Sinopse: O capitão Ludvig Kahlen tenta cultivar um terreno árido para ganhar o favor real, mas o proprietário das terras se opõe à sua presença. A situação piora quando ele dá abrigo a alguns servos que fogem do tirano.
Mads Mikkelsen é um ator Dinamarquês versátil, que sabe conduzir a sua carreira em filmes indispensáveis vindos da Europa, como também em trabalhos previsíveis feitos para Hollywood. Se por um lado ele nos brinda com atuações como "Druk - Mais uma Rodada" (2020), o mesmo tem o direito de até mesmo atuar em franquias americanas que estão à beira do precipício como "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" (2022). Em "O Bastardo" (2023) o interprete está mais do que a vontade ao dar uma vida por um personagem que dá o sangue pela terra, nem que para isso corra o risco de perder a sua própria alma.
Dirigido por Nikolaj Arcel, que já havia trabalhado com o ator em "O Amante da Rainha" (2012), o filme é baseado em fatos reais sobre a cruzada de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen), um soldado e explorador dinamarquês do século XVII. Seu objetivo é explorar e transformar a selvagem Jutlândia, uma vasta região da Dinamarca que hoje constitui a maior parte do país. Porém, ele terá que enfrentar a ganancia de um dono de uma fazenda local chamado Frederik (Simon Bennebjerg) e que não medirá esforços para destruir os planos de Ludvig.
Embora seja inspirado em um personagem histórico, o filme é baseado no livro de Ida Jessen, The Captain and Ann Barbara, lançado em 2020 e sendo que o próprio autor tomou liberdades criativas para o desenvolvimento da história. Nota-se isso em sua adaptação, já que a jornada do protagonista em transformar a terra que ele se encontra em fértil possui diversas reviravoltas ao longo da trama e que por si só parecem extraídas de um livro cujo intuito é manter atenção do leitor. Porém, embora com algumas passagens forçadas da trama, o filme se sustenta graças a sua direção caprichada, reconstituição de época precisa e com ótimos desempenhos do elenco em cena.
Mads Mikkelsen novamente nos brinda com uma ótima atuação, do qual constrói para si um Ludvig Kahlen obsessivo pelo seu sonho na construção de uma colônia, nem que para isso tenha que enfrentar as ambições do vizinho local, além das superstições da época e que somente dividiam as pessoas. No decorrer do tempo, porém, a superfície dura do seu ser começa a se descascar e revelando um ser humano dependente do calor humano, mesmo quando as suas atitudes duras dizem ao contrário. Se por um momento sentimos raiva pelo seu lado autoritário, logo ele obtém a nossa afeição quando começa a baixar a sua guarda no seu devido tempo.
Curiosamente, Simon Bennebjerg interpreta um antagonista, por vezes, caricato, mas que consegue fazer com que tenhamos certo receio com relação ao seu próximo ato contra o protagonista. Os desdobramentos da trama chegam em um ponto que parece até mesmo impossível que haverá um final feliz, pois em meio a eles acontecem mortes, traições e jogos políticos pelo poder em adquirir a terra a todo custo. Ao final, concluímos que da terra a gente nada se leva, mas sim as nossas ações que nos fazem a gente ser lembrados após termos partido desta vida.
Embora extenso em alguns momentos, "O Bastardo" é um ótimo épico com teor psicológico, em que a luta pelo poder tem um grande preço e que por vezes não vale a pena tamanho esforço.
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