Sinopse: Entre trabalho, natação e sexo anônimo, Sandro vive uma vida bastante monótona na extensão quente e árida de Goiás no Brasil.
Desde o primeiro momento do filme "Vento Seco", o diretor Daniel Nolasco coloca tudo na mesa, ao deixar bem claro onde deixará a sua câmera fixa sem excitar: no sexo sem censura. Por conta disso, há uma fixação, como se não houvesse de nenhuma maneira da câmera recuar, pois ela sempre vai estar lá para testemunhar cenas que, por vezes, irão chocar até mesmo aquele que possui a cabeça mais liberal.
São imagens que falam por si, das quais carregam uma forte potência e que não deve nada para outros títulos do gênero como, por exemplo, "Um Estranho no Lago" (2013), ou "Love" de Gaspar Noé. Contudo, é curioso que ficamos sempre na dúvida sobre o que observamos, já que acompanhamos o enredo sempre pelo olhar de Sandro (Leando Faria Lelo), onde constatamos o seu desejo por outros homens, mas fazendo a gente ficar na dúvida sobre o que ocorre na tela. Seria tudo real ou fantasias eróticas do seu interior?
Seguindo esta lógica, não é apenas o plano-detalhe o único artifício usado por Nolasco para direcionar o espectador ao mesmo olhar de Sandro. Em diversas cenas, por exemplo, um personagem passa por outro e a câmera segue aquele corpo, como se não houvesse chance de desviarmos disso. De mesmo modo, quando o motoqueiro Maicon (Rafael Theophilo) surge pela primeira vez, há uma apresentação gradual do seu corpo, como se a câmera nos obrigasse em observar cada detalhe, desde ao visual retro, como também pelo uso da roupa de borracha.
Além disso, a câmera é usada em planos fechados, como se fosse uma representação do nosso olhar de estarmos somente nós testemunhando um momento particular do protagonista. Bom exemplo disso é a cena da montanha russa, onde o mesmo, ao lado do seu mais novo desejo, compartilha juntos uma situação de pura adrenalina e da qual se mistura com os desejos do protagonista. Ou seja, é justamente através dos artifícios cinematográficos que eles ganham forma, privilegiando o cinéfilo que assiste naquele momento.
Se esta cena já explora certa liberdade criativa, este é o caminho no qual o filme vai caindo de cabeça gradualmente. Afinal, se o desejo de Sandro é contido devido a realidade de sua volta, há de ser liberada no seu universo do sonhar. Por conta disso, muitas cenas de sexo explícito são jogadas na tela sem nenhuma censura, como não houvesse ninguém ali para reprimi-las, a não ser nós se no caso de nos sentirmos incomodados com elas.
Ao nível de comparação, como já mostrado acima, é possível ver em "Vento Seco" diversos traços de um cinema mais liberal como era visto nos filmes de baixo orçamento dos tempos do cinema mudo, mas que foram perseguidos e destruídos pelos conservadores de plantão daqueles tempos. O filme chega em um momento em que o fascismo, travestido de conservadorismo, está avançando e desejando silenciar aqueles que desejam ser apenas eles mesmos. Por conta disso, talvez seja um dos filmes mais corajosos de 2020, mesmo que surja alguns detratores que irão dizer ao contrário.
"Vento Seco" talvez seja o último sopro de resistência e coragem vindo do nosso cinema brasileiro recente e cabe essa coragem ser repassada para aqueles que desejam passar a sua mensagem.
Onde Assistir: Informações sobre quando o filme estará disponível vocês encontram na página oficial do filme no facebook clicando aqui.