UMA PLATAFORMA PARA O LANÇAMENTO
DE BONS FILMES NA SALA P. F. GASTAL
A Coordenação de
Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, em
parceria com as produtoras Tokyo Filmes e Livre Associação, dá início no dia 27
de agosto próximo ao projeto Sessão Plataforma. Realizada mensalmente na Sala
P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar), a Sessão Plataforma irá exibir
filmes de produção recente, de diferentes nacionalidades, com caráter
predominantemente independente e sem distribuição comercial garantida no
Brasil. Com curadoria de Davi Pretto e Giovani Borba, e produção de Paola Wink,
a Sessão Plataforma já tem confirmada para os próximos meses a exibição de
importantes filmes que circularam nos principais festivais do mundo todo e no
Brasil passaram apenas pela Mostra de Cinema de São Paulo ou pelo Festival do
Rio, como Room 237, de Rodney Ascher, Bestiaire, de Denis Cotê, The Invader, de Nicolas Provost, e Leviathan,
de Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel. A cada sessão, a Plataforma vai
anunciar o filme seguinte da programação, em um trabalho que procura difundir
um novo cinema e uma busca de realizadores com outros olhares, aproximando
Porto Alegre do circuito de exibição do centro do país, do qual atualmente a
capital gaúcha se vê ainda muito distante.
O filme escolhido para inaugurar a Sessão
Plataforma é o cultuado documentário Room 237, de Rodney Aschner, que
participou dos festivais de Cannes, Sundance e Berlim. O documentário de
Aschner explora os labirintos das inúmeras teorias obsessivas sobre o clássico
filme O Iluminado, de Stanley Kubrick. Um filme sobre a paixão por um filme,
por um realizador e, acima de tudo, pelo cinema, um filme sobre a cinefilia
como única saída para se livrar dos fantasmas de um filme sobre fantasmas. Room
237 será exibido dia 27 de agosto, às 20h, com reprise no sábado, dia 31 de
agosto, às 17h. O valor do ingresso é de R$ 3,00.
Room 237. Estados
Unidos, 2012, 102 minutos. Direção de Rodney Aschner. Documentário. Exibição em
Blu-ray, com legendas em português.
Abaixo, texto dos
curadores Davi Pretto e Giovani Borba e da produtora Paola Wink sobre o projeto
Sessão Plataforma:
BASE
Uma base para se
estar mais próximo aos filmes, pensando os filmes e pensando o cinema.
Foi com esse desejo
que concebemos a Plataforma; imaginando uma estrutura horizontal, praticamente
suspensa, onde se pode ir além. Um espaço para compartilhar a experiência
cinematográfica da sala, e que vai além dela, e a descoberta de novos filmes,
de novos realizadores. Lugar que nos aproxima do horizonte e nos convida a
contemplar, nos convida a refletir.
A Plataforma carrega
um conjunto de ideias e ações que venham a encontrar novos caminhos para a
situação paradigmática que nos encontramos atualmente na cinematografia
brasileira. Vemos uma quantidade grande, ainda que desigual, de ações e
investimentos governamentais, aliado com a facilidade trazida pela
transformação para os equipamentos digitais (câmeras, projetores, etc). Vemos
uma quantidade bastante significativa, e que cresce exponencialmente, de filmes
nacionais lançados, inúmeros novos realizadores de lugares que antes eram
desprovidos da possibilidade de produzir. Vemos a formação e crescimento de
movimentos e realizadores que buscam uma produção mais horizontal e igualitária
de criação coletiva, que corre em paralelo e independente de um modelo
industrial. Porém há ainda um abismo que distancia a possibilidade de diálogo e
inclusão desses filmes e cineastas com produções de grande orçamento e o
circuito comercial “de shopping”. Nessa inclusão, quando ocorre, essas obras
são forçadas a se enquadrar em um modelo industrial, que se propuseram a
contrapor. A democratização das salas de cinema não legitimaria esse novo
cinema, afinal essas obras já percorrem um circuito completo por si só.
Festivais, mostras, cineclubes e exibições online que já somam números de
público para essas obras, maiores que filmes de grande orçamento que pairam
apenas em uma rede convencional de exibição. É imprescindível pensarmos como
esses dois modelos de fazer cinema podem interagir sem a necessidade de nenhum
deles perder sua personalidade.
Essa questão da afirmação e preservação do
âmago desse novo cinema também é indiretamente abalada quando ações do estado
de financiamento fazem realizadores submeter seus projetos em modelos
clássicos, onde são exigidos documentos dignos de uma proposta industrial.
Roteiros, metas e justificativas. Projetos de realizadores internacionais
renomados que trabalham com propostas fluídas e híbridas de encontro e acaso
dificilmente seriam aprovados em editais no modelo encontrado no Brasil. Ainda
parece que esbarramos em um pensamento de criação de um produto óbvio, como uma
linha de montagem. Mais uma vez, vemos uma tentativa inadequada de controlar e definir
o descontrole.
A diversidade cinematográfica atravessa as
fronteiras entre gêneros, bitolas, formatos, meios de exibição, de linguagem e
metragem. Desta mesma maneira, pensamos que uma janela para este outro cinema
pode se apresentar de maneiras também diversas, onde o formato com que se
apresentam os filmes é parte de uma proposta artística.
Foi deste pensar os filmes que queremos
mostrar e como mostrá-los, que surge a Sessão Plataforma. Com o entendimento de
que a Plataforma não está para uma mostra, tampouco festival de filmes. Nossa
proposta é oferecer uma sessão única, e mesmo exibindo regularmente, essa
premissa da sessão única faz de cada uma das sessões, uma nova edição, para um
pequeno universo específico de cinema. Onde cada filme traz uma reflexão,
imprime uma ideia, aponta novos caminhos, proporciona um outro olhar. Uma
experiência cinematográfica periódica e extensiva; um formato horizontal, ao
invés do formato vertical, intensivo e anual de eventos do gênero.
A Sessão Plataforma é apenas uma das vertentes
desta rede maior que propomos para refletir, exibir, escrever e produzir junto
com esse novo cinema. Desta Plataforma, nosso olhar se lança neste horizonte,
em busca da produção contemporânea ao redor do mundo que explora nas possibilidades
narrativas e estéticas, sem artifícios mirabolantes, que atritam, provocam e
instigam; que possam reinventar o fazer cinematográfico, sob a ótica das mais
diferentes culturas, de onde volta e meia nos surpreendem as cinematografias
pouco conhecidas.
Davi Pretto, Giovani Borba,
Paola Wink
Nenhum comentário:
Postar um comentário