Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Garoto problemático tem segunda chance na vida através de uma escola de Coro.
O cinema possui inúmeros filmes em que se explora a música em sua total magnitude e que, por vezes, desafia os seus protagonistas a se superarem na vida através dessa arte. "Whiplash: Em Busca da Perfeição" (2014) talvez seja o melhor exemplo com relação a esse meu pensamento e sendo facilmente apontado como um dos melhores filmes desses últimos dez anos. Embora não chegue ao nível de perfeição, "Coro" (2015) é delicioso ao assisti-lo, ao nos identificarmos com os protagonistas que buscam o seu talento no mais profundo do seu ser.
Dirigido por François Girard, do filme "Violino Vermelho" (1998), o filme conta a história de Stet (Garrett Wareing), um confuso garoto-problema de 11 anos de idade, que sofre com a recente morte de sua mãe solteira em um acidente de carro. Ele acaba em um internato, onde ele se sente um peixe fora d'água. Logo, ele bate de frente com o maestro do coral do colégio, Carvelle (Dustin Hoffman), que reconhece algo especial na voz de Stet. O professor vai influenciá-lo a descobrir seu dom criativo na música e o jovem rebelde vai provar que consegue atingir os padrões exigidos para participar do coral, orgulho da famosa escola.
O primeiro ato já nos pega um pouco desprevenido, não só pelo fato da morte repentina da mãe do protagonista, como também pelo fato do mesmo nos surpreender em possuir o dom pela música mesmo aparentando ser um rebelde sem causa. Na medida em que a trama avança, o jovem acaba aos poucos abaixando a guarda e deixando a magia da música molda-lo para uma realidade que antes ele desconhecia, mas da qual ele sempre tinha a chave para abrir a porta. Logicamente ele recebe ajuda daqueles que enxergam nele algo muito além de um simples jovem, mesmo quando alguns ainda ficam na dúvida sobre ele.
Tecnicamente o filme é aquela típica obra que poderia ser facilmente exibida nos finais de ano, já que a trama sempre tem como pano de fundo momentos festivos como o natal e a músicas do coral sintetizam muito bem essa minha visão. Com uma fotografia de cores que transita entre o frio e o colorido, isso acaba por ser uma espécie de representação das mudanças que o jovem protagonista vai passando, desde ao se tornar um dos principais do coral, como também o fato dele ir amadurecendo e conseguindo obter assim o seu caminho. Por conta disso, o personagem de Dustin Hoffman nada mais é do que uma espécie de mentor que, embora não tenha o mesmo patamar de outros grandes mentores do cinema, o veterano ator consegue fazer o dever de casa ao construir um personagem que transita entre o seu lado pretensioso e a humildade na medida certa.
Como não poderia deixar de ser, o filme se encaminha para um ato final em que a maioria já irá adivinhar o que irá acontecer. Porém, isso não tira o brilho do filme como um todo, principalmente quando temos o privilégio de ouvir o clássico "O Messias" através do coral cantado por esses jovens. Vale destacar que o filme é inspirado no American Boychoir School, um dos corais mais respeitados do mundo, com sede em Nova Jersey.
Com pouco mais de uma hora e meia, "O Coro" é um filme sobre o indivíduo comum que busca pelo seu "eu" verdadeiro através da arte da música e para que assim consiga encontrar o seu real caminho para trilhar na vida.
Queremos te convidar para este encontro muito especial que, antes de ser a inauguração de um novo curso, trata-se de um novo momento para o Cinema Popular. A partir de agora vamos nos dedicar ao estudo do cinema, da fotografia e da imagem em interface com a Teoria Feminista. Começaremos a jornada trazendo a segunda edição do curso O Som, a Fúria e as Imagens. Nesta edição, vamos traçar um panorama acerca de Artistas Mulheres Latinas - da performance ao audiovisual. A partir da ideia de uma dicotomia entre público e privado, discutiremos seus significados éticos e estéticos pela perspectiva de gênero. Com Nadia Granados, Leonora de Barros, Lissette Orozco, Carol Benjamin, Márcia X, Dolores Salcedo e tantas outras, vamos dar corpo a nossa fúria experienciando outras formas de narrar-se, lembrar-se, imaginar-se e pensar-se. Como sempre, nos faremos obra de arte por entre dobras e partilhas.
12/05/2021 - Quarta-feira, às 19h | Aula aberta e gratuita
Nesta aula, ABERTA E GRATUITA, traçaremos um panorama geral de artistas mulheres e latinas que, enquanto subjetividades dissidentes, propõe novas formas de operar com as imagens do corpo e da memória. Desta forma, tensionam a dicotomia entre público e privado - como nos sugere Susan Okin.
Te inscreve no grupo do curso no Telegram, pois é por lá que enviaremos o link e o material da aula.
