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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 13 de julho de 2022

Cine Dica: Em Cartaz - 'O Acontecimento'

Sinopse: França, 1963. Anne é uma aluna jovem e brilhante com um futuro promissor pela frente. Mas quando engravida, vê desaparecer a oportunidade de terminar os estudos e escapar aos constrangimentos das suas origens sociais. 

Eu sou contra o aborto, pois a prática acaba silenciando uma futura vida que estava a caminho. Porém, eu sou a favor de que aja uma lei que legalize o processo, pois enquanto não haver isso sempre haverá inúmeras jovens que buscam a alternativa clandestina e da qual pode resultar na perda de suas próprias vidas.  No Brasil, em pleno século 21, abortar por livre vontade da Mulher é ainda considerado crime.

As vítimas, em geral, são mulheres negras, menores de 14 anos, moradoras da periferia e de regiões brasileiras menos desenvolvidas economicamente. De 2009 a 2018, o SUS (Sistema de Saúde Pública Brasileiro) registou oficialmente 721 mortes de mulheres por aborto, fora àquelas que o Sistema não teve acesso. Só em 2020, de janeiro a junho, o Brasil registou 642 internamentos por aborto de meninas dos 10 aos 14 anos. Em Portugal, desde 2007 o aborto seguro é permitido e gratuito até a décima semana de gravidez no sistema nacional de saúde pública (SNS).

É um assunto delicado, do qual os que pregam a religião, ou participam da ala conservadora política, gritam aos quatro ventos o quanto isso é abominável, porém, quando alguém próximo a eles se encontra nesta situação dão as costas ou se fazem de desentendido. No recente "Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre" (2020) vemos a cruzada de uma jovem em busca da interrupção de sua gravidez, mas dando de encontro com as adversidades, preconceito e a complexidade da situação. O francês "O Acontecimento" (2021) vai mais a fundo sobre o assunto, principalmente ao retratar a angustia de uma jovem estudante em plena década de sessenta e sendo uma época em que o assunto era um tabu que dificilmente era quebrado.

Dirigido por Audrey Diwan, o filme é uma adaptação do romance de Annie Ernaux, e se passa numa França de 1963, ainda quando o aborto era ilegal no país. Anne é uma estudante com um futuro promissor, e quando descobre que está grávida, ela imediatamente insiste na interrupção, mas seu médico avisa sobre as leis implacáveis contra procurar ou ajudar abortos, e suas tentativas de chegar a seus amigos mais próximos são rejeitadas. À medida que as semanas passam, sem apoio ou acesso, uma Anne cada vez mais desesperada persiste inabalavelmente em buscar qualquer meio possível de interromper a gravidez na esperança de recuperar seu futuro.

Em boa parte do filme Audrey Diwan procura enquadrar a sua protagonista a todo momento, já que somos os seus acompanhantes com relação essa terrível cruzada e sua câmera acaba sendo uma representação do nosso olhar perante a essa angustia. Enquanto acompanhamos cada expressão do seu rosto do qual sintetiza o seu conflito interno, a cineasta procura focalizar também as pessoas ao fundo em sua normalidade, mas mal sabendo da dificuldade que está passando a protagonista naquele momento. Quando, enfim, alguns personagens descobrem sobre o que acontece a maioria recua, seja as amigas próximas ou os homens que fogem sobre o assunto a todo custo.

Se em um primeiro momento podemos julgar as ações da jovem, logo esse sentimento vai tudo por terra quando descobrimos a realidade opressora de um tempo mais conservador, do qual se diz democrático, mas para a mulher daqueles tempos quase parecia totalitário. Anamaria Vartolomei dá um verdadeiro show de interpretação ao dar vida a sua personagem Anne, já que somente com o seu olhar ela consegue passar toda a sua confusão mental que sente nas semanas em que ela busca uma solução, pois ela está disposta a não largar os seus estudos para construir o seu futuro, nem que para isso ponha em risco a sua própria vida. Neste último caso, o segundo e terceiro ato se tornam angustiantes, quase como um filme de suspense, pois ela pode ser pega pelo ato que naqueles tempos ainda era proibido, ou acabar correndo o risco de morrer em um hospital clandestino.

O título do filme se refere ao individualismo do ser humano, já que cada acontecimento em sua vida é algo particular, do qual o mesmo terá que enfrentar e compreender que na vida toda ação tem as suas consequências. O que acontece com a protagonista não cabe ninguém a julgar, mas sim protestar contra uma sociedade que não soube e que até hoje não sabe administrar um assunto do qual muitas jovens sofrem e até mesmo morrem quando poderiam ter sido ajudadas neste doloroso dilema. Ou a mulher obtém o total direito de seguir o seu próprio caminho ou continuaremos sempre neste ostracismo.

"O Acontecimento" é um verdadeiro soco no estômago, mas do qual precisa ser sentido, discutido, ou muitas jovens pelo mundo continuarão morrendo. 


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