Nota: Filme exibido para os associados no dia 31/08/24
A questão da eutanásia é um assunto delicado, mas que é preciso ser discutido. O cinema, por exemplo, possui diversos filmes em que se explora o assunto, não exatamente a favor, mas cujo determinados longas dê espaço para os prós e contras com relação a questão. Curiosamente, no ano de 2004, "Menina de Ouro", do diretor Clint Eastwood, explorou esse tema com delicadeza em seu ato final e, ao mesmo tempo, surgia "Mar Adentro", do diretor Alejandro Amenábar.
Vencedor dos prêmios Globo de Ouro e o Óscar para melhor filme estrangeiro, o filme foi um sucesso de bilheteria no seu país e no mundo a fora. Porém, já havia algum tempo que o realizador já merecia algum prêmio, mais precisamente a partir do filme "Abre los ojos" (1997) e que deu origem a versão americana "Vanilla Sky" (2001) do diretor Cameron Crowe. Em território americano, ele realizou "Os Outros" (2001) e apontado por muitos críticos como um dos melhores filmes de horror daquela época.
Porém, adquirir as premiações por "Mar Adentro" não foi uma espécie de reconhecimento tardio, mas sim mais do que merecido ao ser um projeto desafiador e cuja temática nem todos querem tocar nela. A trama fala sobre a eutanásia, sobre o direito de viver com liberdade e morrer com dignidade. Para os desinformados que gostam da possibilidade de falar mal de algo antes de assisti-lo, o filme convida aqueles que são contra e a favor para se fazer uma reflexão ao invés de polemizar.
O desejo de deixar a vida perante as limitações físicas sintetizam a jornada do protagonista, estando preso por três décadas em uma cama. Rámon Sampedro lamenta o próprio desejo de morrer e faz uso, em todos os momentos, de uma lucidez comovente e muito bem construída pelo ator Javier Bardem. Uma das cenas marcantes do filme, pontuada com um toque subtil do gênero fantástico, Rámon sai da cama, atravessa a janela e voa em céu aberto para que, enfim, possa saciar pelo seu maior desejo naquele momento.
O humor ácido se faz presente também na obra como um todo. As diferenças ideológicas e religiosas são ridicularizadas por Aménabar, fazendo com que o protagonista discuta com um padre que se encontra em uma cadeira de rodas e que não consegue subir até o seu quarto para conversar com ele frente a frente. Aliás, é neste tipo de ilustrações que Aménabar ganha pontos. Porque, como dizia no início, se o tema é vulgar, a forma de o abordar assume, em “Mar Adentro”, muitas maneiras diversificadas.
O diretor procura não subir a bandeira com relação ao tema como um todo, mas sim sendo fiel aos fatos, pois afinal a história é verídica. Durante anos, um sujeito espanhol, com o mesmo nome que o protagonista de “Mar Adentro”, tentou obter na Justiça o direito de morrer. Por fim, concebeu um plano para cometer o suicídio. A investigação aberta após a sua morte, em 1998, não chegou a nenhuma conclusão quanto aos responsáveis pelo seu desaparecimento.
No final de contas, o filme funciona com certo mérito no sentido de nos convencer a fazer uma análise profunda e que nos coloca ao lado do protagonista independe de sua escolha. A obra nos toca e por causar uma estranha sensação, mas da qual é distinta se formos comparar com a opinião de outros que forem assistir a obra. "Mar Adentro" é um longa para ser visto e analisado de mente aberta, desde que você consiga deixar de lado por alguns momentos as suas convicções e das quais acreditou ao longo da vida.
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