Iasmin Schleder é formada em Fotografia pelo Centro Universitário FADERGS. Durante a graduação realizou, em 2019, um intercâmbio no IADE - Creative University em Lisboa/Portugal, onde cursou Fotografia e Cultura Visual. Realizou, em 2019, duas exposições de seu projeto fotográfico ‘Pieces Project’, uma em março, como parte da Programação Especial 8M, realizada na Fora da Asa - Experiências Plurais, Porto Alegre/RS; e outra em junho, no Centro Cultural Ordovás, Caxias do Sul/RS. É uma das idealizadoras da Teto Coletivo.
Luciana Tubello Caldas é idealizadora do Projeto Cinema Popular, que desde 2014 oferece oficinas teóricas e práticas de cinema, gratuitas ou a preços populares. Como cofundadora do Cineclube Academia das Musas, já participou de cinedebates, palestras e publicações na área do cinema. Em 2020, passou a integrar a Associação de Críticos de Cinema do RS - ACCIRS.
Filmes coreanos inspiram competição de produções amadoras
O Cinema Coreano, um dos mais prestigiados e premiados do mundo, é tema de concurso realizado pela Embaixada da República da Coreia no Brasil em parceria com a Cine UM Produtora Cultural e curadoria de Josmar Reyes.
Com o objetivo de divulgar e promover as produções coreanas (filmes e kdramas) o CONCURSO NACIONAL DE AUDIOVISUAL COREANO (CNAC) é aberto a residentes no Brasil, maiores de 18 anos (inclusive), nas categorias estudantes e não-estudantes.
Os participantes interessados devem produzir vídeos de 2 a 6 minutos que façam referência (paródia, pastiche, imitação, menção, releitura) a cenas selecionadas de 10 (dez) filmes e kdramas coreanos. Os filmes indicados são: “Certo Agora, Errado Antes” de Hong Sang-Soo, “Parasita” de Bong Joon-Ho, “Old Boy” de Park Chang-Wook, “Em Chamas” de Lee Chang-Dong e “Minari” de Lee Isaac-Chung. Os kdramas são: “My Love from the Stars”, “Descendants of the Sun”, “Goblin”, “Sky Castle” e “Crash Landing on you”. As cenas selecionadas das produções estão disponíveis para os interessados no Google Drive (link https://bit.ly/2S8Nh2Z) O áudio dos vídeos inscritos pode ser em português ou em coreano (neste caso o vídeo deverá ser legendado em português). É vetado o recurso do yellow face.
Os vídeos selecionados serão exibidos e premiados durante o “Festival República da Coreia 2021”. Os vencedores recebem menções honrosas, certificados e artigos eletrônicos da indústria coreana.
As inscrições para o CNAC estão abertas até o dia 21 de maio de 2021.
O cinema feito por mulheres é um fenômeno vigoroso e de longa data no Brasil. Entretanto, muitas vezes a trajetória das nossas cineastas acaba minimizada ou esquecida nos livros de história do cinema. Nas últimas duas décadas, a insurgência dos movimentos sociais em prol da equidade de gênero impulsionou pesquisadoras e pesquisadores a resgatarem a presença artística das mulheres no audiovisual.
OBJETIVOS
O Curso online MULHERES DIRETORAS NO CINEMA BRASILEIRO, ministrado por Daniela Strack, deseja lançar luz à trajetória das cineastas mulheres no contexto brasileiro. A partir da análise da vida e obra de algumas de suas principais cineastas, o curso propõe um novo olhar para a história do cinema brasileiro.
CONTEÚDOS
Aula1
Percursos invisíveis: as primeiras cineastas
1) Breve panorama dos estudos sobre mulheres no cinema brasileiro;
2) De personagem à cineasta: as pioneiras do cinema brasileiro (Cléo de Verberena, Carmen Santos, Gilda de Abreu);
3) Mulheres diretoras nas décadas de 60 e 70 (Helena Solberg, Tereza Trautman, Vera de Figueiredo);
4) Amor Maldito e as cineastas pós ditadura militar (Adélia Sampaio, Suzana Amaral, Lúcia Murat).
Aula 2
Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro contemporâneo
1) A geração pós-retomada (Tata Amaral, Anna Muylaert, Ana Luiza Azevedo, Laís Bodanzky);
2) Helena Ignez e Paula Gaitán: longos percursos, novos cinemas;
3) Mulheres no cinema brasileiro contemporâneo.
Curso online
MULHERES DIRETORAS NO CINEMA BRASILEIRO
de Daniela Strack
Datas
01 e 02 / Maio
(sábado e domingo)
Horário
14h às 16h
Duração
2 encontros online
(carga horária: 4 horas / aula)
Investimento
R$ 80,00 (parcelado em até 12x)
PROMOÇÃO
Valor Especial para as primeiras 10 inscrições: R$ 60,00
Mesmo com as restrições devido a pandemia ocorreu, enfim, o Oscar 2021 e coroando a diversidade que já havia sido sentida no ano passado com a vitória do filme Coreano "Parasita". Chloé Zhao, por exemplo, se torna a segunda mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção pelo filme "Nomadland" e sendo a primeira mulher Chinesa a ganhar o tão sonhado prêmio. O filme, aliás, levou os prêmios também de Melhor Filme e, novamente, Oscar de Melhor Atriz para Frances McDormand e tornando uma das atrizes mais premiadas da academia.
