Neste momento está o maior calor lá fora, mas mesmo fervilhando eu estava recapitulando através das minhas memórias o que havia acontecido ao longo deste último ano com relação ao cinema. Foi um ano melhor se formos comparar ao ano anterior, principalmente pelo fato da pandemia ter diminuído e o público decidindo retornar aos poucos as suas idas para uma sessão de cinema. Curiosamente, ao longo destes dozes meses parece que houve uma sensação de retomada dos velhos tempos e o desgaste do que antes parecia imbatível.
A Queda do Oscar
Não há como negar que esse foi sem sombra de dúvida o pior ano dessa premiação, onde a maioria somente irá se lembrar de Will Smith dando um tapa na cara de Chris Rock. Esse acontecimento foi somente a cereja do bolo para constatar o lado medíocre que essa cerimonia se tornou, ao ponto que as premiações técnicas foram esnobadas, como se esses pontos na construção de um filme não fossem importantes de se fazer um longa metragem. Talvez o meu pensamento esteja mais do que coerente atualmente, de que o tempo seja sim o maior prêmio para um filme quando ele é lembrado e reconhecido ao longo de vários anos após o seu lançamento.
O declínio de um gênero?
Sempre digo que Hollywood é sempre responsável, tanto pelo ápice, como também pela queda de um gênero cinematográfico. No caso das adaptações de HQ de Super Heróis para o cinema eu acredito que finalmente estamos diante de um verdadeiro desgaste e isso é sintetizado ainda mais por conta da Marvel /Disney. Com a sua fase quatro encerrada com "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre", os estúdios se viram diante de críticas mais pesadas, tanto da crítica especializada como também do próprio público que notou uma queda de qualidade, tanto nas histórias, como também nos efeitos visuais realizados na pressa. Resta saber até que ponto Kevin Feige seguirá em frente com a sua estratégia, pois a própria está consumindo a casa das ideias.
Mas o outro lado da cerca não é muito diferente, senão pior. Após o sucesso mediano de "Adão Negro" Warner/DC decide reiniciar tudo de novo com os seus heróis e isso tudo comandado pelo cineasta James Gunn que foi escolhido como novo chefe da DC Estúdio. O resultado é a demissão de atores como Henry Cavill e provocando uma avalanche de críticas pesadas e vendo com maus olhos a nova iniciativa. Sinceramente Gunn adentrou em um verdadeiro vespeiro e que fica até mesmo difícil saber qual será o resultado.
Ao menos, um ou outro ainda pensa em fazer cinema de verdade dentro do estúdio e "The Batman" é uma prova viva disso. Limitando os efeitos desnecessários em cena e se preocupando mais em contar uma história verossímil, o diretor Matt Reeves reconta os primeiros anos do homem morcego dialogando com os dilemas e os medos que assombram o mundo contemporâneo. O realizador fez a lição de casa assim como Christopher Nolan havia feito com "Cavaleiro das Trevas" e dando uma revitalizada no gênero que se encontra perto do precipício.
Os Bons Tempos Voltaram
Talvez 2022 seja lembrado com o fato de ser o primeiro ano após muito tempo de que a maior arrecadação na bilheteria não pertenceu a uma adaptação de HQ. Coube o retorno de Tom Cruise, por exemplo, para quebrar esse tabu com o surpreendente "Top Gun - Maverick". Mais do que uma continuação de um clássico oitentista, o filme é uma verdadeira aula de como se fazia cinema como antigamente, ou seja, na raça e no ar literalmente. O diretor Joseph Kosinski buscou inspiração no lendário produtor Howard Hughes, que simplesmente pegava uma câmera na mão e filmava realmente os aviões no céu dentro da cabine de uma das aeronaves. E sim, Tom Cruise realmente pilota em cena em uma das maquinas voadoras e se superando novamente nas cenas perigosas.
Da velha guarda, é preciso destacar o surpreendente trabalho Baz Luhrmann no maravilho "Elvis", superprodução de grande requinte visual e que surpreendeu ao dar uma nova visão sobre a vida pessoal e profissional do rei do rock através do seu suspeito empresário e do qual o mesmo foi interpretado por um irreconhecível Tom Hanks.
De Volta a Pandora
James Cameron é teimoso e nada irá tirar de sua cabeça que o 3D é sim o futuro do cinema. Convenhamos, o seu "Avatar: O Caminho da Água" não revoluciona na questão do 3D, mas dá uma verdadeira aula de como se usa os efeitos digitais em prol de contar uma boa história. Nunca um planeta alienígena foi tão realístico, nunca seres marinhos de outros planetas foram tão reais e nunca os Na'vi foram tão realistas ao ponto de esquecermos que, por detrás da técnica de captura em movimento, há realmente grandes atores e sendo eles o verdadeiro coração e alma do filme.
