Sinopse: As almas gêmeas Eric Draven e Shelly Webster são brutalmente assassinadas quando os demônios de seu passado sombrio os alcançam. Atravessando os mundos dos vivos e dos mortos, Draven retorna em busca de vingança sangrenta contra os assassinos.
"O Corvo" (1994) de Alex Proyas é sem sombra de dúvida uma das melhores adaptações de HQ para o cinema, ao saber nos passar uma história sobre vingança e com algumas pinceladas do gênero fantástico. Infelizmente o filme rendeu diversas continuações, sendo uma pior do que a outra e sempre existindo a possiblidade de um reboot surgir no horizonte. Eis que então surge "O Corvo" (2024), filme que dá nova roupagem ao conto, mas não obtendo o mesmo brilho do clássico.
Dirigido agora pelo diretor Rupert Sanders, de "Branca de Neve e o Caçador" (2012), nesta nova versão, Eric Draven (Bill Skarsgård), é um rapaz viciado em drogas que se apaixona por Shelly Webster (FKA Twigs) em uma penitenciária de reabilitação. Após fugirem do local, ambos são brutalmente assassinados a mando de um misterioso homem, visto que a jovem possuía provas de um crime cometido. Sem conseguir descansar e determinado a corrigir os erros do passado, Eric então retorna do além em busca de vingança, caçando até o fim do mundo o responsável pelo assassinato da sua amada.
Basicamente a história é a mesma, mas sendo reescrita para ser apresentado para as novas plateias e eu acho que é aí que se encontra o pior erro do filme. Se no original havia uma simplificação coerente com relação ao lado sobrenatural da trama, aqui nós somos bombardeados por informações, por vezes, vazias sobre a vida pós morte e do qual não ajuda em nada com relação a sua sustentação. Aliás, o filme peca ao fingir ser gótico através de diversos recursos, com o direito de um CGI dispensável ao ser usado no mundo do além.
E se na versão original não havíamos testemunhado a construção da relação entre Eric Draven e Shelly Webster, aqui eles gastam mais de meia hora para sabermos como eles se conheceram e se apaixonaram. O problema neste caso está na falta de química de ambos os interpretes, sendo que não nos convence e não faz a gente acreditar que há ali um amor de verdade. FKA Twigs é uma conhecida cantora da música pop, mas por enquanto não nos convence como atriz e prejudicando o primeiro ato em si.
Porém, é preciso reconhecer que Bill Skarsgård carrega o filme nas costas, ao construir um Eric Drave que se difere com relação ao que Brandon Lee havia feito e obtendo assim a sua identidade própria. Mas, se na versão original os vilões eram bem apresentados, principalmente por aquele interpretado por Michael Wincott, aqui quase nenhum merece destaque, sendo que nem ao menos é explicado direito o lado sobrenatural em volta deles e não restando nada para nós a não ser aceitar essa proposta superficial. Mesmo sendo vilão principal, Danny Huston nos últimos tempos tem abraçado somente o lado caricato de suas interpretações e muito distante dos seus bons desempenhos em início de carreira.
Ao menos, a direção capricha em algumas cenas de ação, sendo que a violência aqui é quase cartunesca, pois é muito sangue exagerado, ao ponto de tudo ficar gore. Nestas cenas, por exemplo, Bill Skarsgård está quase sempre ensanguentado, mas fazendo com que isso colabore para que o seu olhar nos transmite alguém indo de encontro com o lado irracional da situação. O ápice disso se concentra na sequência do teatro onde acontece uma grandes opera.
É uma pena, portanto, que temos que aguentar todos os poréns desse filme para chegarmos até esse momento, pois ela é muito bem filmada, onde o protagonista atira, corta os oponentes com a sua espada e se casando com perfeição com a música ouvida na apresentação. Tudo é muito belo, cartunesco, estiloso e sendo, talvez, uma das melhores cenas que Rupert Sanders filmou em sua carreira. Porém, por mais épica que seja, ela não salva o filme de correr o sério risco de cair no esquecimento.
Ao meu ver, a produção foi filmada de um modo para que se diferenciasse das mais diversas adaptações de HQ para o cinema recente. Contudo, não adianta somente se diferenciar pela superfície, mas também saber tratar a proposta principal da história com mais carinho, menos pirotecnia e sem muitas explicações, pois por demais nubla a sua essência. Alex Proyas em 1994 conseguiu tudo isso com um orçamento minúsculo, mas sendo filmado de coração acima de tudo.
"O Corvo" é um filme por vezes belo, porém, vazio na sua maioria do tempo e desperdiçando a chance de nos brindar com um grande espetáculo.
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