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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Bergman – 100 anos



Sinopse: Uma homenagem ao diretor sueco Ingmar Bergman, no ano de seu centésimo aniversário. O cineasta é reconhecido como um dos precursores do cinema moderno, ele dirigiu e roteirizou obras clássicas como "Persona" e "Gritos e Sussurros".

Quando eu penso em Ingmar Bergman me vem à mente inúmeras obras de sua autoria, cujas tramas eram, na maioria dos casos, reflexo de sua própria pessoa e dos temores que o afligiam em vida. Em A Hora do Lobo, por exemplo, é marcante a cena de abertura, onde vemos Liv Ullmann (Persona) encarnada em sua personagem, dialogando com a gente com relação ao complexo relacionamento com o seu marido dentro da história, mas que bem da verdade era a própria atriz que estava falando sobre o seu relacionamento conturbado com Ingmar Bergman fora das telas. Em Bergman – 100 anos é um documentário primoroso que revela, não somente o grande artista que ele foi dentro do universo do cinema, como também sobre um homem complexo e que usava sua própria vida como inspiração para o seu trabalho.
Dirigido por Jane Magnusson, a obra nasceu com o objetivo de homenagear o cineasta que estaria completando 100 anos de vida neste mês de Julho. O foco principal é o ano de 1957, quando Bergman lança dois filmes, filma mais dois, dirige um telefilme e quatro peças de teatro. Conversando com atores, colaboradores, críticos e historiadores, o filme traça o retrato de um homem obsessivo, instável, difícil de lidar, mas ao mesmo tempo um dos maiores artistas da história da Suécia, e também o único diretor a receber a "Palma das Palmas" no festival de Cannes.
Chamando atenção como roteirista nos seus primeiros anos dentro do cinema, Bergman começaria a dirigir já entre os anos 40 e 50, mas jamais ganhando o grande reconhecimento que merecia. Foi somente no início do ano de 1957, ao lançar sua obra prima O Sétimo Selo, que Bergman alcançaria o status de mestre da sétima arte. Para a cineasta Jane Magnusson, 1957 foi um ano crucial para Bergman, pois ou ele viria a se tornar o que se tornou, ou cairia nas torturas dos seus próprios medos e cicatrizes emocionais que eram os seus verdadeiros fardos em vida.
Tanto o cinema como o teatro serviram como salva guarda para que Bergman não caísse em desgraça. Pensamentos sobre o fim da vida, por exemplo, sempre foi algo que assombrava o cineasta, ao ponto de lhe provocar crises de úlcera, depressão e por fim a internação. Quando estava internado no hospital, por exemplo, ele teve a ideia sobre um médico aposentado refletindo sobre a vida e tendo sonhos com relação a ela e nascendo, então, a sua obra prima Morangos Silvestres.
É a partir desse filme, aliás, que Bergman começa a criar personagens que são na realidade seus alter egos, em filmes que refletem inúmeras fases de sua própria vida. Em Fanny e Alexander, por exemplo, ele quis retratar sua conturbada relação com o seu irmão na infância e na difícil convivência com o seu pai conservador e religioso. No meu entendimento, o cinema seria então uma forma do cineasta exorcizar os seus demônios interiores e a cineasta Jane Magnusson deixa isso muito bem claro, ao jogar na tela um Bergman cheio de energia, mas não escondendo uma inquietação que atingia até mesmo aqueles em sua volta.
Porém, a cineasta não se preocupa ao revelar os dois lados da história, principalmente ao depararmos com um Bergman que venerava Hitler e ter se tornado até mesmo um Nazista em sua juventude.  Após a revelação sobre os campos de concentração ao fim da Segunda Guerra Mundial, Bergman jamais tomaria partido sobre nada com relação à política, mas sim se dedicando ao que mais ama. Além da consagração no mundo do cinema, Bergman se tornaria um dos maiores mestres na direção do mundo do teatro na Suécia, sendo ele responsável pelas principais peças do país e realizando obras que beiravam a espantosas marcas de cinco horas de duração. 
É claro que tantos trabalhos e conquistas sublimes têm o seu preço, ao ponto dele nunca ter tido uma vida familiar normal, mas sim ter tido relacionamento com inúmeras atrizes durante a realização de suas próprias obras. De todas, Liv Ullmann foi a que se tornou a mais conhecida de suas conquistas, mas fazendo com que ambos se chocassem perante os seus próprios talentos e energias distintas. Energia essa, aliás, que fazia com que muitos ficassem nervosos perante a sua presença, como no caso de uma hilária entrevista realizada nos anos 70, onde o entrevistador, além de fã, trocava as palavras quando teve a grande chance de entrevistar o seu ídolo do cinema.
Porém, talvez todo esse potencial não coubesse num único corpo, ao ponto que Bergman era, por vezes, incapaz de controlar o seu próprio ego. É emocionante, por exemplo, testemunharmos entrevistas dos colaboradores de suas peças de teatro, mas que sofriam nas mãos do cineasta em momentos de conflito. Porém, eles não guardam magoas, mas tendo a consciência de que o próprio Bergman estava enfrentando os seus demônios interiores e que o fracasso significaria a sua própria morte.
Tendo se tornado o único diretor a receber a "Palma das Palmas" no festival de Cannes, Ingmar Bergman ficou recluso nos seus últimos anos de vida na ilha do Fårö da Suécia até a sua morte, mas se tornando imortal graças as suas obras primas das quais se tornaram maiores do que sua própria vida. Jane Magnusson faz mais do que uma homenagem ao cineasta nesse documentário, como também uma declaração de amor ao próprio cinema, cuja essa arte fez sempre reerguer essa pessoa que Bergman era em vida.
Sendo desde já uma das melhores obras lançadas em 2018, Bergman – 100 anos não é um mero documentário sobre Ingmar Bergman, pois o documentário em si é o próprio Bergman.    


