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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 6 de abril de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Fuja'

Sinopse: Uma adolescente educada em casa começa a suspeitar que sua mãe esconde segredos sombrios.

Aneesh Chaganty chamou atenção da crítica e do público através do filme "Buscando" (2018), sendo que era um filme de suspense todo construido através do que os protagonistas viam na tela do computador. Portanto, era uma questão de tempo para saber qual seria a mirabolante nova trama que ele poderia, novamente, nos surpreender. Eis que chega "Fuja" (2021), filme de suspense que usa das mesmas fórmulas de sucesso de outros clássicos, mas conseguindo manter a nossa atenção até o seu final.

O filme conta a história de Chloe (Kiera Allen), uma adolescente que está confinada a uma cadeira de rodas e é educada em casa por sua mãe, Diane (Sarah Paulson). No entanto, o comportamento estranho apresentado pela matriarca começa a deixar a jovem desconfiada. Quando ela vasculha alguns medicamentos um tanto que suspeitos que ela dá para ela. A partir disso,  a jovem começa a desconfiar de tudo o que Diane faz, suspeitando que algo muito mais sinistro está por trás de tudo.

Bebendo da fonte de clássicos como "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?" (1962) e "Louca Obsessão" (1990), o filme é um suspense psicológico, do qual explora os laços familiares ao extremo, ao ponto que coloca para fora o pior do ser humano. É bem da verdade que o filme é um pequeno estudo sobre a dependência doentia paternal perante ao fato da possibilidade dos  filhos saírem de casa para seguir com as suas próprias vidas. É um assunto que, por vezes, a maioria não gosta de tocar no assunto, mas que é preciso ser tratado antes que tudo se eleve para algo mais obsessivo.

Para um olhar mais antenado de um cinéfilo, o filme quase não possui nenhuma novidade dentro do gênero, mas tendo sido bem conduzido obteve grande êxito.  Aneesh Chaganty está longe de ser um mestre como Alfred Hitchcock, mas é preciso reconhecer que ele possui certo talento com o movimento de sua câmera, onde ela se torna uma representação do nosso olhar perante certas situações que a personagem Chloe não presencia. Reparem, por exemplo, a cena em que ela está pesquisando na internet, para logo em seguida a câmera focar algo que está no fundo e fazermos estar há um passo a frente da personagem.

Além de uma ótima trilha sonora que aumenta o clima de tensão, o filme possui também uma fotografia fria, da qual sintetiza o clima mórbido na medida que em que a trama avança. Porém, o filme jamais funcionaria se a sua dupla principal não funcionasse em cena. Se por um lado Sarah Paulson cumpre novamente com louvor ao interpretar uma complexa personagem em cena, do outro, a estreante Kiera Allen surpreende na medida em que a sua personagem vai descobrindo aos poucos a verdade sobre toda a sua vida e mudando drasticamente as suas atitudes para poder escapar com vida.

É claro que o cinéfilo veterano sempre irá desvendar determinadas cenas antes delas  acontecerem. Porém, confesso que certas  revelações da história me surpreenderam muito, mas isso graças a edição de cenas criada pelo cineasta, da qual  alinhada com determinadas peças secretas desse tabuleiro faz com que a revelação se torne uma verdadeira jogada de gênio e criando um xeque-mate. Nada mal para um segundo longa metragem na carreira.

Com um final que é uma verdadeira virada de mesa, "Fuja" é um verdadeiro prato cheio para aqueles que procuram altas doses de suspense, mas alinhado com muita criatividade. 

Onde Assistir: Netflix

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segunda-feira, 5 de abril de 2021

Cine Dica: Streaming: 'O Último Turno'

Sinopse: Stanley é um funcionário do mundo do fast food que se prepara para seu último turno após 38 anos sem descanso. Quando lhe pedem para treinar a pessoa que vai substituí-lo, porém, a vida de Stanley dá uma guinada inesperada. 

Os EUA é um dos países mais capitalistas do mundo e do qual se sustenta pelo trabalho árduo de pessoas que acabam, na maioria dos casos, presos no mesmo emprego durante anos. Fora isso, mesmo se dizendo o país mais democrático do mundo, convenhamos, a terra do tio Sam não perde o rótulo de ser ainda um dos países mais conservadores e racistas do planeta. "O Último Turno" (2020) transita nas questões sobre quem realmente mexe nas engrenagens do universo do trabalho e sobre as diferenças que acabam emperrando o bom convívio entre o próximo.

