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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 7 de março de 2022

Cine Especial: "The Batman - Luz e Trevas"

Sinopse: Em início de carreira o homem morcego se vê em uma investigação misteriosa e que irá revelar os diversos segredos escondidos da cidade de Gotham.  



O nosso mundo vive em constantes mudanças, das quais é sentida em todos os setores e o universo do cinema, livros e HQ não é diferente. Portanto, é muito raro encontrarmos um personagem de ficção que consiga ser remodelado para novos tempos, dos quais consiga corresponder com o mesmo e se tornando mais atual dentro do possível. Batman, talvez, é o melhor neste quesito, pois é um personagem que precisou ser readaptado conforme o que acontecia em nosso mundo e nisso acabou se tornando bem sucedido.

No seriado "Batman e Robin" (1966) vemos uma aventura escapista, engraçada e que nada mais era do que um entretenimento puro para agradar a massa. Porém, se percebe que o programa era uma forma também de se vender uma realidade perfeita da sociedade norte americana, da qual a mesma já estava sentindo as dores do mundo real, mas da qual não se via na obra como um todo. O Batman daqueles tempos era uma representação do "paz e amor", mas que logo precisaria mudar caso continuasse em querer existir.

Os anos setenta e oitenta vieram para colocar o personagem sendo testado pelo tempo, atualizado conforme as ondas da mudança iam surgindo e tendo muito a dizer sobre o que estava acontecendo. Essas mudanças são retratas em "Batman - O Filme" (1989), de Tim Burton, onde vemos um herói sombrio, violento e indo contra a promessa dos tempos da era Reagan, da qual a mesma passava a promessa de uma nova utopia para a sociedade norte americana, mas da qual muitos não enxergavam isso nas metrópoles sendo invadidas pela criminalidade e a corrupção vindo das altas patentes. Esse pessimismo ainda se torna mais explicito em "Batman - O Retorno" (1992), onde Burton faz de sua Gotham City uma bela homenagem ao "Expressionismo Alemão", cujo o movimento sintetizava os tempos de medo de uma sociedade alemã ainda se recuperando de uma 1ª Guerra Mundial e mal sabendo dos tempos piores que viriam.

O estúdio Warner, por sua vez, não conseguia enxergar no mundo real esse lado sombrio que Burton pincelava em seus dois filmes. Descartado, o estúdio fez de "Batman Eternamente" (1995) e "Batman e Robin" (1997) espetáculos vazios, cujo o entretenimento para atrair a massa nada mais era do que vender produtos para serem consumidos e deixando a conteúdo de lado. Parcialmente, a fórmula funcionou até certo tempo, mas então veio o 11 de Setembro.

Com as torres Gêmeas vindo abaixo, a sociedade norte americana sentiu na pele o horror que antes era visto na ficção e o entretenimento de ação e aventura precisavam passar por uma repaginada. Com advento das adaptações das HQ para o cinema no início do século vinte um, a Warner decidiu que era a hora de surgir um Batman que falasse sobre os novos tempos e cujo o medo perante o desconhecido era preciso ser combatido. A trilogia "Cavaleiro das Trevas" comandada por Christopher Nolan vista hoje é um estudo sobre os tempos em que a maldade não vem somente de fora como muito se vendia, como também pode estar incrustado dentro da própria sociedade norte americana.

Com o encerramento da visão de Nolan, logicamente, o estúdio procurava saciar a sua sede pelo lucro, decidindo criar um universo expandido e unindo os seus heróis nas telas o mais rápido possível. Embora Ben Afleck tenha ficado perfeito como o personagem, tanto "Batman vs Superman" (2017) como "Liga da Justiça" (2017) sofreram com a pressa do estúdio, sendo que esse último foi retalhado, mesmo tendo obtido posteriormente uma versão definitiva comandada por Zack Snyder. O herói precisava, novamente, de uma repaginada e "The Batman" (2022) vem em um momento em que a nossa realidade se encontra duelando contra as trevas.

O filme segue o segundo ano de Bruce Wayne (Robert Pattinson) como o herói de Gotham, causando medo nos corações dos criminosos da sombria cidade. Com apenas alguns aliados de confiança - Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) - entre a rede corrupta de funcionários e figuras importantes do distrito, o vigilante solitário se estabeleceu como a única personificação da vingança entre seus concidadãos. Durante uma de suas investigações, Bruce acaba envolvendo a si mesmo e Gordon em um jogo de gato e rato, ao investigar uma série de maquinações sádicas em uma trilha de pistas enigmáticas estabelecida pelo vilão Charada.

