NOTA: A minha análise a seguir não faz comparação alguma com a versão de “Liga da Justiça” de 2017, que acabou sendo mutilada pelo estúdio e por Joss Whedon. Essas comparações, aliás, já têm mais do que o suficiente pelos sites e redes sociais por aí e decidi não fazer parte disso, mas sim ir para um caminho inverso. A minha intenção aqui é fazer uma análise do filme imaginando como teria sido se caso o corte final de Zack Snyder não tivesse sido cancelado, mas sim tendo sido lançado para os cinemas na época e dando continuidade ao universo compartilhado que o estúdio tanto queria.
Caso queiram, confiram também a minha crítica sobre a versão do filme de 2017 ao final do texto.
'LIGA DA JUSTIÇA - SNYDER CUT' (2021)
Sinopse: Depois de restaurar sua fé na humanidade e inspirado pelo ato altruísta do Superman, Bruce Wayne convoca Diana Prince para combater um inimigo ainda maior, recém-despertado. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha buscam e recrutam um time de meta-humanos, mas mesmo com a formação da liga de heróis sem precedentes -- Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Ciborgue, e Flash -- poderá ser tarde demais para salvar o planeta de um catastrófico ataque.
Zack Snyder é um tipo de cineasta que faz falta na Hollywood atual, da qual essa última prega por não arriscar e produzir franquias para render rios de dinheiro, mas cuja algumas obras não possuem os ingredientes necessários para que possam sobreviver ao teste do tempo. Snyder, por sua vez, procura sempre criar filmes de acordo com o seu pensamento e sua visão pessoal com relação ao mundo ao redor, mesmo que para isso corra o sério risco de dividir a opinião da crítica e o público. "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016) já nasceu polêmico por não apenas colocar os dois maiores heróis do planeta frente a frente um contra o outro, como também em acender a discussão se seria uma bênção ou uma maldição se esses super seres realmente existissem em nosso mundo real.
Quase sempre sendo retratados como uma luz de esperança, Sack Snyder, por sua vez, procura retratar esses super seres com uma personalidade muito próxima da nossa, ou seja, humana e seres humanos possuem tanto as suas qualidades como também dúvidas e falhas. Portanto, as ações desses heróis acabam por pesar mais, principalmente em situações em que eles não têm exatamente um exato controle de suas forças e gerando destruição enquanto tentam derrotar os seus antagonistas. Pode parecer uma visão pessimista vinda do cineasta, mas que nos faz a gente pensar e conseguindo assim obter a nossa atenção até o fim de suas obras.
O problema maior é que o diretor pega toda essa bagagem de discussão por meio de personagens tão conhecidos pelos fãs. Se por um lado isso foi fácil em "Watchmen" (2009), cujo os personagens não eram conhecidos pelo grande público, do outro, o mesmo não se pode dizer sobre Batman, Superman e Mulher Maravilha, que existem a décadas, possuem uma legião de fãs ferrenha e que não aceita os seus personagens preferidos ultrapassarem a linha. Mas Snyder já havia atravessado em "O Homem de Aço" (2013), prosseguiu com isso em "Batman Vs Superman" e expandindo por fim em "Liga da justiça - Snyder Cut" de uma forma corajosa, polêmica e que irá gerar discussões enquanto o tempo passar.
O filme começa exatamente no ápice de "Batman Vs Superman", onde vemos o herói se sacrificando para salvar a humanidade, mas ao mesmo tempo algo poderoso desperta ao redor do mundo. Temendo um grande mal que se aproxima, Batman (Ben Affleck) decide se reencontrar com Diana (Gal Gadot), para que assim ambos possam reunir pessoas com dons especiais e juntos consigam combater o perigo iminente. Surge então Barry Allen, codinome Flash (Ezra Miller), Arthur Curry, codinome Aquaman (Jason Momoa) e Victor Stone, codinome Cyborg (o estreante Ray Fisher).