A expectativa maior da noite ficou por conta da categoria de melhor ator, já que a maioria estava apostando em uma vitória póstuma para o falecido ator Chadwick Boseman pelo filme "A Voz Suprema do Blues". Porém, os membros da academia precisaram reconhecer a fantástica atuação de Anthony Hopkins pelo filme "Meu Pai" e recebendo, enfim, o seu segundo Oscar na carreira. Por outro lado, não foi dessa vez Glenn Close ganhou o seu tão sonhado primeiro Oscar pelo seu desempenho pelo filme "Era Uma Vez um Sonho", mas sim a veterana atriz coreana Yuh-Jung Youn pelo filme "Minari".
Com diversos filmes com teor bastante político, muitos dos indicados e que saíram vencedores são uma representação do discurso contra o fascismo de hoje, principalmente em um EUA pós Donald Trump. "Judas e o Messias Negro", por exemplo, foi coroado com dois Oscar, dentre eles para Daniel Kaluuya ao interpretar um famoso líder do partido Panteras Negras e que foi brutalmente assassinado por agentes do governo dos EUA. Em tempos em que o país sofre novamente com atentados e mortes provados pelas armas, o curta "Se Algo Acontecer...Te amo" saiu triunfante com o Oscar de Melhor Curta de Animação e cuja sua mensagem emocional contra as armas encantou o público e a crítica.
Confira todos os vencedores:
Melhor Filme
Bela Vingança
Judas e o Messias Negro
Mank
Meu Pai
Minari
Nomadland - Vencedor
Os 7 de Chicago
O Som do Silêncio
Melhor Direção
Lee Issac Chung – Minari
Emerald Fennel – Bela Vingança
David Fincher – Mank
Thomas Vinterberg – Druk: Mais Uma Rodada
Chloé Zhao – Nomadland - Vencedora
Melhor Ator
Riz Ahmed – O Som do Silêncio
Chadwick Boseman – A Voz Suprema do Blues
Anthony Hopkins – Meu Pai - Vencedor
Gary Oldman – Mank
Steven Yeun – Minari
Melhor Atriz
Viola Davis – A Voz Suprema do Blues
Andra Day – The United States vs. Billie Holiday
Vanessa Kirby – Pieces of a Woman
Frances McDormand – Nomadland - Vencedora
Carey Mulligan – Bela Vingança
Melhor Ator Coadjuvante
Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago
Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro - Vencedor
Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami
Paul Raci – O Som do Silêncio
Lakeith Stanfield – Judas e o Messias Negro
Melhor Atriz Coadjuvante
Maria Bakalova – Borat 2
Glenn Close – Era uma Vez um Sonho
Olivia Colman – Meu Pai
Amanda Seyfried – Mank
Yuh-Jung Youn – Minari - Vencedora
Melhor Roteiro Original
Judas e o Messias Negro
Minari
Bela Vingança - Vencedor
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
Melhor Roteiro Adaptado
Borat 2
Meu Pai - Vencedor
Nomadland
Uma Noite em Miami
O Tigre Branco
Melhor Animação
Dois Irmãos
A Caminho da Lua
A Shaun the Sheep Movie: Farmaggedon
Soul - Vencedor
Wolfwalkers
Melhor Direção de Fotografia
Judas e o Messias Negro
Mank - Vencedor
Relatos do Mundo
Nomadland
Os 7 de Chicago
Melhor Documentário
Collective
Crip Camp
The Mole Agent
Professor Polvo - Vencedor
Time
Melhor Figurino
Emma
A Voz Suprema do Blues - Vencedor
Mank
Mulan
Pinocchio
Melhor Montagem
Meu Pai
Nomadland
Bela Vingança
O Som do Silêncio - Vencedor
Os 7 de Chicago
Melhor Trilha Sonora Original
Terence Blanchard – Destacamento Blood
Trent Reznor e Atticus Ross – Mank
Emile Mosseri – Minari
James Newton Howard – Relatos do Mundo
Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste – Soul - Vencedor
Melhor Canção Original
“Fight for You” – Judas e o Messias Negro - Vencedor
Enfim, estamos na reta final para o Oscar 2021 e deixo aqui a minha última postagem especial sobre os favoritos "Nomadland" e "Bela Vingança".
'Nomadland'
Sinopse: Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, Fern, uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna.
