Cinemateca Capitólio estreia na próxima semana a nova cópia do primeiro longa-metragem restaurado de seu acervo
No próximo dia 17 de setembro, às 20h, a Cinemateca Capitólio apresenta pela primeira vez ao público gaúcho a longamente aguardada restauração em 4K do clássico do cinema gaúcho Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odilon Lopez (1941-2002), primeiro longa assinado por um diretor negro no Rio Grande do Sul. O projeto de restauração digital de Um é Pouco, Dois é Bom foi viabilizado através de uma parceria entre a Cinemateca Capitólio, a Indeterminações, plataforma de crítica e cinema negro brasileiro, e a Mnemosine Serviços Audiovisuais, e contou ainda com o apoio do Itaú Cultural. O filme é produzido, roteirizado, protagonizado e dirigido por Odilon Lopez e tem diálogos assinados por um jovem Luis Fernando Verissimo, então ainda em início de carreira. Dividido em dois episódios, “Com... um Pouquinho de Sorte”, protagonizado por Araci Esteves e Carlos Carvalho, e “Vida Nova... por Acaso”, em que Odilon Lopez é o protagonista ao lado de Francisco Silva, o filme equilibra drama e humor para falar das desigualdades do país durante a ditadura militar, além de trazer uma abordagem pioneira sobre o racismo.
A estreia da restauração digital de Um é Pouco, Dois é Bom aconteceu no 13º Olhar de Cinema, em Curitiba, no último mês de junho. O filme integrou a seção Olhares Clássicos deste que é um dos eventos cinematográficos mais prestigiados do Brasil. Na ocasião, Gabriel Borges, um dos diretores artísticos do festival, destacou que “na história do casal Jorge e Maria ou na jornada pelas desventuras dos cativantes Magrão e Crioulo, o cineasta adentra, pelo particular, o debate de questões sociais, como o racismo e a marginalização cíclica de seus personagens, neste que é o primeiro longa-metragem dirigido por uma pessoa negra no Sul do Brasil”. Além da exibição, o filme de Odilon Lopez foi objeto de uma mesa de debate no festival paranaense, que contou com a participação de Vanessa Lopez (filha de Odilon Lopez), Lorenna Rocha e Gabriel Araújo (da Indeterminações), Debora Butruce (responsável pela restauração) e Marcus Mello (representando a Cinemateca Capitólio). Desde então, o filme já tem convites para exibições em Lisboa, em Londres, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A restauração digital
O processo de restauração digital em 4K de Um é Pouco, Dois é Bom se deu a partir dos negativos originais de imagem e som em 35mm do filme, que se encontram depositados em perfeito estado de conservação na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Até o momento, apenas a segunda parte do filme, formado por dois episódios, estava disponível (digitalizada em baixa resolução em 2006 pelo ator, diretor e produtor Zózimo Bulbul), limitando o conhecimento da obra em sua integralidade. O primeiro episódio, protagonizado por Araci Esteves e Carlos Carvalho e visto por muito poucos espectadores, agora poderá ser assistido e certamente surpreenderá os espectadores pela contundência de sua crítica ao milagre econômico brasileiro.
O cotejo dos negativos com a única cópia positiva em 35mm ainda disponível do filme, depositada desde 2017 no acervo da Cinemateca Capitólio, possibilitou a descoberta de material inédito, com sequências mais longas e planos nunca antes vistos. Devido ao excelente estado de conservação do material, também foi possível recuperar a exuberância de suas cores.
A digitalização em 4K de Um é Pouco, Dois é Bom foi realizada no laboratório da Link Digital, no Rio de Janeiro, O trabalho teve a supervisão de Debora Butruce, conceituada profissional da área da preservação audiovisual, responsável pela restauração de obras importantes do cinema brasileiro como Rainha Diaba, A Hora da Estrela e Os Mucker.
Serviço:
Exibição da cópia restaurada de Um é Pouco, Dois é Bom, de Odilon Lopez
Data: 17 de setembro de 2024
Hora: 20h
Local: Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085)
Entrada gratuita (retirada de ingressos a partir das 19h)
Lotação: 164 lugares
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