Com quatro horas de duração, Zack Snyder não tem pressa em apresentar os seus personagens principais, tanto que os mesmos são moldados de acordo com a sua visão autoral haja o que houver. Com uma fotografia quase acinzentada, vemos esse mundo ainda em luto pela perda do Superman, mas ao mesmo tempo retratando os super seres ocupados demais em pensar em outra coisa, a não ser sobreviver. Se por um lado ainda temos uma Diana, cuja a sua fé pela humanidade se manteve mesmo após o triste final de "Mulher Maravilha" (2017), do outro, temos um Aquaman pouco se lixando pelas suas raízes da realeza, ou pelo perigo que está por vir e somente tendo o desejo de ajudar pessoas que passam realmente por grandes necessidades.
Porém, é por meio de Batman, talvez o herói mais falho e humano da equipe, que nasce um incentivo para que esses super seres venham a se unir. Antes disso, porém, é criado um cenário realmente amedrontador com a chegada do vilão Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), que embora seja um lacaio de uma força maior que está por vir que é Darkseid, por outro lado, é preciso reconhecer que sua força e presença é realmente ameaçadora. Se por um lado é incrível presenciarmos a grande guerra dos Deuses e heróis do passado contra Darkseid, do outro, é sufocante a batalha do presente entre as Amazonas contra Lobo da Stepe e fazendo do sacrifício dessas heroínas o primeiro ponto alto do filme.
Mas como eu disse acima, Zack Snyder não tem pressa, ao ponto de dar um destaque maior para os personagens que não haviam sido apresentados anteriormente. Se por um lado dá a entender que as origens e motivações de Aquaman serão exploradas em um filme solo futuramente, do outro, tanto Flash como Cyborg têm um destaque maior, sendo que esse último é um personagem trágico, humano, mas que possui um poder incalculável. De longe um dos melhores personagens e cujo o atrito que tem contra o seu pai faz disso se tornar o coração do filme.
Até aqui, se percebe que há todo um cuidado, tanto na apresentação dos personagens, como também na elaboração de uma boa história. Porém, Zack Snyder não esquece da parte técnica, desde ao uso expressivo de câmera lenta até mesmo nos momentos de calmaria, como também na preocupação do uso de efeitos visuais para não poluírem a trama, sendo que neste último caso possui um uso maior somente no embate final. Mas é em sua trilha sonora, composta pelo compositor Junkie XL, que faz com que o filme ganhe ares de grande épico, onde sintetiza a visão pessoal de Zack Snyder quando ele compara esses super seres aos grandes Deuses do passado.
Embora com uma visão tanto sombria, o filme também fala sobre a esperança em tempos de escuridão, o que faz o retorno do Superman ser verossímil, mesmo quando a solução parece um tanto que forçada para dizer o mínimo. Porém, isso é contornado graças aos momentos de dramaticidade, principalmente em uma situação que foge do controle quando os heróis o trazem de volta a vida e culminando em um momento trágico e até mesmo imprevisível. A partir daqui se tem o ato final cheio de ação, onde se potencializa ao máximo o poder dos personagens e nos brindando com cenas inesquecíveis.
Mas embora seja um filme autoral de um cineasta, o filme é pensado também para fazer parte de uma grande franquia e por conta disso o prólogo é cheio de pontas soltas que terão somente continuidade em eventuais sequências. Mas, independentemente disso, eu acredito que o cineasta tenha concluído a sua visão pessoal com relação a esse universo, onde vemos seres poderosos com o desejo de salvar o mundo, mas que também não escondem as suas falhas como um todo e tendo que enfrentar os resultados em um possível futuro sombrio. Falando nisso, os minutos finais transitam entre as trevas e a luz, onde a morte e a loucura estão incrustadas em terra firme, mas sendo iluminadas com a aparição de um novo personagem e gerando esperança para um futuro cheio de incertezas.
"Liga da justiça - Snyder Cut" é sobre luz e trevas, onde super seres buscam um equilíbrio entre a união e a esperança para um futuro melhor.
Confira a minha crítica sobre a primeira versão clicando aqui.
Onde Assistir: Google Play, PlayStation Video, Sky Play, Vivo Play, YouTube.