Nos próximos anos especialistas farão uma análise mais profunda sobre os tempos de hoje em que vivemos e dos quais o cinema nos revelou como um todo. Se por um lado "Parasita" (2019) fala sobre os problemas que o mundo capitalista faz com que tudo transborde, do outro, "Coringa" (2019) fala sobre o indício comum abandonado por esse mesmo sistema e que não excita mais em estourar a bolha. "Nomadland" vem para complementar ainda mais esse quadro, do qual retrata um lado dos EUA sem nenhuma glória e que se sustenta somente com a força de vontade que lhe resta.
Dirigido pelo cineasta Chloé Zhao, o filme se passa logo após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos. Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Durante o percurso, trabalha em diversos empregos, além de conhecer pessoas comuns e com o mesmo destino.
A crise econômica de 2008 serviu como pano de fundo para a realização de diversos filmes que revelaram um olhar mais sujo e sofrido do povo americano, pois basta pegar o filme "Inverno da Alma" (2010) como um bom exemplo. Porém, "Nomadland" se encaixa mais com os dois filmes citados acima, ao retratar uma protagonista presa as regras capitalistas, mas obtendo a chance de sair dessa bolha e dando de encontro com uma realidade até então desconhecida. Com a sua Van, Fern dá de encontro com pessoas iguais a ela e das quais cada história são maiores do que a vida.
Ao procurar nos passar maior realismo possível, a cineasta Chloé Zhao procurou pessoas reais para que as mesmas atuassem e revelassem as suas vidas reais de Nômades na frente da tela. O resultado é uma bela transição entre ficção e realidade, onde Frances McDormand para por uns instantes de atuar para então ouvir as palavras dessas pessoas sofridas, mas que não se abalam nem mesmo quando o estado lhe dá as costas. Pessoas que foram engolidas pelas consequências do capitalismo desenfreado, mas que se viram livres ao sair dessa realidade cheia de regras e que sempre cobram um alto preço.
Como não poderia deixar de ser, Frances McDormand dá novamente um show de interpretação, ao colocar para fora as suas raízes humildes de sua vida pessoal e revelando uma faceta de sua pessoa até então inédita nas telas. Sua personagem nunca se dá por vencida, ao escolher continuar trabalhando em empregos sem nenhum futuro, mas cujo os mesmos a fazem esquecer um pouco do seu passado dolorido. Passado, aliás que se encontra nos mais pequenos detalhes dentro de sua Van, desde a pratos raros, como também fotos preciosas e que valem muito para ela.
Na reta final, a protagonista tem a chance de se encaixar novamente no mundo em que ela havia deixado para atrás. Porém, as cicatrizes vindas do passado falam mais alto e constatamos que, mesmo com um sistema cada vez mais no controlando, há ainda lugares intocáveis e dos quais vale a pena testemunharmos e senti-los. Talvez seja a hora de começarmos a enxergarmos o que há além dos muros desse sistema doentio.
"Nomadland" é um filme universal sobre o nosso tempo atual, onde a sociedade não tem mais para onde se esconder desse sistema capitalista, a não ser estourar a bolha e colocar o pé na estrada.
Nota: Em Cartaz nos cinemas.
'Bela Vignça’
Sinopse: Cassie (Carey Mulligan) é uma jovem que sempre sonhou em ser médica. No entanto, um acontecimento traumático fez ela largar a faculdade e voltar para a casa dos pais. Agora perto dos 30 anos, ela decide se vingar dos predadores sexuais que se aproveitam das mulheres bêbadas.
Quando os escândalos de abuso sexual cometidos por Harvey Weinstein explodiram e caíram no colo da grande imprensa, vários outros escândalos foram noticiados, pois as vítimas perceberam que, enfim, poderiam sair do armário e sem medo. A cultura do estupro é algo que, infelizmente, se encontra ainda muito incrustado na nossa sociedade, pois a maioria dos homens que cometem jamais irão admitir tais atos, ao ponto de usar todos os meios para persuadir a justiça a qualquer custo. Neste caso, "Bela Vingança" (2020) vem para nos dizer que a situação transbordou, não há mais volta e que as mulheres não podem mais recuar perante tais violências físicas e psicológicas.
Dirigido por Emerald Fennell, o filme conta a história de Cassie (Carey Mulligan), uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la e o mau caráter de tentar abusá-la. Aos poucos é revelado os motivos de suas ações ao longo do percurso.
Diferente do que se imagina, principalmente se levar muito em consideração o título, o filme não se enverada para os típicos filmes de vingança, onde há muita violência e sangue, mas sim tudo de uma forma mais sugestiva e deixando a nossa imaginação trabalhar após cada importante cena apresentada. Embalado com uma sedutora trilha sonora, da qual é moldada com vários sucessos, Emerald Fennerll procura ser bastante perfeccionista, pois se percebe que cada cena filmada foi criada de uma forma muito bem pensada e para assim ficarmos prestando atenção em cada ação de sua protagonista, desde aos gestos com as mãos, como também pelo seu olhar que tem muito a dizer. O prólogo, por exemplo, é um belo exemplo do que veremos no decorrer do filme e fazendo da obra algo bem diferente do que estamos acostumados em assistir dentro do gênero.