  

Cine Dica: Projeto Raros, Festival de Inverno e cinema brasileiro em cartaz (25 de julho a 1 de agosto)



PROJETO RAROS EXIBE CRIATURAS DAS PROFUNDEZAS
SESSÕES ESPECIAIS DO 10º FESTIVAL DE INVERNO
BARONESA, AS BOAS MANEIRAS E O DESMONTE DO MONTE EM CARTAZ
Boas Maneiras 

A partir de quarta-feira, 25 de julho, a Cinemateca Capitólio Petrobras retoma a exibição de três filmes brasileiros a pedido do público: Baronesa, de Juliana Antunes, As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, e O Desmonte do Monte, de Sinai Sganzerla.
Na quarta-feira, 1º de agosto, às 19h, acontece uma sessão especial comentada de As Boas Maneiras com a presença do crítico e diretor Ulisses Da Motta.
O valor do ingresso para As Boas Maneiras e O Desmonte do Monte é R$ 16,00.  Integrante do catálogo da Sessão Vitrine Petrobras, o filme Baronesa tem valor promocional: R$ 10,00.

PROJETO RAROS APRESENTA FILME DE BARBARA PEETERS
Na sexta-feira, 27 de julho, às 20h, o Projeto Raros exibe na Cinemateca Capitólio Petrobras o filme Criaturas das Profundezas (Humanoids from the Deep, 1980, 80 minutos, HD), de Barbara Peeters, com produção de Roger Corman. Após a exibição, acontece um debate com os críticos Cristian Verardi e Carlos Thomaz Albornoz. Com projeção em HD e legendas em português, a sessão tem entrada franca.
A sessão de Criaturas das Profundezas faz parte de uma dupla homenagem às avessas do Projeto Raros ao cinquentenário de 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, destacando filmes de ficção-científica que resgatam ou destacam o lado mais divertido e inconseqüente do gênero. Na semana seguinte, no dia 03 de agosto, a segunda sessão especial apresenta a pérola Mulheres-gato da Lua (Cat Women of the Moon, 1953), de Arthur Hilton, com comentários do pesquisador Marcelo Severo.
No filme, criaturas monstruosas emergem do oceano profundo para aterrorizar os pescadores de uma pequena ilha em Noyo, na Califórnia. Após investigar o caso, uma cientista descobre a terrível verdade que está por trás dos acontecimentos. Produzido por Roger Corman e dirigido por Barbara Peeters, uma das mulheres pioneiras do cinema exploitation, a obra mistura horror e ficção-científica, remetendo a sucessos da década de 1970, como Tubarão, de Steven Spielberg, e A Ilha do Dr. Moreau, de Don Taylor, e inspirando-se no clássico dos anos 1950 O Monstro da Lagoa Negra, de Jack Arnold, na caracterização das criaturas.

