PROJETO RAROS
ESPECIAL CEMITÉRIO PERDIDO DOS FILMES B: EXPLOITATION- UP! O EROTISMO ANÁRQUICO
DE RUSS MEYER
Nesta sexta-feira, 7
de junho, às 20h, o Projeto Raros da Sala P.F.Gastal (3° andar da Usina do
Gasômetro) faz o lançamento do livro Cemitério Perdido dos Filmes B:
Exploitation, seguido da exibição de UP!, de Russ Meyer. Após a sessão, haverá
debate com os autores Cesar Almeida, Carlos Thomaz Albornoz, Marco A. Freitas e
Cristian Verardi. Entrada Franca. Censura 18 anos.
UP!
Existe algo de
anárquico na obra de Russ Meyer que eleva seu cinema além do erotismo fácil da
exploração gratuita dos corpos. Na epiderme de seu trabalho corre um humor
libertário, impregnado de violência, um deboche acurado que desestabiliza
costumes e regras morais através de uma narrativa caótica que por vezes beira o
nonsense. A profusão de corpos nus, de mulheres opulentas e homens priaprícos,
serve como arma para desnudar desejos e perversões de uma sociedade castradora
e hipócrita. A América de Russ Meyer clama secretamente por um gozo alucinante.
”Nada é obsceno desde que seja feito com mau
gosto”, costumava dizer um provocativo Meyer.Um dos últimos trabalhos de sua
carreira como diretor, Up! é uma obra crepuscular que somatiza características
peculiares ao estilo de Meyer; para ele o sexo era um elemento superlativo.
Mulheres de seios monumentais, homens brutos e apalermados ostentando ereções
monstruosas, êxtase sexual constante, violência gráfica de tons cartunescos,
tudo isso costurado por uma narrativa amalucada em prol da provocação e do
deboche das convenções sociais e dos tabus sexuais.O olhar apurado de Meyer,
que foi um notório fotógrafo da revista Playboy durante os anos 1950, capta
planos inusitados, sempre valorizando os fartos seios de suas atrizes, enquanto realiza com furor sequências de
humor, violência e erotismo.
Kitten Natividad, uma de suas atrizes fetiche,
funciona como um coro grego para narrar a estranha trama whodunit que se
desenrola em meio a maratona sexual promovida pelas personagens de Up!. Quem
matou Adolf
Schwartz? Um Hitler genérico adepto de práticas masoquistas que é
castrado por um peixe colocado criminosamente em sua banheira. Esse enigma
pouco interessa às personagens, que preferem se dedicar a incessantes e
divertidas aventuras sexuais invés de se preocupar com o assassinato. Enquanto
Paul (Robert McLane) e Sweet Lil Alice (Janet Wood) gozam bucolicamente em meio
aos campos, Margo Winchester (Raven De La Croix), a garçonete local, enlouquece
os homens transformando-os em verdadeiros predadores sexuais, e o xerife Homer
Johnson (Monty Bane), despreocupado com o crime, prega a lei a sua maneira,
utilizando mais seu pênis do que sua arma.A cena de abertura com Adolf Schwartz sendo alegremente sodomizado por um
membro descomunal e submetido a sessões de sadomasoquismo, é uma verdadeira
zoação de Russ Meyer (ex-combatente e fotógrafo da 2° Guerra Mundial), não
apenas com a figura histórica de Hitler, mas com todas as autoridades morais
que impestam nossa sociedade pregando de forma ditatorial éticas sexuais
hipocritamente castradoras. A sequência histérica, onde um lenhador brutamontes
de apetite sexual descontrolado tenta violentar Margo Winchester, culminando
num hilário banho de sangue após uma luta envolvendo machados e uma motoserra, é um exemplo da
insanidade narrativa de Meyer, que mescla habilmente os gêneros, indo
prontamente do erotismo ao mais puro grand guignol.
Carl Jung disse que ”o cinema torna possível
experimentar sem perigo, toda a excitação, paixão e desejo que deve ser
reprimida numa humanitária ordem de vida”, e o erotismo libertário e
provocador proposto pelo cinema de Meyer
tende a corroborar essa afirmação, tendo o sexo e o humor como as mais
poderosas armas de subversão.
(Cristian Verardi - texto
originalmente publicado no livro Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation.
Ed. Estronho).
Mais informações, vocês
conferem na pagina da sala clicando aqui.
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