Mais do que uma obra com um teor de humor sombrio, o filme também é uma crítica ácida contra uma sociedade machista, onde filhinhos de papai ricos acham que podem fazer o que bem entenderem, quando na verdade não passam de homens fracos perante ao momento que terão que sofrer as consequências dos seus atos monstruosos. Além disso, o filme destrincha como certas bases importantes da sociedade tentam acobertar esses atos, sendo que acabam se tornando tão culpados quanto os que praticam o ato e provocando assim uma bola de neve que vai aumentando conforme o tempo vai passando. As justificativas são quase sempre as mesmas e fazendo a gente ter menos pena das partes que se acharam um dia intocáveis.
Carey Mulligan, vista em filmes como "As Sufragistas" (2015) obtém aqui o melhor papel de sua carreira, onde interpreta uma Cassie marcada pelos horrores do passado e não conseguindo seguir em frente na vida como um todo. Reparem que a fotografia, assim como determinadas cores de certos objetos vistos na tela, sintetizam elementos inocentes que ela ainda mantém em seu dia a dia, mesmo tendo consciência da real realidade nua e crua em sua volta. E quando se achava que ela se encaminhava para a chance de obter a sua redenção, eis que situações a fazem se dar conta que o único jeito de obter justiça é do seu jeito, pois o estado acaba se tornando ineficaz para praticar tal ato.
Chegando neste ponto, adentramos em um ato final muito bem dirigido, onde Emerald Fennell não tem medo de nos colocar frente a frente a uma situação inusitada e criando um plano sequência que faz a gente se afundar na cadeira. Os minutos finais a gente pode até adivinhar o que acontece, mas não prejudica o resultado final, mas sim somente fortifica a ideia de que algo precisa ser feito em nosso mundo real. O abuso e a violência precisam acabar, ou então terá várias Cassies que irão aparecer por aí.
"Bela Vingança" e uma síntese de nossa época atual, onde as mulheres não podem somente esperar por justiça, mas sim agir contra os lobos fantasiados de cordeiros.
Nota: O filme tem previsão de estrear nos cinemas brasileiros em Maio.
Sinopse: Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele.
O subgênero suspense psicológico transita entre o horror e o drama, já que neste último caso o horror se encontra através de uma mente que, por vezes, se encontra fragmentada. Filmes como, por exemplo, o clássico "A Repulsa do Sexo" (1965), ou recentes como "Cisne Negro" (2009), são exemplos de filmes que sintetizam o fato de que o nosso pior horror vem de nossas próprias mentes que tentam enganar a nós todo momento. "Meu Pai" (2021) é um drama caprichado, mas que se envereda em alguns momentos para o suspense, pois quase nunca temos uma exata certeza do que realmente está acontecendo na tela.
Dirigido por Florian Zeller, o filme conta a história de um homem idoso que se recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Ao tentar entender suas mudanças, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade.
Baseado em uma peça teatral, o filme se limita somente no cenário em que os protagonistas se encontram, ou seja, em um determinado apartamento em Londres. Porém, na medida em que o filme avança, nunca sabemos ao certo se é o mesmo apartamento, já que aos poucos percebemos que estamos enxergando os eventos através da perspectiva de Anthony e fazendo a gente ficar na dúvida sobre o que realmente está acontecendo. O protagonista sofre de mal de alzheimer e cuja sua doença se torna um verdadeiro pesadelo para o próprio a cada dia.
Florian Zeller capricha em uma edição quase frenética, já que a sua câmera vai passeando em vários cômodos do cenário na medida em que o protagonista vai andando no local e se deparando com situações que, por vezes, o abalam. Personagens entram e saem na medida em que o protagonista vai caminhando pelo local, mas fazendo com que nós jamais tenhamos certeza sobre as reais identidades deles, pois em alguns casos eles representam lembranças que ele tenta manter em sua mente em declínio. São situações em que sentimos tristeza e aflição ao mesmo tempo, pois é uma situação verossímil e que muitos de nós viveram ou viverão ao longo dos anos.
Anthony Hopkins, novamente, nos entrega um dos grandes trabalhos de sua carreira, pois seu Anthony é uma pessoa pretensiosa pelo que ele foi no passado, mas não conseguindo esconder o problema que carrega ao longo do percurso. No decorrer da trama, o seu personagem luta para tentar montar as peças de um quebra cabeça, mas cuja as peças quase sempre nunca se encaixam, já que a sua mente nunca permite isso. Um trabalho intenso e merecedor de todo o reconhecimento.
Porém, Olivia Colman, vencedora do Oscar de melhor atriz pelo filme "A Favorita" (2019), não fica muita atrás na questão de atuação, já que ela interpreta uma personagem que carrega um pesado fardo de cuidar de um pai que, aos poucos, vai se perdendo entre explosões e enfraquecimento mental. Em determinados momentos, por exemplo, nunca sabemos ao certo sobre suas reais escolhas sobre o destino que ela irá traçar para ele, já que somente testemunhamos os acontecimentos pela perspectiva dele. Por conta disso, quando achamos que iremos julgá-la mal pelos seus atos, eis que o filme revela uma pessoa que tenta fazer o melhor pelo seu ente querido, mesmo quando alguns próximos a ela lhe dizem para agir ao contrário.
