Nota: filme exibido
para os associados do clube no último Domingo (17/06/18).
Sinopse: O
documentário resgata a história de Giselda Castro e Magda Renner, duas mulheres
que foram fundamentais na militância em favor do meio ambiente, não só no
Brasil, mas mundialmente. Tudo começou no ano de 1964, quando elas promoveram
ações de cidadania junto à população carente e desinformada na Ação Democrática
Feminina Gaúcha (ADFG). E foi a partir de então que as duas percorreram o mundo
em conferências internacionais, na ONU e no Banco Mundial.
Na época do golpe de 1964, do
qual o país começou a ser comandado pelos militares, existia a propaganda de
revolução nacional contra o comunismo, quando na verdade não passou de uma
cortina de fumaça para ocultar o óbvio. Ao mesmo tempo, surgiam grupos sociais
em prol de um bem maior a favor do povo, mesmo que alguns desses tenham surgido no principio a serviço dos próprios militares. Felizmente nem todos seguiram as cegas essa cartilha,
tanto que figuras como Giselda Castro e Magna Renner, por exemplo, foram muito
mais além e criando uma luta em prol do meio ambiente e a serviço do bem estar
das mulheres.
Dirigido por Daniela Sallet e Juan Zapata,
o documentário Substantivo Feminino nos apresenta registros impressos, além de vídeos, dos quais
revelam quem eram realmente Giselda Castro e Magda Renner, tanto do modo
profissional como também do pessoal. Através da cruzada pela luta social e pelo
meio ambiente, se constrói uma pequena linha do tempo, onde se revela alguns
fatos históricos do estado do RS e do Brasil. Aos poucos se revela como elas
tiveram até mesmo um papel fundamental na redemocratização do Brasil.
Assistir ao documentário Substantivo
Feminino é como relembrar alguns pontos da história do RS, mais especificamente
num tempo em que se ouvia bastante sobre a poluição de suas águas. Porém, quando
surgiu na época uma luta pela limpeza das praias como, por exemplo, Barra do Ribeiro,
jamais eu imaginei que o local começou a ser mais frequentado a partir do
momento em que o Rio Guaíba começou a ser despoluído. Por ser uma mera criança
na época, eu não sabia do papel importante que Giselda Castro e Magda Renner
tinham com relação a esses fatos, até agora claro.
Através de depoimentos de
familiares, amigos, colegas e figuras políticas como, por exemplo, Tarso Genro,
os cineastas Daniela Sallet e Juan Zapata nos convidam para fazer uma pequena
viagem do tempo, mais especificamente a partir de 1964, pouco antes do golpe,
onde mulheres que pertenciam a famílias tradicionais gaúchas criaram uma
entidade com fins sociais, dando-lhes cursos profissionalizantes e debates
sobre higiene para moradores dos bairros de Porto Alegre. A Democrática
Feminina Gaúcha (ADFG) garantiu oportunidades para inúmeras pessoas e partir
desse cenário é que Magda Renner e Giselda Castro vieram a se conhecer e se
unirem desde então. Mesmo com a ditadura vivendo o seu auge, elas fizeram o que
muitas mulheres jamais optaram em fazer na época, que era lutar pelo que
acreditavam.
Se no princípio o trabalho
de ambas começou de forma tímida, as coisas começaram a engrenar a partir do
momento em que elas conheceram o ambientalista José Lutzenberger. Foi assim,
por exemplo, que a ADFG se tornou um exemplo dentro do Brasil em questões do
meio ambiente e tendo reconhecimento no mundo a fora. Porém, os cineastas não procuram
fazer uma reconstituição do que, talvez, a maioria dos gaúchos venha se lembrar,
mas sim procurar revelar o lado mais humano dessas duas personagens.
Já no início, por exemplo,
há um longo plano onde se revela um pouco do apartamento de Giselda, onde cada
objeto representa um pouco de sua pessoa.
Mas ao invés daquele cenário servir de refugio para uma tarde de descanso, as
imagens do documentário nos faz entender que o ambiente servia de local de
trabalho para as duas mulheres e para que elas tentassem, então, concluir os
seus próximos passos. Talvez não viessem a mudar o mundo, mas as duas estavam
decididas em fazer algo a respeito.
E como elas fizeram. Foram
mulheres com mentes a frente do seu tempo, tanto em questões sobre a coleta de
lixo, como também sobre frear o desmatamento de nossas terras. É claro que nem
tudo foi tarefa fácil, principalmente quando ambas começaram a bater de frente
com gente poderosa dentro do poder daquela época. Segundo a lenda conta, Gicelda
teria apontado o dedo na cara do presidente Ernesto Geisel e Magda teve a ideia
de invadir com elegância uma reunião sobre ecologia onde ONGs ambientalistas estavam
proibidas de participar.
Essa rixa delas com os
militares têm o seu auge quando ambas começaram a ser observadas de longe e
passaram a ter os seus nomes na lista de possíveis pessoas subversivas contra o
governo. Tudo isso revelado através de arquivos e depoimentos dos familiares,
dos quais sempre deram maior apoio para ambas e fazendo com elas jamais se
esquecessem do bem mais precioso que era a família que tiveram em vida em meio
a trabalho e adversidades. Essa última questão, aliás, não impediu a dupla de
fazer parte da redemocratização do Brasil entre os anos 80 e 90, sendo que em 1988,
criou-se o elemento normativo que faltava para considerar o Direito Ambiental
uma ciência autônoma dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do
que já ocorria em outros países.
Isso tudo não só se deve a
elas, como também as muitas mulheres e homens que decidiram embarcar numa
missão pela preservação do nosso meio ambiente. Infelizmente em tempos recentes,
em que as questões sociais e ambientais estão sendo cada vez mais ignoradas, há
um cenário de temor com relação ao futuro do país em relação aos seus bens
naturais. Portanto, o documentário Substantivo
Feminino nos brinda com um pequeno exemplo a ser seguido, ao revelar duas
figuras femininas que não mudaram o mundo, mas que fizeram a sua parte pelo que
acreditavam.
Onde assistir: Sala Norberto Lubisco às 17h30min. Casa de
Cultura Mario Quintana. R. dos Andradas, 736 - Centro Histórico, Porto Alegre.
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