O mais novo filme de Wong Kar Wai (Amor a Flor da Pele) tem dividido
bastante a critica. Eu sinceramente assisti a mais de uma semana atrás, tarde
da noite (com sono, aliás) e infelizmente não capitei muito bem qual era a intenção do
cineasta em recriar para as telas a vida do mestre que ensinou as artes
marciais para Bruce Lee (Operação Dragão). Pois bem, como eu não me dediquei 100%
à obra quando eu assisti, decidi postar aqui duas criticas de duas pessoas confiáveis
que assistiram a obra por inteiro e deram a sua opinião, confiram:
O Grande Mestre
Uma versão oriental
de Matrix
Por Thayz Guimarães
O cartaz do cinema
avisa: “Inspirado na história verídica de Ip Man, o mestre de Bruce Lee”.
Apesar disso, se você não o conhece nem nunca ouviu falar em Ip Man (1893-1972)
– difusor do estilo Wing Chung de Kung Fu e o primeiro mestre do astro
mundialmente conhecido –, essa informação prévia não faz a menor diferença em O
Grande Mestre (The Grandmaster), de Won Kar-Wai (Amor à Flor da Pele). Na linha
dos principais longas-metragens já produzidos sobre essa mesma história, o
estrelado pelo galã Tony Leung (Amor à Flor da Pele) é o que mais se afasta da
tradição de filmes de artes marciais, caminhando a passos largos para uma
produção fundamentada nos efeitos especiais e excelência fotográfica.
À frente da coreografia das lutas, o célebre Yuen Wu Ping, também responsável por essa função em O Tigre e o Dragão e Matrix. Talvez, muito devido a isso, O Grande Mestre tenha uma estética de combate tão parecida à destes outros filmes, com cenas que valorizam mais o malabarismo, as firulas e piruetas do que o duelo em si – vide a insistência em sequências de slow motion e planos fechados, especialmente as em primeiríssimo plano. Closes em gotas de sangue e no desembainhar de espadas (quando ouvimos o tilintar do metal) não faltam, assim como batalhas luxuosas na chuva.
Entretanto, os slow motions das cenas dão um caráter heroico exagerado a qualquer ação das personagens. No filme, tudo é grandioso demais (inclusive os cenários, mas, nesse caso, de forma positiva), o que faz com que ele acabe perdendo um pouco da carga dramática, justamente, pelo exagero. Os diálogos, por outro lado, são um capítulo positivo à parte. Com expressões fortes e, às vezes, certa carga poética, carregam os valores chineses de honra e respeito, além de lições de moral bastante metafóricas.
Mas, uma falha. É tão confusa a montagem da história que só com as cartelas explicativas ao final de algumas cenas é possível entender o que acaba de acontecer. Outros trechos, porém, findam sem a compreensão total do espectador. Para onde vai Ip Man, o qual some inexplicavelmente, durante a longa sequência no nordeste da China, 10 anos antes do tempo presente da narrativa? O que aconteceu à sua esposa? Além disso, o enfoque amoroso estabelecido em alguns momentos é desnecessário a ponto de acrescentar um peso melodramático enjoativo à evolução do roteiro.
O Grande Mestre está mais para uma produção que ganha com estética e plástica do que para um filme que se deseja assistir apenas como forma de entretenimento ou informação. Decepciona, em parte, os que esperam pela “verdadeira” história do mestre Ip Man, e irrita aos fãs de efeitos especiais com sua fotografia e seu enquadramento mais conceituais – não à toa, o filme concorreu pelas categorias melhor fotografia e melhor figurino no Oscar 2014. Deixou a festa sem nenhuma estatueta, mas valeu a indicação. Em suma: um filme mais bonito, tecnicamente falando, do que interessante para o grande público. A este, vale uma consulta à trilogia dirigida por Wilson Yip, O Grande Mestre (Yip Man), a partir de 2008.
À frente da coreografia das lutas, o célebre Yuen Wu Ping, também responsável por essa função em O Tigre e o Dragão e Matrix. Talvez, muito devido a isso, O Grande Mestre tenha uma estética de combate tão parecida à destes outros filmes, com cenas que valorizam mais o malabarismo, as firulas e piruetas do que o duelo em si – vide a insistência em sequências de slow motion e planos fechados, especialmente as em primeiríssimo plano. Closes em gotas de sangue e no desembainhar de espadas (quando ouvimos o tilintar do metal) não faltam, assim como batalhas luxuosas na chuva.
Entretanto, os slow motions das cenas dão um caráter heroico exagerado a qualquer ação das personagens. No filme, tudo é grandioso demais (inclusive os cenários, mas, nesse caso, de forma positiva), o que faz com que ele acabe perdendo um pouco da carga dramática, justamente, pelo exagero. Os diálogos, por outro lado, são um capítulo positivo à parte. Com expressões fortes e, às vezes, certa carga poética, carregam os valores chineses de honra e respeito, além de lições de moral bastante metafóricas.
