Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Daniel experimenta uma transformação espiritual durante o tempo em que passa em um centro de detenção para jovens.
Jan Komasa tem chamado atenção da crítica especializada mesmo com uma curta filmografia. Em "A Rede do Ódio" (2020), por exemplo, ele toca em um assunto universal que é na questão das fake news, mas também nos falando um pouco do que é moldado a Polônia atual e da qual transita entre o conservadorismo e a liberdade individual. Em "Corpus Christi" (2020) ele toca agora na questão da religião e revelando uma sociedade hipócrita que se esconde através da fé e das regras da igreja das quais eles dizem que não irão quebrar.
O filme conta a história de Daniel (Bartosz Bielenia), um rapaz de 20 anos que experimenta uma transformação espiritual enquanto vive em um Centro de Detenção para Jovens. Ele quer se tornar padre, mas isso é impossível por causa de sua ficha criminal. Quando é enviado para trabalhar na oficina de um carpinteiro em uma cidade pequena, na chegada, ele se veste de padre e acidentalmente assume a paróquia local. A chegada do jovem e carismático pregador é uma oportunidade para a comunidade local iniciar o processo de cura após uma tragédia que aconteceu na região.
Durante boa parte do filme acompanhamos a cruzada do jovem protagonista, que procura se encontrar na vida, mas tendo que enfrentar as regras impostas contra ele. Além disso, ele precisa ter que contornar uma realidade conservadora, mas que também não esconde o seu lado mais sombrio na formação das pessoas através de uma fé cega. Portanto, o protagonista possui um olhar inocente perante a realidade moldada pela fé, mas ao mesmo tempo estando preparado pelos duros golpes que irá sofrer.
Daniel é uma representação do jovem rebelde atual, do qual transita entre a anarquia e o bom senso, mas correndo um sério risco de voltar à estaca zero. Ao se disfarçar de padre, ele se encaminha para uma estrada desconhecida, mas que o conduz a ter que usar as palavras que haviam sido ensinadas para ele ao longo de sua vida. Por conta disso, ele conhece essas pessoas que vivem nesta pequena comunidade, que se dizem cidadãos do bem, mas que não sabem perdoar o próximo e, ao mesmo tempo, cometendo atos errôneos e acreditando que estarão a salvos ao confessarem os seus pecados.
Bartosz Bielenia está ótimo interpretando Daniel, mesmo em cenas em que o seu personagem não diz nada, mas cujo o seu olhar fala por si e representando muito bem o conflito interno que ele vai enfrentando ao longo desse percurso. Jan Komasa, por sua vez, cria enquadramentos únicos, dos quais se destaca a presença do protagonista como um todo e fazendo com que o mesmo se case com aquela nova realidade em que ele vai convivendo. Atenção para a belíssima cena em que ele segura a carestia, desde já uma das melhores partes do filme.
Mas diferente do que se imagina, o filme não procura criticar a igreja em si, mas sim uma sociedade hipócrita que a procura, moldada pela ambição do capitalismo e não sabendo como administrar uma realidade dividida entre a fé e o dinheiro. Daniel transita entre esses dois pólos, dos quais ele enfrenta com certo êxito, mas tendo que enfrentar a seguir as consequências dos seus atos. Na sua reta final, testemunhamos um Daniel despreocupado de qualquer arrependimento, pois a própria sociedade que o machuca é que deve um pedido de desculpas.
"Corpus Christi" é um filme sobre uma sociedade conservadora alienada, transitando entre a fé e o dinheiro e fazendo do primeiro uma mera desculpa para esconder os seus piores pecados.
Sinopse: Entre trabalho, natação e sexo anônimo, Sandro vive uma vida bastante monótona na extensão quente e árida de Goiás no Brasil.
Desde o primeiro momento do filme "Vento Seco", o diretor Daniel Nolasco coloca tudo na mesa, ao deixar bem claro onde deixará a sua câmera fixa sem excitar: no sexo sem censura. Por conta disso, há uma fixação, como se não houvesse de nenhuma maneira da câmera recuar, pois ela sempre vai estar lá para testemunhar cenas que, por vezes, irão chocar até mesmo aquele que possui a cabeça mais liberal.