Dirigido por Andrew Cohn, o filme conta a história de Stanley, interpretado pelo ator Richard Jenkins do filme "A Forma da Água" (2017), que durante quase quarenta anos trabalhou em uma lanchonete e está prestes a se aposentar. Antes disso, porém, ele decide treinar o novo empregado chamado Jevon, interpretado pelo ator Shane Paul McGhie. Desse treinamento surge uma pequena amizade, mas as diferenças e opiniões distintas podem fazer com que eles se afastem.

Transitando entre a comédia e o drama, o filme é uma simpática obra sobre as diferenças e opiniões de duas pessoas de vidas distintas, mas que vivem em uma mesma realidade mesmo quando os mesmos não se dão conta. Stanley ama o que faz, mas se encontra desgastado após vários anos de serviços prestados e o que faz Jevon questioná-lo. Esse, por sua vez, possui um talento com a escrita, mas não obtendo a oportunidade de seguir mais adiante com a sua meta. Portanto, ambos têm mais em comum do que se imagina, mas as diferenças e precipitações os levam a estradas opostas.

Como não poderia deixar de ser, o filme aborda com certa delicadeza a questão do racismo que, querendo ou não, ainda persiste em pleno século 21. Stanley não é uma pessoa má, mas conviveu com uma realidade norte americana conservadora e da qual ditava as regras. Ao não testemunhar contra um ato de racismo que ele presenciou no passado, percebesse que o medo de se envolver por uma causa o impediu de obter uma outra perspectiva com relação a realidade em sua volta. Jevon, por sua vez, convive com uma realidade dura, cheia de preconceito, mas sabendo como dar as cartas.

Curiosamente, o ato final é recheado de desentendimentos e atos falhos vindos principalmente de Stanley. Contudo, a descida para o fundo do poço faz com que ambos subam para um novo recomeço, mesmo que isso não apague os erros do passado. Em uma selva de pedra onde se é preciso ser forte para sobreviver no dia a dia, os protagonistas, ao menos, possuem o bom senso de não desistirem dos seus propósitos.

"O Último Turno" é leve, porém, reflexivo e que fala sobre pessoas que não são muito diferentes das quais nós cruzamos em nosso dia a dia.   

Onde Assistir: Compre e assista no Youtube.

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quinta-feira, 1 de abril de 2021

Cine Especial: 'Nikita' - Sobrevivendo ao Juiz do Tempo

Sinopse: Nikita é condenada por matar um policial, mas recebe uma segunda chance. 

O tempo é o melhor juiz com relação ao cinema, pois ele determina quando um filme será lembrado ou esquecido. É curioso, por exemplo, como muitos filmes dos anos setenta envelheceram bem ao longo do tempo, porém, o tempo não foi generoso com muitos filmes dos anos oitenta e noventa, ao ponto dos filmes de ação dessas duas épocas estejam cada vez mais datados a cada nova revisada. Os filmes de ação em que o homem forte representava um exército está desgastado e sendo lembrado somente com alguns títulos que ainda merecem ser lembrados e contados a dedo.

Contudo, os anos oitenta trouxeram alguma ousadia ao quebrar certos paradigmas, principalmente ao colocar mulheres a frente do elenco. Em "Aliens - O Resgate" (1986) Sigourney Weaver interpreta o que talvez seja a primeira grande mulher forte do cinema ao enfrentar alienígenas assassinos em que os homens não foram capazes de derrotá-los. O cenário, portanto, estava pronto para a entrada de "Nikita - Criada Para Matar" (1990) e dando um passo à frente do que seria uma heroína protagonista no futuro no futuro próximo.

Dirigido por Luc Besson, que posteriormente viria dirigir o ótimo "O Profissional" (1994), o filme conta a história de uma jovem viciada (Anne Parillaud) que durante um assalto mal sucedido acaba matando um policial. Condenada à morte, ela tem a sua vida poupada secretamente, pois uma organização secreta do governo acredita que sua tendência suicida possa ser utilizada em missões de grande risco. Assim, o potencial de uma marginal utilizado para missões especiais do Serviço de Inteligência.