TIA JÚLIA E O ESCREVINHADOR E SUBMARINO AMARELO NO FESTIVAL DE INVERNO
Duas exibições especiais marcam a programação do 10º Festival de Inverno de Porto Alegre na Cinemateca Capitólio Petrobras. O valor do ingresso é R$ 10,00, com meia entrada para estudantes e idosos.
No sábado, 28 de julho, às 16h, acontece uma sessão de Tia Júlia e o Escrevinhador (Tune in Tomorrow...), dirigido por Jon Amiel, com comentários do pesquisador Ricardo Barberena. A adaptação hollywoodiana de uma das obras-primas de Mario Vargas Llosa, protagonizada por Keanu Reeves, Bárbara Hershey e Peter Falk, ganha uma reprise no mesmo dia, às 19h. Exibição em DVD com legendas em espanhol.
No domingo, 29 de julho, às 16h, acontece uma sessão comentada da clássica animação Submarino Amarelo (Yellow Submarine), de George Dunning, baseada em várias canções do grupo de rock inglês The Beatles, que celebra cinquenta anos neste ano. Participam do debate os pesquisadores Paulo Moreira e Zeca Azevedo. No mesmo dia, às 19h, acontece uma reprise da animação psicodélica.

TIA JÚLIA E O ESCREVINHADOR
(Tune in Tomorrow...)
Estados Unidos, 1990, 100 minutos
Exibição em DVD com legendas em espanhol
Direção: Jon Amiel
A história se passa em Nova Orleans, no começo da década de 50. Keanu Reeves faz o redator de uma rádio local que se apaixona pela tia (Barbara Hershey), uma mulher divorciada e que procura por um novo marido. Outro personagem importante é um escritor de radionovelas (Peter Falk) que começa a se inspirar no romance dos dois para suas histórias.

SUBMARINO AMARELO
(Yellow Submarine)
Reino Unido, 1968, 90 minutos
Exibição em HD com legendas em português
Direção: George Dunning
No auge de sua popularidade, o grupo britânico The Beatles fez este desenho sobre uma terra dominada pelos malvados Blue Meanies. Eles são recrutados para devolver a alegria e a música para o mundo fantasioso, partindo em uma viagem incrível. Um filme de animação psicodélica que abusa das cores e de canções famosas da banda.

GRADE DE HORÁRIOS
25 de julho a 1º de agosto de 2018

25 de julho (quarta)
16h – Baronesa
17h30 – As Boas Maneiras
20h - O Desmonte do Monte

26 de julho (quinta)
16h – Baronesa
17h30 – As Boas Maneiras
20h - O Desmonte do Monte

27 de julho (sexta)
16h – Baronesa
17h30 – As Boas Maneiras
20h – Projeto Raros (Criaturas das Profundezas, de Barbara Peeters)

28 de julho (sábado)
14h - Baronesa
16h – Tia Júlia e o Escrevinhador + debate
19h - Tia Júlia e o Escrevinhador

29 de julho (domingo)
14h – O Desmonte do Monte
16h – Submarino Amarelo + debate
19h - Submarino Amarelo

31 de julho (terça)
16h – Baronesa
17h30 – As Boas Maneiras
20h - O Desmonte do Monte

1 de agosto (quarta)
16h – Baronesa
17h30 – O Desmonte do Monte
19h – As Boas Maneiras + debate

terça-feira, 24 de julho de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: O Terceiro Assassinato



Nota: filme exibido para associados no último sábado (21/07/18), na Casa de Cultura Mario Quintana.
Sinopse: O advogado Shigemori é obrigado a pegar um caso de assassinato na defesa de Misumi, que tem um registro criminal que aconteceu há 30 anos. Mesmo Misumi confessando a autoria do homicídio, enfrentando a sentença de morte, Shigemori tem dúvidas sobre a culpa dele no caso.

