Sinopse: Um homem cai do pico de uma montanha e morre. O detetive responsável pelo caso, Haejoon (PARK Hae-il), vai ao encontro da viúva da vítima. Seo-rae (TANG Wei) não mostra nenhum sinal de agitação com a notícia da morte do marido.
Park Chan-Wook abriu as portas para o mundo conhecer ainda mais o cinema Sul Coreano, ou mais precisamente foi a partir do seu clássico "Old Boy" (2003) que, não somente descobrimos a forma de se fazer cinema por lá, como também nos revelar as suas obsessões. Conhecido pela trilogia da "Vingança", Park Chan-Wook sempre teve uma predileção por personagens obsessivos, que vão até o fundo de determinada situação, mas que acabam se encontrando em um cenário nenhum pouco acolhedor. "Decisão de Partir" (2022) é mais uma mostra dos seus vícios, mas explorando novas formas de contar uma história e nos surpreendendo ao criar sensações em nós até então inéditas com relação a sua filmografia.
Na trama, Hae-joon (Park Hae-il) é o mais jovem inspetor do departamento de polícia de Busan. Nos fins de semana, ele vive em uma cidade litorânea enevoada com sua amada esposa, mas durante a semana na cidade ele é tão dedicado ao seu trabalho que faz vigias todas as noites em vez de dormir. Mas, sua vida começa a se complicar quando o corpo de um alpinista é encontrado na base de uma montanha rochosa íngreme. O principal suspeito é a viúva do homem, Seo-rae (Tang Wei), uma bela imigrante chinesa que não parece nem um pouco chateada com sua morte.
Para o cinéfilo de carteirinha irá perceber que o realizador bebeu e muito da fonte do gênero policial norte americano, principalmente com relação aos clássicos "Extinto Selvagem" (1993) e "Um Corpo que Cai" (1958) do mestre Alfred Hitchcock. Neste último caso, por exemplo, constatamos que há uma predileção por esse em homenageá-lo, já que a trilha sonora ecoa familiar, como se fosse extraída de diversos filmes do pai de "Psicose" (1960). Porém, Park Chan-Wook busca somente uma ideia como inspiração, para logo depois controlar as rédeas até o seu final.
Para começar, novamente, o diretor coloca na mesa personagens que se tornam obsessivos um pelo outro, ao ponto que chegamos a rir de determinadas situações que beiram ao absurdo, porém, não fugindo da realidade da qual eles se encontram. Curiosamente, o humor acaba até mesmo se tornando um novo elemento do cineasta, do qual o mesmo chocava em seus filmes anteriores, muito embora nos provocava uma mudança de direção no canto de nossa boca com o seu humor sombrio. Aqui, o humor é quase caricato, como se nos provocasse uma vontade de sacudir o protagonista principal para não ser tão tolo, embora a gente conclui que ele seja um viciado em seu trabalho e tendo como novo aperitivo uma viúva que lhe faz ficar curioso e despertando nele um desejo de continuar ainda mais a fundo neste caso.
Park Chan-Wook procura alinhar a sua visão autoral na realização de seus filmes com a perspectiva do seu personagem principal. Reparem, por exemplo, quando o mesmo fica observando de longe a principal suspeita, para logo depois vermos ele no mesmo local onde ela se encontra, como se houvesse um anseio dele em estar mais próximo a ela ou até mesmo em sua obsessão em querer se teletransportar no momento em que ocorre o principal crime da história. Na medida em que o caso não fica solucionado eles acabam se aproximando cada vez mais intimamente, mas tendo sempre uma nova carta na mesa para que o seu lado profissional do policial afloressa.
Tudo isso funciona não somente graças a mão segura do realizador, como também pelo incrível desempenho do seu casal principal. Os atores Tang Wei e Park Hae-il fazem dos seus respectivos personagens se tornarem os dois lados da mesma moeda, ao ponto do personagem Park Hae-il não conseguir mais conviver sem a sua principal suspeita, mesmo sabendo no fundo que irá consumi-lo de uma forma jamais vista. Como se ainda não bastasse um novo caso é aberto, onde a ela se torna novamente a principal suspeita e fazendo dela uma verdadeira viúva negra.
Park Chan-Wook realiza, portanto, um filme que nos provoca diversos sentimentos, onde não temos ao certo uma certeza se queremos que ambos terminem juntos ou se ele consiga finalmente obter um bom senso antes que seja tarde para o mesmo. O ato final nos revela surpreendente, ao ser revelado camadas que escondiam diversos segredos envolvendo ambos os personagens e culminando em um dos finais mais surpreendentes que eu já vi do cinema recente. Ao final ficamos que nem o protagonista perdido a deriva, mas agradecendo ao cineasta por ter nos levados nesta corrente completamente instável em sua filmografia.
"Decisão de Partir" é o mais puro cinema de Park Chan-Wook, onde ele mantém a sua essência, mas ao mesmo tempo nos ensina como se faz para apreciarmos um verdadeiro cinema.
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