São imagens que falam por si, das quais carregam uma forte potência e que não deve nada para outros títulos do gênero como, por exemplo, "Um Estranho no Lago" (2013), ou "Love" de Gaspar Noé. Contudo, é curioso que ficamos sempre na dúvida sobre o que observamos, já que acompanhamos o enredo sempre pelo olhar de Sandro (Leando Faria Lelo), onde constatamos o seu desejo por outros homens, mas fazendo a gente ficar na dúvida sobre o que ocorre na tela. Seria tudo real ou fantasias eróticas do seu interior?
Seguindo esta lógica, não é apenas o plano-detalhe o único artifício usado por Nolasco para direcionar o espectador ao mesmo olhar de Sandro. Em diversas cenas, por exemplo, um personagem passa por outro e a câmera segue aquele corpo, como se não houvesse chance de desviarmos disso. De mesmo modo, quando o motoqueiro Maicon (Rafael Theophilo) surge pela primeira vez, há uma apresentação gradual do seu corpo, como se a câmera nos obrigasse em observar cada detalhe, desde ao visual retro, como também pelo uso da roupa de borracha.
Além disso, a câmera é usada em planos fechados, como se fosse uma representação do nosso olhar de estarmos somente nós testemunhando um momento particular do protagonista. Bom exemplo disso é a cena da montanha russa, onde o mesmo, ao lado do seu mais novo desejo, compartilha juntos uma situação de pura adrenalina e da qual se mistura com os desejos do protagonista. Ou seja, é justamente através dos artifícios cinematográficos que eles ganham forma, privilegiando o cinéfilo que assiste naquele momento.
Se esta cena já explora certa liberdade criativa, este é o caminho no qual o filme vai caindo de cabeça gradualmente. Afinal, se o desejo de Sandro é contido devido a realidade de sua volta, há de ser liberada no seu universo do sonhar. Por conta disso, muitas cenas de sexo explícito são jogadas na tela sem nenhuma censura, como não houvesse ninguém ali para reprimi-las, a não ser nós se no caso de nos sentirmos incomodados com elas.
Ao nível de comparação, como já mostrado acima, é possível ver em "Vento Seco" diversos traços de um cinema mais liberal como era visto nos filmes de baixo orçamento dos tempos do cinema mudo, mas que foram perseguidos e destruídos pelos conservadores de plantão daqueles tempos. O filme chega em um momento em que o fascismo, travestido de conservadorismo, está avançando e desejando silenciar aqueles que desejam ser apenas eles mesmos. Por conta disso, talvez seja um dos filmes mais corajosos de 2020, mesmo que surja alguns detratores que irão dizer ao contrário.
"Vento Seco" talvez seja o último sopro de resistência e coragem vindo do nosso cinema brasileiro recente e cabe essa coragem ser repassada para aqueles que desejam passar a sua mensagem.
Onde Assistir: Informações sobre quando o filme estará disponível vocês encontram na página oficial do filme no facebook clicandoaqui.
Sinopse: Corrompido pelo poder do livro negro de Cipriano, um jesuíta e seus seguidores iniciam um reinado de terror no Brasil colonial, até serem amaldiçoados a viver eternamente presos sob os túmulos de um cemitério.
Rodrigo Aragão se tornou sinônimo de cinema de horror brasileiro gore, já que os seus filmes transitam entre muita violência, sangue, mas tudo misturado com a cultura e folclore brasileiro. "Mangue Negro" (2008), "A Noite do Chupa Cabra" (2011) e Mar Negro" (2013) são filmes que rapidamente ganharam status de cult para aqueles que apreciam uma boa obra de horror escapista. "O Cemitério das Almas Perdidas" (2020) não foge muito dessa regra e sendo um entretenimento de primeira para aqueles que procuram um cinema puramente trash.
A trama em si não traz muitas novidades, pois ela não é muito diferente do que muitos títulos que exploram rituais de magia negra e zumbis. Porém, é delicioso observar as referências que o cineasta incrementa, que vai desde a Roger Corman, Mario Bava e algumas pinceladas que nos lembra os bons tempos do estúdio Inglês Hammer. Ao mesmo tempo, há também uma boa dose de folclore brasileiro e que remete certos contos antigos contados pelos nossos avôs do passado.
