A questão sobre o envelhecimento já foi levada ao cinema nas mais diversas formas, tanto de maneira verossímil, como também se entrelaçando com o universo do fantástico. O clássico "Cocoon", (1985), por exemplo, vemos um grupo de idosos tendo as suas vidas alteradas quando começam a ter contato com extraterrestres. "Nosso Amigo Extraordinário" (2023) segue uma linha narrativa similar, mas de forma mais simplória e extremamente humana.
Dirigido por Marc Turtletaub, o filme conta a história de Milton Robinson (Ben Kingsley), um senhor resmungão que leva uma vida tranquila na Pensilvânia - mas sua paz é abalada quando um misterioso OVNI cai no quintal de sua casa. Apesar do susto inicial, Milton acaba, aos poucos, se aproximando do extraterrestre apelidado carinhosamente de Jules (Jade Quon). Aconselhado por uma amiga, o homem decide manter a existência do ET em segredo, enquanto tenta descobrir uma forma de enviá-lo de volta para o lugar de onde veio. Porém, no processo, ele acaba criando laços inesperados com o visitante, que pode estar correndo um grande risco caso seja descoberto.
O filme em si funciona ao fazer com que nos identifiquemos com os personagens principais, pois não é de hoje que vemos pessoas de idade avançada buscando uma forma de serem ouvidas, seja pedindo atenção aos filhos, ou até mesmo de pessoas que vão conhecendo ao longo do percurso. No caso do protagonista, por exemplo, ele age de forma surpreendente perante uma situação inusitada, mas que vê na vinda do misterioso ET uma chance de ser ouvido e podendo assim se abrir e liberar o que tem por dentro. O veterano Ben Kingsley constrói para si um personagem comum perante uma situação fora do normal, mas cuja suas ações soam criveis.
Não deixa de ser engraçado, por exemplo, quando ele é realmente sincero ao dizer que tem um ET no seu quintal para as demais pessoas e cuja reações dessas mesmas, logicamente, são as mais previsíveis possíveis. Curiosamente, as personagens Sandy e Joyce, interpretadas pelas veteranas Harriet Sansom Harris e Jane Curtin buscam uma forma de serem ouvidas na reunião da comunidade, mas quase sempre sendo ignoradas. Quando descobrem que há um ET na casa do seu amigo imediatamente elas veem na figura misteriosa uma forma de realmente se abrirem e poderem ter a chance de se sentirem vivas.
O filme em si fala sobre a solidão, de como ela pode ser implacável quando chegamos a uma certa idade e cuja chance de obter uma atenção vale ouro quando não se tem ninguém para poder se abrir. A figura do ET, portanto, se torna uma mera desculpa para esses personagens desabrocharem, mas ao mesmo tempo reconhecendo que o mundo do qual vivem ainda pode ser reconfortante mesmo quando tudo parece mais nebuloso quando o tempo cada vez mais vai avançando. Curiosamente, a figura do ET é calada, porém, bastante expressiva e sendo feita pela atriz Jade Quon que nos passa vida em seu olhar mesmo em meio a uma pesada maquiagem.
"Nosso Amigo Extraordinário" é uma curiosa comédia dramática, ao saber enlaçar elementos verossímeis com o gênero fantástico e nos surpreendendo com os seus desdobramentos.
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