Quando se chega no ato final, observamos as reais peças desse tabuleiro, ao ponto que testemunhamos um Anthony não somente encarando o fato de estar doente, como também de saber que negou para si uma triste realidade que o próprio achava insustentável. É preciso ter coração de pedra para não se derramar nenhuma lágrima, já que Anthony é uma representação de muitos pais que chegam em uma idade cujo os cuidados não são muito diferentes de cuidarmos de um bebê recém-nascido, mas que sintetiza o círculo da vida como um todo. Indicado a seis prêmios para o Oscar deste ano, "Meu Pai" é sobre laços familiares que lutam contra um mal invisível, mas que se torna um fardo ao percebemos que isso é algo inevitável.
Onde Assistir: Locação e venda pelo Youtube e Now.
‘Minari’
Sinopse: David é um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob, muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas.
Se atualmente os EUA ainda vende a sua propaganda que se diz ser a terra das oportunidades, por outro lado, os últimos acontecimentos do mundo revelaram que o problema é mais embaixo e revelando um país que mais criminaliza os estrangeiros do que acolher eles como um todo. O cinema, por sua vez, tem revelado nas telas nos últimos anos cada vez mais uma terra norte americana conservadora, da qual ainda abre os braços para o estrangeiro, mas não prometendo futuros frutos. "Minari" (2020) fala de uma família tradicional coreana, que vai aos EUA em busca do sonho americano, mas para alcançá-lo é preciso passar por certos pesadelos.
Dirigido por Lee Isaac Chung, a trama se passa nos anos 80. David (Alan S. Kim), um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob (Steven Yeun), muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. Entediado com a nova rotina, David só começa a se adaptar com a chegada de sua avó. Enquanto isso, Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado, arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.
Do primeiro ao segundo ato da trama há uma construção com relação ao cenário em que irá se passar toda a trama, onde os personagens buscam se encaixar naquela nova realidade, mesmo no contragosto de alguns deles. Uma vez estabelecido se começa então a luta pela busca do sonho norte americano, mas para isso é preciso de certo empenho e sacrifícios. Ao mesmo tempo parece que há uma preocupação na família de se interagir com os demais norte-americanos do local e aí que surge uma curiosa mistura entre as duas culturas, mas que há muito em comum entre ambas do que se imagina.
Há, por exemplo, a influência da igreja entre os dois lados sendo que o lado norte americano é mais representativo pelo curioso personagem Paul, interpretado pelo ator Will Pattom. Por ele, se observa uma sociedade norte americana alimentada pela fé, mesma que por vezes cega, mas que ao menos a mantem ainda vida. Ao vermos ele carregando uma cruz em determinado momento da trama, constatamos ali uma sociedade movida pelo que acredita, mesmo pagando um alto preço ao longo da vida.
Mas, ao meu ver, o coração do filme se concentra no desenvolvimento familiar, principalmente na relação entre o neto e sua avó, interpretada pela ótima atriz veterana Yuh Jung Youn e vista regularmente nas obras do cineasta Hong Sang-Soo. Ali se há uma relação que não se encaixa muito bem no princípio, mas que logo ganha contornos interessantes e revelando cada vez mais as suas personalidades complexas e a maneira como ambos enxergam as situações em que eles vivem em uma terra estranha. A relação entre os dois é tão boa que acabamos até mesmo se esquecendo do conflito entre o marido e a esposa, muito embora eles não deixam de serem importantes ao longo da trama.
O ato final se encaminha em situações em que fortes emoções enlaçam os protagonistas e os apertam de tal forma que não há mais escapatória. Ao mesmo tempo, o roteirista se preocupa em logo em seguida em solucionar tudo e deixando a estranha sensação de que algo ficou faltando para se ter chegado a esse ponto seguro. Talvez seja uma forma de nos passar uma harmonia entre ambos os povos, mas que acaba meio se tornando artificial no último minuto.
De qualquer forma, "Minari" é um ótimo filme sobre a questão dos imigrantes em território norte americano, onde se vê, não exatamente uma terra das oportunidades, mas talvez um novo e árduo começo de um novo ciclo.
Sinopse: história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios.
Em tempos atuais em que vivemos, dos quais o fascismo fica cada vez mais explícito em nosso dia a dia, ficamos nos perguntando onde começou tudo isso. Talvez, ele não tenha começado recentemente, mas ele sempre esteve lá, porém, adormecido e nos pegando atualmente desprevenidos. Enquanto não resolvemos o que fazer contra esses tempos nebulosos atuais, "Quo Vadis, Aida?" (2021) nos soca no estômago ao nos dizer que esse mal já estava vivendo entre nós há muito tempo, seja ele aqui ou do outro lado do mundo.