Curiosamente, Rodrigo Aragão é esperto ao falar um pouco do nosso Brasil atual e cuja a situação não deve em nada a um filme de horror. Ao vermos, por exemplo, o massacre de um povo indígena, ou palavras vindas de uma fanática religiosa, nada mais é do que uma metáfora de uma visão geral que o Brasil atual se encontra. Se no passado José Mojica Marins enfrentou o preconceito e o fanatismo religioso na criação de seus filmes, hoje essa luta é muito bem representada por Rodrigo Aragão e que não falha em colocar o dedo na ferida.
Tecnicamente, o filme possui um grande salto em termos de orçamento se for comparado as obras anteriores do cineasta. Se em "Mar Negro" a gente se divertia com a sua tosquice, aqui se percebe um cuidado maior, tanto no figurino, como também nas pesadas maquiagens que remetem como se fazia monstros de horror de antigamente. Claro que se percebe um furo de continuidade lá e aqui, mas isso é deixado de lado quando já nos encontramos absorvidos por esse universo gótico.
Com uma pequena e justa homenagem a José Mojica Marins no primeiro minuto de filme, "O Cemitério das Almas Perdidas" é prato cheio para aqueles que procuram um entretenimento puramente trash brasileiro e que não deve em nada para os gringos.
Onde Assistir: Informações sobre quando o filme estará disponível vocês encontram na página oficial do filme no facebook clicandoaqui.
NOTA: A minha análise a seguir não faz comparação alguma com a versão de “Liga da Justiça” de 2017, que acabou sendo mutilada pelo estúdio e por Joss Whedon. Essas comparações, aliás, já têm mais do que o suficiente pelos sites e redes sociais por aí e decidi não fazer parte disso, mas sim ir para um caminho inverso. A minha intenção aqui é fazer uma análise do filme imaginando como teria sido se caso o corte final de Zack Snyder não tivesse sido cancelado, mas sim tendo sido lançado para os cinemas na época e dando continuidade ao universo compartilhado que o estúdio tanto queria.
Caso queiram, confiram também a minha crítica sobre a versão do filme de 2017 ao final do texto.
'LIGA DA JUSTIÇA - SNYDER CUT' (2021)
Sinopse: Depois de restaurar sua fé na humanidade e inspirado pelo ato altruísta do Superman, Bruce Wayne convoca Diana Prince para combater um inimigo ainda maior, recém-despertado. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha buscam e recrutam um time de meta-humanos, mas mesmo com a formação da liga de heróis sem precedentes -- Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Ciborgue, e Flash -- poderá ser tarde demais para salvar o planeta de um catastrófico ataque.
Zack Snyder é um tipo de cineasta que faz falta na Hollywood atual, da qual essa última prega por não arriscar e produzir franquias para render rios de dinheiro, mas cuja algumas obras não possuem os ingredientes necessários para que possam sobreviver ao teste do tempo. Snyder, por sua vez, procura sempre criar filmes de acordo com o seu pensamento e sua visão pessoal com relação ao mundo ao redor, mesmo que para isso corra o sério risco de dividir a opinião da crítica e o público. "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016) já nasceu polêmico por não apenas colocar os dois maiores heróis do planeta frente a frente um contra o outro, como também em acender a discussão se seria uma bênção ou uma maldição se esses super seres realmente existissem em nosso mundo real.
Quase sempre sendo retratados como uma luz de esperança, Sack Snyder, por sua vez, procura retratar esses super seres com uma personalidade muito próxima da nossa, ou seja, humana e seres humanos possuem tanto as suas qualidades como também dúvidas e falhas. Portanto, as ações desses heróis acabam por pesar mais, principalmente em situações em que eles não têm exatamente um exato controle de suas forças e gerando destruição enquanto tentam derrotar os seus antagonistas. Pode parecer uma visão pessimista vinda do cineasta, mas que nos faz a gente pensar e conseguindo assim obter a nossa atenção até o fim de suas obras.
O problema maior é que o diretor pega toda essa bagagem de discussão por meio de personagens tão conhecidos pelos fãs. Se por um lado isso foi fácil em "Watchmen" (2009), cujo os personagens não eram conhecidos pelo grande público, do outro, o mesmo não se pode dizer sobre Batman, Superman e Mulher Maravilha, que existem a décadas, possuem uma legião de fãs ferrenha e que não aceita os seus personagens preferidos ultrapassarem a linha. Mas Snyder já havia atravessado em "O Homem de Aço" (2013), prosseguiu com isso em "Batman Vs Superman" e expandindo por fim em "Liga da justiça - Snyder Cut" de uma forma corajosa, polêmica e que irá gerar discussões enquanto o tempo passar.
