Sinopse: Híbridos é
uma pesquisa etnográfica sobre a multiplicidade do mundo das cerimônias
sagradas brasileiras e também sobre a linguagem cinematográfica e seu potencial
poético. Composto de diferentes formatos, um complementar ao outro, o projeto
ambiciona questionar nossa relação com as imagens nos dias de hoje.
No Brasil pós golpe
2016 há uma política retrógrada, onde se prega que o nosso país é formado por
Cristãos e que qualquer outra religião seria uma abominação. Porém, a realidade
é outra, principalmente para pessoa de bom juízo, que se prezam a pegar um bom
livro e descobrir que as nossas raízes são mais diversificadas do que se
imagina. Híbridos – Os Espíritos do Brasil é um mosaico de inúmeras cores e
formas, onde as culturas e crenças diferentes uma das outras podem sim conviver
de uma maneira pacifica.
Coprodução entre o
Brasil e a França, o filme é dirigido Priscilla Telmon, Vincent Moon e produzido
pela brasileira Fernanda Abreu. Não havendo depoimentos, mas sim somente uma câmera
que observa os fatos, se vê aqui inúmeras cerimônias, que vão desde as criadas pelos
índios á procissões evangélicas. Gradualmente percebemos que tudo é interligado
e formando um mosaico de cores quentes e ricas em conteúdo.
Embora seja um documentário
do qual somente se registra os principais rituais do Brasil, os realizadores se
propõem a fazer uma espécie de reconstituição da formação do País, mesmo não
havendo, por exemplo, uma chegada dos portugueses nas praias brasileiras, mas
sim usando simples imagens do cotidiano de pessoas que pregam no que acreditam.
O filme começa com o nascer de um belo sol vermelho, onde abre caminho para os índios
fazerem suas danças cerimoniais e sintetizando alvorecer de nosso país. Já nesses
primeiros minutos somos atingidos por uma fotografia poderosa, da qual pode ser
interpretada como uma representação de tempos mais dourados de nossas terras e
que ainda não sucumbia pela ambição do homem branco.
O filme avança e as
imagens dos verdadeiros donos da terra dão lugar à chegada do cristianismo,
onde uma enorme cruz se destaca, além de testemunharmos pessoas rezando em volta
dela. É uma representação dos então conquistadores portugueses, que trazem consigo
a sua fé, mas não escondendo a ambição pela exploração. Num dos momentos mais
tensos do documentário, por exemplo, vemos pessoas aglomeradas, onde se mantém
firmes no que acreditam, mesmo que essa fé os deixe cegos.
É aí que há o
surgimento dos rituais do Candomblé, Ogum, Iemanjá e dentre outras. Algumas
delas, por exemplo, são de origens africanas, das quais vieram do passado junto
com os escravos que, mesmo arrancados de suas terras, mantiveram suas raízes intactas.
Há, então, o desencadeamento cada vez maior de rituais em cena, onde pessoas não
se intimidam em abraçar a sua fé e fazendo nos tornar testemunhas das mais
diversas situações que, embora chocantes, nos impressionam pelas suas ricas
imagens.
O final da obra é
ainda mais simbólico, ao vermos o papel do índio surgir novamente em cena, onde
recorre em suas crenças, mas, aparentando, estar sendo sufocado por alguma
coisa. No meu entendimento, ao ver o índio com problemas em respirar, uma representação
em recorrer aos velhos recursos que a natureza nos deu, mas sendo sufocado
pelos males de uma sociedade contemporânea cada vez mais corrupta e cuja sua única
ambição é a devastação e riquezas.
Híbridos – Os Espíritos
do Brasil é um criativo documentário, onde se fala pouco, mas diz tudo e
provando o quão é vasta a nossa cultura e de tudo que acreditamos vindo dela.
Onde assistir: Cinebancários: Rua General Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horário: 19horas.
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