O ano é 1990, a porta de entrada para uma nova de década, mas ainda carregando o peso da rebeldia de uma geração que esperava pela chegada de uma era mais colorida, mas que ficou só na promessa. Nikita pertence a essa geração perdida, sombria e cujo o único prazer é vindo da auto destruição até que alguém possa lhe ajuda-la. No momento em que ganha um novo começo nas mãos do agente Bob (Tchéky Karyo) se tem uma desconstrução da personagem.

O grande charme de "Nikita" está no fato do roteiro se encarregar de dar mais profundidade a personagem ao invés de se entregar somente em uma ação constante. Ação está lá, mas sempre em segundo plano, pois a protagonista já é uma peça em movimento constante e do qual desejamos prestar mais atenção nela do que uma mera explosão que possa surgir na tela.  Anne Parillaud entrega no que talvez seja o melhor papel de sua carreira e cuja sua personagem serviu de modelo a quase todas heroínas de filmes de ação que viriam a surgir nos anos seguintes.

Sucesso de público e de crítica, o filme foi rapidamente refilmado para uma versão norte americana e estrelada pela atriz Bridget Fonda, além de gerar mais duas séries televisivas. Porém, nenhuma dessas versões obteve o mesmo êxito e não sobrevivendo ao teste do tempo. Se o filme de Luc Besson sobreviveu até aqui se deve graças a sua visão perfeccionista de uma personagem cheia de camadas complexas e da qual nem a própria pode contê-la.

Em termos técnicos, tanto a fotografia como a edição de arte sintetizam a transição de uma geração delinquente a ter que passar por uma reeducação para os novos anos que viriam, mas que nem o próprio governo seria capaz de conte-los por muito tempo. Olhando para trás se percebe que o sistema controlador até dava um pingo de esperança para um novo começo, mas tendo que digerir o fato de que o indivíduo jamais deixará de ser controlado. O final vemos a protagonista sumir do mapa, deixando as possibilidades em aberto e talvez nos dizendo em ter que escolher em ser aceito por um sistema em que nos controla, ou ser livre e seguir uma vida fora do radar do grande irmão que nos observa no dia a dia.

Com participação mais do que especial do ator Jean Reno, "Nikita" é um filme sobrevivente perante o tempo implacável e sabendo dialogar muito bem com o nosso período.  

Onde Assistir: A venda em DVD pela distribuidora Classicline  

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quarta-feira, 31 de março de 2021

Cine Dica: Streaming: 'A Arte de Ser Adulto'

Sinopse: Scott tem sido um caso de desenvolvimento aprisionado desde que seu pai bombeiro morreu quando tinha sete anos. Conforme sua irmã mais nova vai para a faculdade, Scott, agora com seus vinte e poucos anos, passa os dias fumando maconha, passeando com seus amigos e ficando com sua melhor amiga.  

O filme "Anos 90" (2018) retratava o dia a dia de um pré-adolescente, do qual sintetizava uma geração perdida e da qual a mesma não sabia o caminho para qual trilhar na vida. Não é de hoje que o cinema retrata protagonistas jovens perdidos na vida, mas que basta um empurrão para descobrir algo muito além de sua bolha. "A Arte de Ser Adulto" (2020) transita entre humor e drama para retratar um jovem sem perspectiva com relação a realidade de sua volta.

Dirigido por Judd Apatow, do filme "O Virgem de 40 Anos" (2005), o filme conta a história de Scott, interpretado pelo ator Pete Davidson do filme "Descompensada" (2015), que tem sido um caso de desenvolvimento aprisionado desde que seu pai bombeiro morreu quando tinha sete anos. Conforme sua irmã mais nova vai para a faculdade, Scott, agora com seus vinte e poucos anos, passa os dias fumando maconha, passeando com seus amigos e ficando com sua melhor amiga. Mas quando sua mãe, interpretada pela atriz Marisa Tomei, começa a namorar um outro bombeiro sem papas na língua, uma série de eventos se desencadeia, obrigando Scott a lidar com o luto e tentar seguir em frente com a vida.