A vitória do Cinema Independente
Se Hollywood ainda se vê presa com os seus blockbusters ao menos o cinema independente prova que, não importa o orçamento, mas sim a elaboração de uma boa história é o que faz a diferença como um todo. O estúdio "A24" se consagrou no passado ao fazer diversos filmes de terror, porém, expandiu e adentrando em novos gêneros e conseguindo assim obter inúmeros feitos. O ápice desse cenário se encontra com o seu "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", uma ficção que se mistura com cenas de ação, aventura e diversas teorias sobre realidade alternativa e fazendo os estúdios Marvel e DC comendo poeira. Porém, o estúdio não largou o seu principal osso que é o gênero de horror e nos surpreendendo com "Men", "X" e seu surpreende prequel "Pearl".
E na reta final de ano, o cinema independente surpreende com o delicado, porém, poderoso "Aftersun" e cuja a relação entre pai e filha dentro da trama tem muito mais a dizer sobre a sociedade contemporânea de hoje do que a gente imagina.
Cinema Sem Fronteira
Foi também um ano em que o cinema nos demais países provaram a sua força e se destacando pela sua qualidade e autoria vinda dos seus cineastas. Da Alemanha tivemos o surpreendente "Nada de Novo no Front", filme de guerra que mostra a realidade crua da Primeira Grande Guerra e se tornando franco favorito para o próximo Oscar. Nossos hermanos daqui do lado deram uma verdadeira aula de história em "Argentina 1985" e provando que certas feridas não podem ser meramente cicatrizadas, mas sim procurar e punir aqueles que provocaram elas. E como não poderia deixar de ser o cinema francês arremangou as mangas neste ano com força e nos brindando com títulos de quilate como "O Acontecimento", "Bem-Vindos à Bordo", "A Acusação", "Contratempos" e tantos outros.
E o Nosso Cinema Como Fica?
Desde a extinção da Embrafilme não se via um temor tão grande como agora com relação ao futuro do nosso cinema nacional. Graças ao desgoverno de Bolsonaro, vários projetos foram cancelados devido a extinção do Ministério da Cultura, assim como a limitação imposta colocada contra Ancine. Para piorar, a situação se agravou devido a pandemia, onde vários cinemas que exibem somente o Cinema Nacional acabaram fechando por tempo indeterminado e somente abrindo quando a situação se minimizou, porém, não acabando com os problemas a seguir. O Cinebancários de Porto Alegre, por exemplo, é o mais belo representante sobre a dedicação de exibir somente filmes nacionais, mas tendo pouco público se for comparado a outras salas da região como a Cinemateca Capitólio que sempre manteve um público fiel.
Resta manter a esperança que essa sala e as demais em todo país se mantenham firmes e exibam o nosso Cinema Nacional que sempre existiu através de muita luta em meio as adversidades criadas através da ignorância política assim como também de uma parcela brasileira preconceituosa e que não valoriza o que a gente cria. Dos destaques deste ano se teve "Marte Um", filme que melhor sintetizou um país após as eleições de 2018 e tivemos "Medida Provisória", filme de Lazaro Ramos que sofreu censura unicamente por escancarar uma ficção que fala sobre o nosso tempo atual em que o preconceito e a ignorância assola o nosso país a cada dia que passa.
Agradecimentos e um Feliz 2023
Gostaria de agradecer a toda a diretoria do Clube de Cinema de Porto Alegre que neste ano me escolheram como divulgador da programação das sessões do Clube e que na maioria das vezes acontece na convidativa Cinemateca Paulo Amorim. Agradecer a psicóloga Maria Emília Bottini que me convidou novamente a fazer parte do grupo online Cine Debate, onde sempre escolhemos um determinado filme para assisti-lo e debatermos a cada quinze dias. Agradecer pela força de vontade de Jorge Ghiorzi que fez renascer a esperança de termos novamente os cursos de cinema do Cine Um, por enquanto online, mas tendo a esperança aflorada de voltarmos a ter as atividades de forma presencial novamente.
Agradecer as distribuidoras Colecione Clássicos e Classicline que fez com que mantivesse o meu interesse de continuar colecionando filmes em DVD e dando uma fortalecida nesta mídia física que, felizmente, teima em não morrer. Agradecer as Cinematecas Capitólio e Paulo Amorim de Porto Alegre ao nos dar uma programação diversificada e sendo algo que não se encontra nos cinemas de shoppings. E, por fim, agradecer a todos os leitores que me acompanharam nesta empreitada cinematográfica, pois o meu blog existe pela paixão obsessiva que eu tenho pelo cinema e que me fez cada vez mais me dedicar na escrita, me aprofundar ainda mais na sétima arte e da qual estarei sempre com ela haja o que houver.
A TODOS UM FELIZ 2023 CHEIO DE AMOR, ESPERANÇA E COM MUITAS IDAS AO ESCURINHO DO CINEMA.
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