profundo. O filme se abre com um plano sequência (lembrando que haverá mais desses planos sem cortes no decorrer do filme) onde a câmera se encontra imóvel e focando um homem embaixo de uma arvore tocando a sua sanfona. Imediatamente surge um cortejo fúnebre de uma criança que veio a falecer e assim partimos para história de uma das três protagonistas.
Nada é explicitamente explicado,
sendo que a câmera somente apresenta a história, o que exige maior atenção do cinéfilo
que assiste. Aparentemente dá entender que a criança morta pertencia a Querência
(Marcélia Cartaxo), mulher que aparenta os anos em que viveu naquele lugar, se
entregando ao luto, mas que começa a receber inúmeras declarações de amor do
sanfoneiro cego (Leonardo França). Já a simpática Das Dores (Zezita Matos)
recebe a inesperada (e suspeita) visita do neto que, para nossa surpresa, sua
vinda acaba despertando desejos sexuais reprimidos dela.
Por ultimo, mas não menos importante, temos a adolescente Alfonsina (Débora Ingrid)
que possui um desejo compulsivo de conhecer o mar, mas vive presa nos afazeres
domésticos da família formada por homens, que por sua vez é comandado por um
pai conservador (Claudio Jaborandy). Porém, a garota encontra o seu refúgio
particular no universo de arte do seu tio Joãozinho (Irandhir Santos, ótimo)
que, por sua vez, faz com que ela tenha fé em visitar o mar um dia. Uma clara
referencia ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, onde os protagonistas vivem
com o desejo de se encontrar com uma parede de mar em meio ao deserto
infinito.
Além das tramas que nos encanta,
o filme é tecnicamente impecável, onde cada parte técnica cumpre o seu papel,
fazendo da obra uma sessão inesquecível. A fotografia granulada e singela de
Beto Martins que, para alguns, é inspirada nas cenas dos quadros do pintor
Caravaggio, mas a trilha sonora que, majestosamente é composta pelos
compositores Dominguinhos e Zbigniew Preisner, dá um tom dramático nas cenas e
que dificilmente a gente consegue esquecer após os momentos em que é tocado na trama.
Embora a trama gire a todo o
momento nas três protagonistas, é realmente o personagem Joãozinho que rouba a
cena. Mas isso não é muita surpresa, já que o personagem é interpretado por
Irandhir Santos (Tatuagem) considerado por muitos críticos como um dos melhores
interpretes do nosso cinema atual. Atenção para a cena em que ele dubla em meio
ao vilarejo a canção "FALA" do grupo Secos e Molhados, onde a câmera dá um giro
de 360º graus nele e fazendo da cena um dos melhores momentos do filme.
Nitidamente fazendo referências a
outros clássicos do cinema brasileiro (como Vidas Secas e Pixote), A História
da Eternidade é um filme sobre fé, sonhos e desejos que, se não são alcançados,
não significa que não podem ser sentidos.
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