Nota: filme exibido
para associados e não associados no último sábado (17/06/18).
Sinopse: Durante uma viagem
de trabalho ao Festival de Cannes, a jovem coreana Manhee é demitida após ser
acusada de desonestidade. Ao mesmo tempo, Claire, uma professora e escritora
francesa, anda pela cidade fotografando com sua câmera Polaroid. Por acaso,
essas duas mulheres se conhecem e têm uma conexão quase instantânea, em meio a
reveladoras coincidências.
Logo após a reinauguração da
Cinemateca Capitólio de Porto Alegre alguns anos atrás, eu tive o prazer de
assistir nas suas primeiras semanas de atividade o filme A Visitante Francesa,
sendo que foi o primeiro longa que eu vi do cineasta coreano Hong
Sang-soo. Ele já era um cineasta reconhecido mundialmente, mas acho que eu o
conheci justamente num momento em que ele começou a tentar exorcizar os seus
conflitos vindos do seu intimo e criando filmes dos quais nos fale um pouco
sobre a sua pessoa. Posteriormente vieram Lugar Certo, História Errada; Na
Praia á Noite Sozinha; O Dia Depois e agora A Câmera de Claire do qual,
novamente, ele não se intimida em falar sobre ele mesmo na tela através de uma história
fictícia.
A trama se passa durante o
Festival de Cannes, onde a jovem coreana Manhee (novamente Kim
Min‑hee) é demitida pela produtora Yanghye (Mi-hie Jang) de um filme em que ela
estava trabalhando. Mesmo sem saber o que fazer, Manhee permanece no litoral e
é quando conhece Claire (Isabelle Huppert), uma fotografa fascinada pela
fotografia e que inicia uma forte amizade com ela, mesmo num curto espaço de
tempo. Antes disso, Claire conhece o diretor de cinema So Wansoo (Jin-young
Jung), e esse encontro fortuito dará maiores explicações a respeito do destino
de Manhee e de o porquê ela foi demitida tão bruscamente.
Assim como no recente O Dia Depois, Hong Sang-soo cria uma simples história de encontros
e desencontros, mas se tornando especial na forma como ele filma os seus
protagonistas e da maneira como eles se expressam perante a proposta principal
da história. O filme se constrói a partir de longos diálogos, onde a câmera do
diretor foca os atores em longos planos sem cortes e registrando cada mudança
de comportamento deles. Um perfeito casamento de um perfeccionismo autoral com
boas atuações em cena e descortinando o real significado de algumas ações dos
personagens dentro da trama.
Claire (Huppert), mesmo com
toda a sua excentricidade com relação a fotografias, se torna uma espécie de
representação de nós mesmos dentro da trama, já que, meio sem querer, cai de
para quedas em meio a uma situação incomum com relação à demissão de Manchee
(Min‑hee). Embora possa parecer meio que forçada à repentina forte amizade que
surge de ambas as personagens quando se conhecem, isso é recompensado pelo
talento de ambas às atrizes e também sendo uma forma para conhecermos melhor o
outro lado da história pela perspectiva de Manchee. Atriz Kim Min‑hee novamente
se torna a alma do filme, mesmo com a presença sempre forte Isabelle Huppert,
mas uma não eclipsa a outra, mas sim ambas tendo um bom entrosamento de cena.
Embora aparente
simplicidade, Hong Sang-soo nos cobra total atenção, já que a trama parece
não linear e fazendo a gente se perguntar onde se encaixa cada passagem da história.
Porém, isso é contornado com símbolos que o cineasta coloca intencionalmente em
cena, desde uma mesa da qual servem café, ou da presença de um belo cão que se
encontra descansando no local. São fórmulas simples, porém, eficazes e se
tornando peças fundamentais dentro da história.
É claro que não poderia faltar o “alter
ego” com conflitos sentimentais do cineasta, do qual ele sempre insere em cena,
e coube ao ator Jung Jin Young abraçar essa tarefa ao interpretar um diretor de
cinema dentro da trama. Frustrado, além de bêbado em alguns momentos, Jung Jin
Young interpreta em cena uma pessoa arrependida pelos seus atos, mas sempre
fugindo em consertar os seus próprios erros e enxergando na personagem de Kim
Min‑hee nada mais do que os seus próprios defeitos: a cena em que ele
julga Manchee
sem mais nem menos sintetiza muito bem isso.
Com
um final em aberto, A
Câmera de Claire é somente uma parte do lado mais intimo de um cineasta que
tenta se encontrar através do seu próprio cinema e fazendo a gente se perguntar
qual será o próximo passo dessa curiosa cruzada cinematográfica.
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