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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 25 de julho de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre - 'Os Primeiros Soldados'

 Nota: filme exibido para associados no último sábado (23/07/22). 

Sinopse: Em Vitória, na virada de 1983, um grupo de jovens LGBTQIA+ celebra o réveillon sem ideia do que se avizinha. O biólogo Suzano sabe que algo de muito terrível começa a transtornar seu corpo. 

Quando a pandemia do Covid-19 se espalhou pelo mundo existiam todas as informações e as regras sanitárias para se evitar o contágio em larga escala. Porém, isso não foi o suficiente para evitar milhares de mortes, já que a maioria dos governos não levaram a situação a sério, mesmo quando o número de mortes já estava mais do que explícito. E se os governos atuais não se aceleraram para evitar essa tragédia o que dizer quando surgiu a AIDS nos anos oitenta.

Tendo começado os primeiros registros em 1981 nos EUA e, dois anos mais tarde, foi identificado como HIV, a AIDS gerou inúmeras desinformações e preconceito, já que no início a contaminação estava mais concentrada na comunidade LGBT e gerando assim uma realidade alternativa em que os héteros sexuais acreditavam que não pegariam tal doença. O tempo provou o quanto estavam errados, mas não sendo o suficiente que acelerassem uma busca pela cura e sendo que essa cruzada perdura até nos dias de hoje.

O cinema, por sua vez, teve um papel até mesmo fundamental para que essa cortina de informações falsas fosse deixada de lado e revelando os verdadeiros fatos. O drama "Filadélfia" (1993) mostra a luta de um advogado em busca de justiça por ter sido demitido de forma injusta enquanto o recente "120 Batimentos Por Minuto" (2017) a trama se passa no início dos anos noventa, onde um grupo ativista Act Up intensifica seus esforços para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da aids. E eis que chegamos, finalmente, ao "Primeiros Soldados" (2022), onde retrata a inocência de uma juventude que mal sabia do perigo que estaria por ver nos primeiros anos de década de oitenta.

Dirigido por Rodrigo de Oliveira, do documentário "Todos os Paulos do Mundo" (2018), a trama se passa no Réveillon da virada de 1983 para 1984, onde um grupo de jovens capixabas homossexuais decidiram celebrar o ano novo juntos, mas sem terem ideia do mal que estava por vir. Suzano, que é biólogo, começa a perceber os sinais logo cedo. Com futuro incerto e falta de informação, o biólogo se aproxima a Rose, uma transexual, e do videomaker Humberto, ambos também infectados.

Com uma estética que remete fielmente o visual daqueles longínquos anos, Rodrigo de Oliveira surpreende na utilização de imagens em vídeo, onde nos faz lembrar de tempos em que usávamos vídeo cassetes e registrávamos o dia a dia de nossas vidas. Aqui, o recurso é usado de uma forma na realização de um falso documentário, ou seja, a maneira que o trio central da trama encontrou para dissecar e analisar passo a passo sobre o que realmente estava atingindo os seus corpos. Aos poucos, o horror da verdade é revelado e nada pode ser mais feito, a não ser alertar o maior número de pessoas possível.

Com um elenco estelar, o filme tem coração, alma e sangue através do trio central, mais precisamente sendo interpretados Johnny Massaro, Vitor Camilo e Renata Carvalho. Essa última, aliás, protagoniza uma das cenas mais emblemáticas do filme como um todo, ao falar direto para câmera, com palavras de dor e fúria e que representa, não somente a revolta perante o preconceito e a desinformação, como também palavras que ressoam até mesmo nos dias de hoje. Embora a trama se passe nos anos oitenta não tem como não fazer uma comparação sobre os tempos nebulosos em que vivemos e do qual pagamos um alto preço.

Acima de tudo, o filme é um retrato da luta de uma população que foi largada a própria sorte e coube os mesmos saírem das sombras e pedirem socorro para assim continuarem vivendo. Neste último caso, por exemplo, isso é muito bem representado pelo personagem de Johnny Massaro e que, talvez, tenha nos entregado uma das interpretações mais poderosas do nosso cinema brasileiro deste ano. Com uma criativa inserção da clássica música "Fala" do grupo Secos & Molhados com Ney Matogrosso, "Os Primeiros Soldados" é um filme sobre um passado doloroso, mas cuja essa dor repercute até os dias de hoje e cabe nós acharmos a cura mesmo que ela ainda se encontre distante. 


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