Sinopse: Lucas (Mads
Mikkelsen) trabalha em uma creche. Boa praça e amigo de todos, ele tenta
reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual perdeu a guarda do
filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de
apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes
íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está dizendo, apenas quer se
vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas. A
acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja
algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos habitantes da cidade em que
vive.
Quando eu era menino, surgiu a historia de uma criança da escola, que havia voltado para casa, mas suas
pernas estavam cheia de manchas rochas. Os pais imediatamente queriam saber
quem fez isso com ele, mas ele simplesmente não sabia dizer por que estava
daquele jeito. Revoltado pelo fato da criança não dar uma resposta que ele queria
ouvir, o pai imediatamente começou a bater no seu filho para lhe arrancar a
verdade, ao ponto da criança soltar um nome de um dos colegas da classe. O
outro menino que foi acusado pela agressão, sofreu nas mãos dos seus pais em
casa, mas ele nada havia feito, pois o outro menino havia mentido, mas porque
não havia escolha no momento que estava apanhando do seu próprio pai.
Bastou uma mentira, vinda de
uma situação infeliz em que a inocência foi posta contra a parede, para que esse
caso se tornasse uma verdadeira bola de neve, ao ponto que não se sabia mais
quem disse a verdade ou a mentira e tão pouco se soube o do porque da criança
estar com as manchas rochas nas pernas. O estrago estava mais do que feito,
principalmente por causa de pais incompetentes que não souberam dialogar com os
seus próprios filhos. Isso tudo surgiu na minha mente no momento que estava
vendo o filme A Caça, onde se retrata um povo de uma cidade de bem com a vida, uns com os
outros, mas que bastou um pequeno desentendimento vindo das palavras de uma
confusa menina, que nutre uma paixão infantil, para que a vida do protagonista
Lucas (Mads Mikkelsen, melhor ator em Cannes 2012), se torne um verdadeiro
inferno. Não se pode culpar a menina Klara (Annika Wedderkopp), pelo que ela
disse, pois no seu próprio lar em que vive, há sementes podres que fizeram de sua inocência
se misturar com sentimentos que ela ainda está longe de compreender. Bastou ela
então soltar palavras confusas para que esses adultos dessa sociedade se precipitassem.
O diretor Thomas Vinterberg
(Festa de Família) criou o que se pode dizer um retrato de uma sociedade
aparentemente perfeita, mas que bastou um deles ser suspeito de uma possível atrocidade,
para que então eles próprios fazerem atrocidades ainda piores. Revelam-se então
um povo hipócrita, que se sentem revoltados por um possível crime hediondo, mas
que no fim se revelam serem seres muito piores e inconseqüentes pelos seus atos
em tentar afastar o protagonista daquela cidade. Lucas por sua vez enfrenta
essa tormenta de frente, mesmo sofrendo devido aos atos cruéis vindo daqueles
que antes eram seus amigos (numa cena na chuva que é um verdadeiro soco no
estomago), mas ao mesmo tempo segue em frente.
O ato final reserva momentos
angustiantes, em que o protagonista enfrenta de frente essa sociedade hipócrita:
quando ele luta para conseguir comprar com dignidade em um supermercado, ou
quando ele confronta o seu melhor amigo (Thomas Bo Larsen) que
é pai da menina, que no fundo acredita que ele seja inocente, mas que não
consegue ainda administrar isso e tão pouco aceitar que cometeu um grave erro se precipitando. No
final das contas, a bola de neve havia ficado tão gigantesca, que a trama não
termina com inocentes, culpados ou tão pouco com o verdadeiro ponto de partida
com relação a tudo isso que aconteceu posto em chegue. Simplesmente a sociedade
hipócrita precisa seguir em frente com as suas aparências ilusórias, enquanto o
protagonista tenta se encaixar novamente a esse grupo de pessoas, mas sabe no
fundo, que a qualquer momento isso pode mudar. Os minutos finais sintetizam a
dura realidade, de que qualquer momento ele vire novamente a caça da sua própria
gente, se algo parecido acontecer novamente.
Com uma belíssima fotografia
de Charlotte Bruus Cristensen, onde as cores se tornam cada vez menos
acolhedoras no decorrer do filme, A Caça é uma verdadeira analise do
comportamento, ato e conseqüência do homem contemporâneo e faz com que saíamos do
cinema cada menos esperançosos com relação ao próximo.
4 comentários:
Li ótimas críticas sobre esse filme. Quero muito ver.
Assista Gilberto, não irá se arrepender.
Pretendo ver... Mas estou de molho em casa, se ele permanecer em cartaz verei. Belo escrito que aguçou meu desejo.
Não sei aonde se mora Conde, mas aqui em Porto Alegre o filme ainda está em cartaz no Guion Center 3 na rua Lima e Silva 776, bairro Cidade Baixa.
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