O filme começa exatamente no ápice de "Batman Vs Superman", onde vemos o herói se sacrificando para salvar a humanidade, mas ao mesmo tempo algo poderoso desperta ao redor do mundo. Temendo um grande mal que se aproxima, Batman (Ben Affleck) decide se reencontrar com Diana (Gal Gadot), para que assim ambos possam reunir pessoas com dons especiais e juntos consigam combater o perigo iminente. Surge então Barry Allen, codinome Flash (Ezra Miller), Arthur Curry, codinome Aquaman (Jason Momoa) e Victor Stone, codinome Cyborg (o estreante Ray Fisher).
Com quatro horas de duração, Zack Snyder não tem pressa em apresentar os seus personagens principais, tanto que os mesmos são moldados de acordo com a sua visão autoral haja o que houver. Com uma fotografia quase acinzentada, vemos esse mundo ainda em luto pela perda do Superman, mas ao mesmo tempo retratando os super seres ocupados demais em pensar em outra coisa, a não ser sobreviver. Se por um lado ainda temos uma Diana, cuja a sua fé pela humanidade se manteve mesmo após o triste final de "Mulher Maravilha" (2017), do outro, temos um Aquaman pouco se lixando pelas suas raízes da realeza, ou pelo perigo que está por vir e somente tendo o desejo de ajudar pessoas que passam realmente por grandes necessidades.
Porém, é por meio de Batman, talvez o herói mais falho e humano da equipe, que nasce um incentivo para que esses super seres venham a se unir. Antes disso, porém, é criado um cenário realmente amedrontador com a chegada do vilão Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), que embora seja um lacaio de uma força maior que está por vir que é Darkseid, por outro lado, é preciso reconhecer que sua força e presença é realmente ameaçadora. Se por um lado é incrível presenciarmos a grande guerra dos Deuses e heróis do passado contra Darkseid, do outro, é sufocante a batalha do presente entre as Amazonas contra Lobo da Stepe e fazendo do sacrifício dessas heroínas o primeiro ponto alto do filme.
Mas como eu disse acima, Zack Snyder não tem pressa, ao ponto de dar um destaque maior para os personagens que não haviam sido apresentados anteriormente. Se por um lado dá a entender que as origens e motivações de Aquaman serão exploradas em um filme solo futuramente, do outro, tanto Flash como Cyborg têm um destaque maior, sendo que esse último é um personagem trágico, humano, mas que possui um poder incalculável. De longe um dos melhores personagens e cujo o atrito que tem contra o seu pai faz disso se tornar o coração do filme.
Até aqui, se percebe que há todo um cuidado, tanto na apresentação dos personagens, como também na elaboração de uma boa história. Porém, Zack Snyder não esquece da parte técnica, desde ao uso expressivo de câmera lenta até mesmo nos momentos de calmaria, como também na preocupação do uso de efeitos visuais para não poluírem a trama, sendo que neste último caso possui um uso maior somente no embate final. Mas é em sua trilha sonora, composta pelo compositor Junkie XL, que faz com que o filme ganhe ares de grande épico, onde sintetiza a visão pessoal de Zack Snyder quando ele compara esses super seres aos grandes Deuses do passado.
Embora com uma visão tanto sombria, o filme também fala sobre a esperança em tempos de escuridão, o que faz o retorno do Superman ser verossímil, mesmo quando a solução parece um tanto que forçada para dizer o mínimo. Porém, isso é contornado graças aos momentos de dramaticidade, principalmente em uma situação que foge do controle quando os heróis o trazem de volta a vida e culminando em um momento trágico e até mesmo imprevisível. A partir daqui se tem o ato final cheio de ação, onde se potencializa ao máximo o poder dos personagens e nos brindando com cenas inesquecíveis.