Já na abertura do filme nos damos conta que não estamos diante de uma obra convencional, mas sim de algo que irá muito além de uma mera história de crime e investigação. Já no início, por exemplo, já sabemos quem é o responsável por um crime que irá moldar a trama como um todo. O mais surpreendente é que o próprio assassino se entrega a policia e para ser julgado pela justiça.
O que é preciso ficar claro, até mesmo devido a imprevisibilidade vista dos minutos iniciais, é ter a consciência que as ações de cada personagem vistas no longa irão moldar as consequências da trama como um todo. Esses eventos no enredo, aliás, poderiam ser catastróficos se fossem comandados por um diretor qualquer. Porém, Hirokazu Kore-Eda, cineasta japonês que surpreendeu com o delicado Pais e Filhos, demonstra total segurança na direção em meio a uma trama nebulosa e de inúmeras camadas a serem descascadas.
Percebe-se, aliás, que o cineasta não bebe de nenhuma fonte do gênero policial já vista no cinema. Talvez sua real intenção seja retratar como a justiça realmente age em situações como essa, fazendo a gente tentar compreender as reais ações de cada um dos personagens e escancarar o lado burocrático de um processo que não poderia ser tratado de modo convencional.
Desse modo, é uma narrativa que supera até mesmo o próprio mistério. Mistério, aliás, que faz o cinéfilo ficar mais intrigado ao tentar desvendar as raízes do crime e tentar destrinchar o que levou o personagem principal a cometer tal ato. Mas isso se torna um mero detalhe, pois a mente de Misumi (Koji Yakusho) é questionada e invadida pelos seus próprios advogados, que procuram obter com todos os meios uma forma de ganhar o caso.
Na visão da justiça vista no filme, Misumi deixa de ser um homem e se torna apenas um ser a ser julgado por um julgamento sem provas, mas com convicções. Quem espera um filme de julgamento, aliás, pode até se decepcionar, pois ele não lembra em nada clássicos como, por exemplo, Anatomia de um Crime (1959). O foco principal, tanto se localiza nas membranas da advocacia, como também nas dores, destinos e certas atitudes que levam as pessoas a um caminho indefinido.
Já o lado burocrático do caso, por vezes, se torna caricato, já que os advogados e promotoria se sentem perdidos e sem saber o que fazer no decorrer do tempo. A meu ver, o foco principal do cineasta Hirokazu Kore-Eda está mais em potencializar as atuações dos seus principais interpretes. Koji Yakusho (Babel) dá um verdadeiro show de interpretação, pois ele consegue transmitir em seu personagem todos os sentimentos e conflitos internos, mesmo quando sua atuação é eclipsada pelo ótimo desempenho de Masaharu Fukuyama que interpreta o seu advogado na trama. 
Hirokazu Kore-Eda comprova que o trabalho de direção de um filme não requer somente um bom roteiro e elenco talentoso, mas também uma visão autoral, perfeccionista e sem ter a preocupação em revelar as consequências das ações dos seus personagens principais de uma forma apressada. Atenção para as cenas dos diálogos entre o protagonista e seu advogado que, desde já, são os melhores momentos do filme. O Terceiro Assassinato foge da previsibilidade dos filmes policiais e nos brinda com um filme humano e sobre as reais motivações que levam certas pessoas a cometerem tais atos. 
Onde Assistir: Sala Eduardo Hirtz. Casa de Cultura Mario Quintana. Rua das Andradas nº 736, centro de Porto Alegre. Horário: 15h15min.  
 



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