Entre os dias 2 e 20 de maio, a Sala Redenção, nosso cinema universitário, continua a programação comemorativa de seus 35 anos, desta vez seguindo um clima investigativo, em que a desconfiança das imagens se mostra um fator determinante na maneira como assistimos a certos filmes. Com a parceria do Goethe-Institut Porto Alegre e da Aliança Francesa de Porto Alegre, a seleção vai do thriller estadunidense, passa pelo cinema ensaístico e chega no cinema gaúcho ficcional dos últimos anos, mergulhando em diferentes imagens que instigam nossa incerteza e nossa vontade de desvendar as maquinações que movem secretamente as narrativas nas quais estamos inseridos.
Pelo caminho da investigação estão Blow-Up: Depois Daquele Beijo, Um Tiro na Noite, Vício Inerente, Maratona da Morte e Subterrânea, filmes em que a obsessão pelo que não é visto leva seus protagonistas a um labirinto de desconfianças e conspirações acobertadas por forças maiores. Assim como em Vingador do Futuro, que faz da impulsividade para enfrentar esses conflitos o motor da narrativa, sendo tão frenético quanto O Homem do Rio, dois filmes de ação incessante. Este último, porém, marca um conflito que se estende para além de outras fronteiras, de forma semelhante ao clássico Marca da Maldade.
Utilizando a paranoia como forma de observar temas mais amplos, o recente sucesso do terror contemporâneo, Corra, forma um paralelo interessante com um dos capítulos do importante Um é Pouco, Dois é Bom, ambos apresentando uma conspiração baseada no conflito racial que persegue seus protagonistas. Em Trânsito faz da suspeita melindrosa uma forma de enxergar a interferência de governos autoritários na vida cotidiana. Neste sentido, a sessão com os curtas gaúchos Ângelo Anda Sumido, Peixe Vermelho e Teia Engole Aranha nos mostra um cotidiano afundado no pesadelo, impondo um real cada vez mais delirante. Da realidade fragmentada, em que não sabemos se acreditamos ou não no que vemos, os curtas da diretora francesa Chloé Galibert-Laîne, Assistindo a Dor dos Outros e Forensickness, ilustram de forma muito rica o imaginário paranoico na tela de um computador.
Nos onze longas e cinco curtas-metragens que compõem a mostra Tramas e Tramoias, poderemos apurar o nosso faro por pistas e indícios dos segredos escondidos dentro de tudo que vemos (e julgamos ver). A trama, assim como na costura, forma o tecido que irá cobrir ou ornamentar corpos e objetos, nosso trabalho enquanto espectadores é trazer à tona tudo que está encoberto. A Sala Redenção oferece esse mosaico de filmes que lidam com este tema, mantendo seu objetivo de gerar discussões e tensionar diferentes cinemas entre si, em sessões de segunda a sexta, às 15h e às 19h, sempre gratuitamente no campus central da UFRGS.
Texto: Victor Souza, bolsista da Sala Redenção
Confira a programação completa na pagina oficial da sala clicando aqui.