Mas embora seja um filme autoral de um cineasta, o filme é pensado também para fazer parte de uma grande franquia e por conta disso o prólogo é cheio de pontas soltas que terão somente continuidade em eventuais sequências. Mas, independentemente disso, eu acredito que o cineasta tenha concluído a sua visão pessoal com relação a esse universo, onde vemos seres poderosos com o desejo de salvar o mundo, mas que também não escondem as suas falhas como um todo e tendo que enfrentar os resultados em um possível futuro sombrio. Falando nisso, os minutos finais transitam entre as trevas e a luz, onde a morte e a loucura estão incrustadas em terra firme, mas sendo iluminadas com a aparição de um novo personagem e gerando esperança para um futuro cheio de incertezas.
"Liga da justiça - Snyder Cut" é sobre luz e trevas, onde super seres buscam um equilíbrio entre a união e a esperança para um futuro melhor.
Confira a minha crítica sobre a primeira versão clicando aqui.
Onde Assistir: Google Play, PlayStation Video, Sky Play, Vivo Play, YouTube.
O curso online PLANETA DOS MACACOS: A CONSTRUÇÃO DE UM CLÁSSICO, ministrado pelo escritor Saulo Adami (que há 40 anos pesquisa o tema), vai oportunizar aos participantes uma viagem de volta aos bastidores da produção do filme "O Planeta dos Macacos" (1968), de Franklin J. Schaffner, que marcou o início da cinessérie produzida por Arthur P. Jacobs a partir do livro de Pierre Boulle, o mesmo autor de "A Ponte do Rio Kwai".
Serão abordados temas como: o livro, roteiros propostos, maquiagem, figurino, cidade cenográfica, espaçonave e demais atrativos que levaram milhões de espectadores às salas de projeção e o estúdio a investir em outros sete filmes para cinema e dois seriados de televisão.
"Mank" concorre em dez categorias mas "Nomadland" dispara como favorito, podendo dar o Oscar de melhor direção a Chloé Zhao e se tornando a segunda mulher na história a ganhar um Oscar na categoria. A minha surpresa ficou por conta da indicação de melhor atriz coadjuvante para Maria Bakalova por "Borat 2", porém, é mais do que merecido, pois não é todo dia que alguém engana em cheio o advogado de Donald Trump. "Soul" é disparado o favorito a melhor longa de animação e podendo ganhar também um merecido prêmio de melhor trilha sonora.
Confira a lista completa dos indicados:
MELHOR FILME
Meu Pai
Judas e o Messias Negro
Mank
Minari
Nomadland
Bela Vingança
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
MELHOR ATOR
Riz Ahmed - O Som do Silêncio
Chadwick Boseman - A Voz Suprema do Blues
Anthony Hopkins - Meu Pai
Gary Oldman - Mank
Steven Yeun - Minari
MELHOR ATRIZ
Viola Davis - A Voz Suprema do Blues
Andra Day - The United States vs. Billie Holiday
Vanessa Kirby - Pieces of a Woman
Frances McDormand - Nomadland
Carey Mulligan - Bela Vingança
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Maria Bakalova - Borat 2
Glenn Close - Era uma Vez um Sonho
Olivia Colman - Meu Pai
Amanda Seyfried - Mank
Yuh-Jung Youn - Minari
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sacha Baron Cohen - Os 7 de Chicago
Daniel Kaluuya - Judas e o Messias Negro
Leslie Odom Jr. - Uma Noite em Miami
Paul Raci - O Som do Silêncio
Lakeith Stanfield - Judas e o Messias Negro
MELHOR FOTOGRAFIA
Judas e o Messias Negro
Mank
Relatos do Mundo
Nomadland
Os 7 de Chicago
MELHOR FIGURINO
Emma
A Voz Suprema do Blues
Mank
Mulan
Pinóquio
MELHOR DIREÇÃO
Thomas Vinterberg - Another Round
David Fincher - Mank
Lee Isaac Chung - Minari
Chloé Zhao- Nomadland
Emerald Fennell - Bela Vingança
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Collective
Crip Camp
The Mole Agent
Professor Polvo
Time
MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
Collete
A Concerto is a Conversation
Do Not Split
Hunger Ward
A Love Song for Latasha
MELHOR MONTAGEM
Meu Pai
Nomadland
Bela Vingança
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Another Round (Dinamarca)
Better Days (Hong Kong)
Collective (Romênia)
The Man Who Sold His Skin (Tunísia)
Quo Vadis, Aida? (Bósnia)
MELHOR ANIMAÇÃO
Onward
Over the Moon
Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca
Soul
Wolfwalkers
MELHOR CABELO E MAQUIAGEM
Emma
Era uma Vez um Sonho
A Voz Suprema do Blues
Mank
Pinóquio
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Terence Blanchard - Destacamento Blood
Trent Reznor e Atticus Ross - Mank
Emile Mosseri - Minari
James Newton Howard - Relatos do Mundo
Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste - Soul
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Fight for You” - Judas e o Messias Negro
“Hear my Voice” - Os 7 de Chicago
“Husavik” - Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
Participe e confira a minha crítica abaixo sobre o filme.