O filme vem logo depois em que "Coringa" (2019) complementou o que faltava na trilogia "Cavaleiro das Trevas", correspondendo com a proposta daquela produção, mas sendo moldada ainda com mais ambição. Se naquela produção de Todd Phillips a sua Gotham era um retrato mais sujo e decadente do início dos anos oitenta, aqui a cidade é uma verdadeira fusão da verossimilhança de Nolan com o lado sombrio e expressionista de Burton. O resultado é uma Gotham City assustadora, em que o expressionismo alemão fica ainda mais evidente e ao mesmo tempo nos lembrando o subgênero Noir.

Aliás, o filme é puramente cinema, cujo o cinéfilo irá encontrar na trama referências aos clássicos "Chinatown" (1974), "Seven" (1996) e "Zodíaco" (2007), sendo que esses dois últimos comandados por David Fincher serviram de inspiração para a criação de uma versão mais assustadora, porém, realista do Charada (Paul Dano). No decorrer do filme, vemos o personagem cometendo crimes, deixando pelo caminho os seus enigmas e fazendo com que o protagonista, aos poucos, descubra a real natureza das mazelas de sua cidade. Se em "Coringa" a família Wayne era questionada aqui não é diferente e fazendo com que o herói se pergunte sobre qual é o seu verdadeiro papel naquela sociedade.

Robert Pattinson cria para si um Bruce Wayme melancólico, cuja a sua imagem parece saída do expressionismo, mas ganhando vida e força sempre que usa o seu traje de morcego. Provando sua versatilidade em filmes como "Bom Comportamento" (2017) e "O Farol" (2019), sua interpretação acaba não ficando escondida em seu traje de borracha, cujo o seu olhar tem muito mais a dizer do que meras palavras. Um Batman moldado pela dor e desejo de vingança, mas que com o tempo aprenderá que isso só não basta. Através de outros personagens, a sua figura acaba se tornando mais humanizada, mesmo quando a sua imagem se torna um contraponto em meio as outras pessoas.

Se o detetive Gordon (Jeffrey Wright) é um aliado em meio a uma força policial corrompida, Selina Kyle (Zoë Kravitz) é uma mulher moldada em meio ao universo violento contra a mulher e o que faz dela não tomar partido de nenhum lado, mas sim somente consigo mesma. No filme, tanto ela como Batman são dois lados da mesma moeda, mesmo quando ela já se encontra em uma fase em que não mais enxerga nenhum pingo de esperança para uma cidade tão corrompida. Essa corrupção, aliás, é muito bem representada tanto por Carmine Falcone (John Turturro) como também por Oswald Chesterfield, o Pinguim (Collin Farrel), sendo que esse último joga para ambos os lados para sobreviver e sabendo como ninguém como funciona as engrenagens do submundo do crime.

Logicamente, o público espera desse tipo de filme cenas ação a todo momento, mas não é isso o que acontece. Elas existem, mas com um objetivo, para que elas se casem com a proposta principal da obra e não sendo poluída com cenas previsíveis de CGI ou explosões que nem precisavam existir. Destaco a fantástica cena de Batman com o seu Batmovel  perseguindo o Pinguim e que Matt Reeves, assim como fez Christopher Nolan com a sua trilogia "Cavaleiro das Trevas", buscou inspiração no clássico policial "Operação França" (1971).

Com três horas de duração, o filme jamais cansa em momento algum e isso graças a uma direção perfeccionista e que cada cena tem algo a mais para se dizer do que se imagina. Além de lembrar o Expressionismo já citado, essa Gotham não é muito diferente do que foi vista no clássico "Blade Runner" (1982) sendo que ambos os filmes o cenário se encontra sempre chovendo e cuja a luz do sol acaba se tornando quase um mero sonho. Falando em chuva, Batman nunca se casou tão bem com ela como agora, cuja determinadas cenas dele vindo em câmera lenta em meio a água incessante o faz lhe tornar uma figura ainda mais ameaçadora.

Porém, no terceiro ato da trama, o protagonista percebe que quase se tornou parte de um sistema que pretende destruir a cidade, quando na verdade a sua figura não deveria ser equiparada a vingança, mas sim de esperança em meio as sombras. Portanto, ao vermos o personagem se jogar nas entranhas da escuridão para guiar pessoas com medo da morte a cena se torna simbólica e que serve de passagem para que o protagonista tome uma nova iniciativa na vida. Antes disso, vemos um Charada tirar a sua máscara, esfregando verdades na cara do protagonista e cuja atuação de Paul Dano merece uma indicação ao Oscar.

Com uma poderosa trilha sonora criada pelo compositor Michael Giacchino, da qual é alinhada muito bem a com a música "Something in the Way" de Nirvana inserida de forma engenhosa dentro da trama, "The Batman" é sobre a busca de uma luz em meio as trevas e cuja essa cruzada é complexa, porém, recompensadora. 


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