Dirigido pela cineasta Jasmila Zbanic, o filme conta a história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. Porém, pode ser muito tarde para conter o inevitável.
No prólogo, observamos uma espécie de reunião de negócios, entre um político local e um representante da ONU. Ambos são ineficazes no diálogo para se obter um acordo, sendo que a única consciente da situação e que deseja ali obter uma solução é Aida, mas sem conseguir uma chance de abraça-la. Pela sua expressão e olhar, constatamos uma pessoa desesperada, mas que se mantém firme para não cair na no desespero e desgraça.
Jasna Djuricic nos brinda com uma ótima atuação em cena, sendo que ela carrega o filme nas costas e nos guia para o inferno iminente que irá acontecer na tela. Porém, o filme possui um perfeccionismo esplêndido, onde há um cuidado para nos passar a dimensão da situação e nos dando a sensação de nos colocar no centro dos acontecimentos: a cena em que vemos um mar de bósnios muçulmanos aglomerados em frente à sede da ONU é, desde já, espetacular.
Curiosamente, a expressão dos rostos dos personagens diz mais do que meras palavras. Em um flashback, por exemplo, testemunhamos Aida e mais um grupo de amigos se divertindo em uma festa, mas que em determinado momento todos ali começam a encarar a câmera de forma séria e pouco esperançosa. Uma espécie de prelúdio do que aconteceria com aquele povo e cuja as marcas até hoje não cicatrizaram.
Para aqueles que estudam a história recente da humanidade não é preciso ser gênio para adivinhar o que acontecerá no ato final. Em uma cena simbólica, por exemplo, vemos bósnios sendo encurralados em uma sala de projeção abandonada e onde os seus opressores gritam dizendo que isso não é cinema. A cena não é sangrenta, porém, não deve nada aos filmes de guerra realistas como o chocante filme russo "Vá e Veja" (1985).
Ao chegarmos ao epílogo estamos por demais esgotados, querendo desejar se afastar daquela triste realidade, mas não deixamos de acompanhar Aida para que possamos descobrir o que restou dessa guerra para ela. Ao testemunharmos isso, constatamos uma mulher forte, mas que também cede perante o horror, pois a sua humanidade jamais se perdeu. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Quo Vadis, Aida?" é sobre a selvageria humana nascida das indiferenças, do fascismo e da desumanidade vinda daqueles que se dizem poderosos.
Onde Assistir: Compre ou alugue pelo Youtube.
‘Better Days’
Sinopse: Em pleno vestibular, jovem passa a sofrer Bullying dos seus colegas. Porém, um jovem surge em sua vida e desencadeando situações imprevisíveis.
Eu me lembro que sofria bullying na escola. Já faz vários anos, mas as ofensas e as piadas de mal gosto ficam nas lembranças. Me lembro de um aluno que me incomodou tanto durante a aula que eu simplesmente o peguei como se fosse um boneco de pano e dei ponta pé diversas vezes contra ele devido a raiva que nasceu dentro de mim naquele momento.
A situação só não ficou pior porque eu bati a minha perna numa mesa ao lado e quando aconteceu isso me dei conta sobre o que estava acontecendo. Os alunos me olhavam com medo e não entendendo como de uma hora pra outra eu quase virei um monstro. Desde então as piadas haviam parado, mas a sombra do que eu poderia ter me tornado ficou me assombrando por algum tempo.
O bullyng nada mais é do que uma prática orquestrada por jovens inconsequentes e que, infelizmente, não tem noção o quanto isso pode despertar em suas vítimas. Por conta disso, há diversas histórias pelo mundo sobre esse assunto e uma mais imprevisível do que a outra como um todo. “Better Days" (2019) toca neste assunto espinhoso de uma forma dura, reflexiva e bastante humana.
Dirigido por Kwok Cheung Tsang, o filme conta a história Nian, que estava se preparando arduamente nos estudos para conseguir passar no vestibular. Porém, sua amiga se suicida por motivos misteriosos, mas aos poucos se descobre que a jovem sofria bullying. Não demora muito para Nian seja a próxima vítima, mas ela consegue consolo pelo jovem Trickser e desse encontro se inicia uma surpreendente relação de amizade e carinho.
Com uma edição fragmentada, onde o passado e o presente vêm e volta, o filme vai aos poucos nos apresentando aquela realidade aparentemente simples do colégio, mas não escondendo o seu lado opressor que gosta de machucar os fracos. Há uma aura de competição no ar com relação ao vestibular, ao ponto de alguns não medirem esforços para conquistar os seus objetivos, nem que para isso machuque e muito o seu próximo. Nian quer somente passar e conseguir embarcar na vida adulta, mas mal sabendo o alto preço a ser pago durante essa jornada.