Mas, uma falha. É tão confusa a montagem da história que só com as cartelas explicativas ao final de algumas cenas é possível entender o que acaba de acontecer. Outros trechos, porém, findam sem a compreensão total do espectador. Para onde vai Ip Man, o qual some inexplicavelmente, durante a longa sequência no nordeste da China, 10 anos antes do tempo presente da narrativa? O que aconteceu à sua esposa? Além disso, o enfoque amoroso estabelecido em alguns momentos é desnecessário a ponto de acrescentar um peso melodramático enjoativo à evolução do roteiro.
O Grande Mestre está mais para uma produção que ganha com estética e plástica do que para um filme que se deseja assistir apenas como forma de entretenimento ou informação. Decepciona, em parte, os que esperam pela “verdadeira” história do mestre Ip Man, e irrita aos fãs de efeitos especiais com sua fotografia e seu enquadramento mais conceituais – não à toa, o filme concorreu pelas categorias melhor fotografia e melhor figurino no Oscar 2014. Deixou a festa sem nenhuma estatueta, mas valeu a indicação. Em suma: um filme mais bonito, tecnicamente falando, do que interessante para o grande público. A este, vale uma consulta à trilogia dirigida por Wilson Yip, O Grande Mestre (Yip Man), a partir de 2008.
Quando uma abordagem
diferente não cai bem
Por Adriana Araujo
O filme O Grande
Mestre, de Wong Kar Wai (Um beijo roubado), conta a história verídica de Ip Man
(Tony Leung Chiu Wai), mestre das artes marciais e instrutor de Bruce Lee, na
cidade de Foshan (China). Mesmo narrado em tempo cronológico, o longa se perde num
roteiro confuso e entediante, no qual surgem personagens aleatórios, que não
parecem estar ligados à trama e, se estão, isso não é explicitado.
Apesar de ser uma biografia, acaba perdendo esse ar ao ter a história de Ip dividida com a personagem Gong Er (Zhang Ziyi), filha do mestre que passou o posto ao protagonista. Gong tem tanto destaque que, a partir de certo momento, se tem a impressão de que o enredo é, na verdade, sobre ela.
Mas nem só de aspectos negativos ele é construído. Como ponto positivo, conta-se a bonita fotografia, com muitos closes que chamam a atenção para os pormenores. As cenas de combate não são de tirar o fôlego, ao contrário, surpreendem pelos detalhes dos golpes. Não é um filme sobre luta: as artes marciais fazem parte dos personagens, de sua essência enquanto ser humano. A trilha sonora composta de músicas basicamente instrumentais também dá um tom característico: nada da trilha típica que nos remete à ação a que estamos acostumados em similares já consagrados no cinema.
A história de Ip já havia sido contada anteriormente em dois trabalhos dirigidas por Wilson Yip (Flashpoint), com Donnie Yen (Bater ou correr em Londres) no papel principal. O grande mestre (2008) e a continuação O grande mestre 2 (2010), no entanto, tem uma abordagem diferente da recém-lançada produção; são mais ao padrão hollywoodiano, com sequências de lutas num ângulo mais parecido com os do gênero já consagrado.
O Grande Mestre tinha tudo para ser uma bela obra, com um foco bem diferente dos mercadológicos filmes de temática semelhante a que estamos acostumados. O roteiro escorregadio, porém, fez com que o longa-metragem ficasse desinteressante e pouco proveitoso.
Apesar de ser uma biografia, acaba perdendo esse ar ao ter a história de Ip dividida com a personagem Gong Er (Zhang Ziyi), filha do mestre que passou o posto ao protagonista. Gong tem tanto destaque que, a partir de certo momento, se tem a impressão de que o enredo é, na verdade, sobre ela.
Mas nem só de aspectos negativos ele é construído. Como ponto positivo, conta-se a bonita fotografia, com muitos closes que chamam a atenção para os pormenores. As cenas de combate não são de tirar o fôlego, ao contrário, surpreendem pelos detalhes dos golpes. Não é um filme sobre luta: as artes marciais fazem parte dos personagens, de sua essência enquanto ser humano. A trilha sonora composta de músicas basicamente instrumentais também dá um tom característico: nada da trilha típica que nos remete à ação a que estamos acostumados em similares já consagrados no cinema.
A história de Ip já havia sido contada anteriormente em dois trabalhos dirigidas por Wilson Yip (Flashpoint), com Donnie Yen (Bater ou correr em Londres) no papel principal. O grande mestre (2008) e a continuação O grande mestre 2 (2010), no entanto, tem uma abordagem diferente da recém-lançada produção; são mais ao padrão hollywoodiano, com sequências de lutas num ângulo mais parecido com os do gênero já consagrado.
O Grande Mestre tinha tudo para ser uma bela obra, com um foco bem diferente dos mercadológicos filmes de temática semelhante a que estamos acostumados. O roteiro escorregadio, porém, fez com que o longa-metragem ficasse desinteressante e pouco proveitoso.
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