Sinopse: A jovem camponesa Joana D'Arc é condenada à morte por ter liderado o povo francês contra o exército invasor inglês, dizendo que foi inspirada por Jesus e São Miguel. Ela passa suas últimas horas de vida capturada e torturada pelos ingleses.
Devido ao seu aspecto polêmico, tanto em relação à negligência e ambiguidade da igreja, quanto à visão equivocada do próprio Estado Francês, o talvez mais conhecido filme de Carl Theodor Dreyer, A Paixão de Joana D’Arc (1928), foi não só proibido de ser distribuído e exibido, como teve seu negativo e as cópias de que se tinham notícia, queimadas. Dessa forma, durante mais de cinco décadas, não houve acesso à obra original, ou pelo menos uma copia similar a ela. Até que, em 1981, uma cópia Dinamarquesa, muito fiel à primeira edição do filme, foi encontrada num hospício na Noruega. O filme conhecido pela grande maioria das pessoas – inclusive lançada pela coleção Criterion, é uma adaptação da Cinematèque Française dessa cópia. A trilha sonora oficial do filme não existe, tendo sido tocadas várias peças musicais durante sua apresentação ao longo das décadas. É sugerido pela própria Cinematèque, que seja executado em conjunto a peça Voices of Light, de Richard Einhorn, que se inspirou tanto na vida da heroína, quanto na visão de Dreyer acerca dela, para compô-la.
O filme não mostra a menor necessidade de trilha sonora ao fundo. A falta da trilha, aliás, dá a impressão de uma mensagem muito mais pesada para os nossos olhos. Dizem que o silêncio foi um recurso apenas alcançado com o advento do cinema com som, uma vez que a ausência desse recurso seria uma opção dos realizadores para configurar uma atmosfera mais densa e melancólica. Pois então, a falta de trilha sonora caiu com uma luva nesse filme, cuja tensão é levada ao extremo.
Uma cena curiosa é aquela em que os padres toma uma decisão com importância grande no destino de Joana, e conta ao padre ao seu lado. O segredo é passado de padre para padre, e a câmera acompanha em travelling esse ‘telefone-sem-fio’, como se fosse ela própria o segredo sendo disseminado pela sala. O close, aliás, é uma grande marca registrada do filme, que não contém sequer um stablishing shot. Isto, é claro, causa uma confusão do espectador, que acostumado a ser sempre bem situado acerca do ambiente em que se desenrola a ação, pode sentir-se desnorteado e apresentar certa dificuldade em compreender o todo. Quando temos uma noção mais ampla da cena, um plano médio, o espaço ocupado pela atriz é sempre insignificante, perto da altura e posição privilegiada dos seus condenadores.
A intenção da obra tem o objetivo de desconcertar do início ao fim. Em nenhum momento, temos uma noção maior do que está acontecendo, do que a própria Joana d’Arc. O lado histórico, e os precedentes da guerreira não são mostrados ou explicados. No máximo, são citadas referências pelos padres. Não há aqui, portanto, preocupação com uma abordagem de Joana como uma heroína, ou guerreira. Aqui é explorado o aspecto humano da mesma, é buscada uma aproximação do real. Mostra-se, então, uma Joana comum, de aparência masculinizada, e nenhum glamour. Não uma guerreira destemida, mas uma garota de 17 anos que acredita estar fazendo um bem para seu país, uma missão para seu Deus, e vê-se encurralada, ao ser questionado acerca do seu modo de vestir, agir, e pensar. A interpretação de Maria Falconetti é emblemática, sendo não raramente eleita uma das melhores do cinema mudo.