O filme debate a difícil passagem da inocência para a fase adulta, sendo que a escola em si não dá aulas de como se faz na prática essa transição e com isso deixa os jovens alunos na própria sorte e tendo que sobreviver com as suas próprias mãos. A obra também faz parte dessa nova onda de filmes em que mostra o quanto o sistema é falho na construção do indivíduo para ser inserido na sociedade, sendo que não há ninguém que possa dar uma solução mais prática nesta etapa da vida. O resultado é testemunharmos jovens tendo que enfrentar uma selva de pedra e sendo assombrado por outros jovens que são puramente rebeldes, sendo que alguns são o próprio reflexo de terem pais inconsequentes.
O meu relato acima no início do texto é a reflexão que eu tive partir dos desdobramentos da trama que eu testemunhei, sendo que eles nasceram no momento em que o cordão bom senso se arrebentou para o casal central. Curiosamente, me identifiquei e muito com os personagens, pois a sensação que me deu foi uma espécie de déjà-vu, muito embora tive melhor sorte no meu mundo real. Contudo, a redenção acontece para o casal, muito embora o passado cheio de ferimentos sempre ficará registrado no passado de cada.
Indicado para o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Better Days" é sobre jovens tentando obter uma passagem para a vida adulta, mas mal sabendo dos obstáculos que irão enfrentar e sacrificar para se chegar lá.
Sinopse: Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado.
Durante um show em uma boate ocorre um incêndio de grandes proporções e causando a morte de diversas pessoas. Um Ministério da Saúde que demonstra sinais ineficazes no combate da crise sanitária de hospitais e colocando em risco as vidas das pessoas. Parece familiar?
Quando se fala destas situações acima se lembra, logicamente, da situação sanitária, social e política que o Brasil do passado e do nosso presente se encontra. Tivemos o incêndio da boate Kiss a quase dez anos e dos quais os verdadeiros culpados pela tragédia continuam impunes. Atualmente convivemos com uma pandemia, onde inúmeras pessoas estão morrendo nos hospitais, enquanto o Ministério da Saúde tem os seus ministros trocados diversas vezes devido as suas incompetências e sendo comandado por um Presidente ainda mais incompetente e um dos piores de nossa história.
Mas, engana-se quem acha que esse cenário seja algo exclusivamente no Brasil, pois a incompetência, corrupção e falta de sensibilidade pelo próximo são problemas atuais de todo o mundo e que precisam serem investigados e debatidos bem de perto. Porém, foi-se o tempo que tínhamos um jornalismo mais investigativo e imparcial, pois atualmente há muitos profissionais ligados a partidos e que são bem pagos para falarem bem dos mesmos. Porém, ainda há esperança no horizonte e o documentário vindo da Romênia "Collective" (2020) prova que essa batalha só termina quando a gente desiste no meio da estrada.
Dirigido por Alexander Nanau, o documentário relata as consequências de um trágico incêndio em um clube romeno, onde as vítimas de queimaduras começam a morrer em hospitais devido a ferimentos que não são fatais. Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado, abordando questões sobre propaganda e manipulação que até hoje afetam não apenas a Romênia, mas também sociedades em todo o mundo.
Diferente dos documentários convencionais, os realizadores procuram não interferir nos fatos que vão ocorrendo em cena, mas sim somente registrando os eventos e os diálogos dos principais personagens dessa teia de eventos. Por conta disso, se tem um legítimo registro verossímil do lado emocional das pessoas que perderam seus entes queridos no incêndio do clube, assim como também os familiares de pessoas que morreram misteriosamente nos hospitais posteriormente. O resultado é surpreendente, principalmente quando o documentário vai avançando e registrando os olhares cansados e cheios de temor dos jornalistas que decidiram bater de frente neste sistema viciado e corrompido.
Com uma edição ágil, o documentário nos apresenta uma verdadeira teia de revelações, onde se comprova que a corrupção e o desleixo dos hospitais ligados com partidos políticos daquele país aconteciam muito antes do incêndio do clube. Por conta disso, há uma corrida contra o tempo para que os mesmos que haviam viciado e contaminado esse cenário sejam impedidos de voltarem ao poder, ou tentar evitar que saiam impunes dos crimes que cometeram. Curiosamente, o documentário procura destacar o novo Ministro da Saúde, do qual reconhece muito bem o sistema corrupto que assolou no próprio Ministério, mas que opta por lutar no lado certo da história que acabou se envolvendo.
No final das contas, há sempre uma luz no fim do túnel, porém, o documentário não esconde o fato de que uma nação, há tanto tempo movida pela corrupção por detrás das cortinas, demorará muito para recuperar a sua autoestima. Fatos, infelizmente, reais ocorridos na Roménia, mas não muito diferentes do que ocorre em outros países como no caso do Brasil. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário e de Melhor Filme Internacional de 2021, "Collective" é um retrato sobre a banalidade e a falta de investigação sobre crimes contra humanidade e que poderiam ter sido evitados.