Sinopse: Corrompido pelo poder do livro negro de Cipriano, um jesuíta e seus seguidores iniciam um reinado de terror no Brasil colonial, até serem amaldiçoados a viver eternamente presos sob os túmulos de um cemitério.
Rodrigo Aragão se tornou sinônimo de cinema de horror brasileiro gore, já que os seus filmes transitam entre muita violência, sangue, mas tudo misturado com a cultura e folclore brasileiro. "Mangue Negro" (2008), "A Noite do Chupa Cabra" (2011) e Mar Negro" (2013) são filmes que rapidamente ganharam status de cult para aqueles que apreciam uma boa obra de horror escapista. "O Cemitério das Almas Perdidas" (2020) não foge muito dessa regra e sendo um entretenimento de primeira para aqueles que procuram um cinema puramente trash.
A trama em si não traz muitas novidades, pois ela não é muito diferente do que muitos títulos que exploram rituais de magia negra e zumbis. Porém, é delicioso observar as referências que o cineasta incrementa, que vai desde a Roger Corman, Mario Bava e algumas pinceladas que nos lembra os bons tempos do estúdio Inglês Hammer. Ao mesmo tempo, há também uma boa dose de folclore brasileiro e que remete certos contos antigos contados pelos nossos avôs do passado.
Curiosamente, Rodrigo Aragão é esperto ao falar um pouco do nosso Brasil atual e cuja a situação não deve em nada a um filme de horror. Ao vermos, por exemplo, o massacre de um povo indígena, ou palavras vindas de uma fanática religiosa, nada mais é do que uma metáfora de uma visão geral que o Brasil atual se encontra. Se no passado José Mojica Marins enfrentou o preconceito e o fanatismo religioso na criação de seus filmes, hoje essa luta é muito bem representada por Rodrigo Aragão e que não falha em colocar o dedo na ferida.
Tecnicamente, o filme possui um grande salto em termos de orçamento se for comparado as obras anteriores do cineasta. Se em "Mar Negro" a gente se divertia com a sua tosquice, aqui se percebe um cuidado maior, tanto no figurino, como também nas pesadas maquiagens que remetem como se fazia monstros de horror de antigamente. Claro que se percebe um furo de continuidade lá e aqui, mas isso é deixado de lado quando já nos encontramos absorvidos por esse universo gótico.
Com uma pequena e justa homenagem a José Mojica Marins no primeiro minuto de filme, "O Cemitério das Almas Perdidas" é prato cheio para aqueles que procuram um entretenimento puramente trash brasileiro e que não deve em nada para os gringos.