Desde "Ligeiramente Grávidos" (2005) o cineasta Judd Apatow tem apresentado protagonistas adultos por fora, mas que persistem em continuar com a vida adolescente e desregrada. Curiosamente, são filmes com altas pitadas de humor pastelão, quase escatológico, mas com altas doses de lição de moral para todos os gostos. Aqui, ele dá uma freada no humor, ao colocar em pauta sobre a jornada de um jovem sem nenhum plano para o futuro, mas dosado com um humor crítico e que fala um pouco dessa geração atual moldada por um sistema capitalista cada vez mais saindo dos trilhos e deixando os mesmos perdidos.

Ao não ter um pai presente desde novo, Scott se entrega a uma vida cheia de drogas e bebidas, mas tentando manter um lado desperto com relação a realidade em sua volta. Por conta disso, ele luta em querer não se entregar as responsabilidades que o façam se tornar um adulto, mas não escondendo em seu olhar a curiosidade sobre essa nova etapa da qual ele vive evitando. Pete Davidson dá um verdadeiro show de interpretação, onde ele cria para si um personagem complexo, mas do qual nos identificamos facilmente, pois ele não está muito distante da realidade de muitos jovens que nós conhecemos.

Porém, o filme também ganha força maior com os seus respectivos coadjuvantes e que chegam até mesmo roubar a cena quando surgem na tela. Marisa Tomei, por exemplo, nos brinda com uma mãe transitando entre a sanidade e a loucura provocada pelo seu filho, mas se mantendo firme para não cair em seu próprio abismo. E se por um lado Bill Burr, da série "Breaking Bad", está ótimo ao interpretar o futuro padrasto do protagonista, do outro, o veterano Steve Buscemi surpreende em suas poucas cenas e sendo até mesmo um dos poucos ao enxergar um futuro melhor para o protagonista por motivos pessoais, porém, que irão ajudar o mesmo em buscar um caminho para trilhar.

Acima de tudo, é um filme que fala sobre pessoas comuns com grandes talentos, mas perdidas após terem tido problemas pessoais e que não tiveram força de se levantar. Porém, é através da simplicidade do dia a dia que os mesmos conseguem obter uma nova chance nesta complexa cruzada da vida.  "A Arte de Ser Adulto" é sobre a geração atual perdida em um sistema cheio de regras, mas que basta furar a bolha para conseguir obter uma nova perspectiva com relação a realidade em sua volta. 

Onde Assistir: Compre ou algue pelo Youtube. 

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sexta-feira, 26 de março de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Druk - Mais Uma Rodada'

Sinopse: Para alegrar um amigo em crise, um grupo de professores decide testar a ousada teoria de que serão mais felizes e bem-sucedidos vivendo com um pouco de álcool no sangue. 

O clássico "Farrapo Humano" (1945) foi um dos primeiros filmes em abordar o vício do álcool e suas consequências como um todo. A partir daí, começou a ser lançados ao longo da história diversos filmes em que se aborda diversos vícios e retratando os protagonistas que transitam em estar no fundo do poço para se reerguer ao longo do tempo. Curiosamente, é raro vermos um filme em que se debata até onde essas drogas podem ser usadas para colaborar na melhora da vida da pessoa, desde que mostre de forma lógica o outro lado dessa moeda.

O filme Dinamarquês "Druk - Mais Uma Rodada" (2021), do diretor Thomas Vinterberg, o mesmo de "A Caça" (2013) procura em retratar pessoas com determinados dons, mas que desejam ir muito além disso e, portanto, experimentando drogas que podem ajuda-los, mas até certo ponto. O filme conta a história de quatro professores com problemas em suas vidas, testando a teoria de que ao manter um nível constante de álcool em suas correntes sanguíneas, suas vidas irão melhorar. De início, os resultados são animadores, porém, no decorrer da experiência, eles percebem que nem tudo é tão simples.

Há quem diga que a Dinamarca é um dos países em que o povo mais bebe no mundo e, portanto, não é de se estranhar, por exemplo, o prólogo onde retrata jovens estudantes disputando um desafio de corrida alinhado com altas doses de álcool. Após isso, o filme retrata o dia a dia dos protagonistas, que transitam entre um bom profissionalismo em suas profissões como professores com uma vida rotineira e, por vezes, sem graça. É a partir dessa rotina em que os mesmos testam a teoria de que grandes artistas e políticos do passado usaram álcool e outras drogas para conseguir obter inspiração em seus trabalhos, mesmo quando corriam um sério risco de serem descobertos.

Curiosamente, Thomas Vinterberg procura nos explicar com bastante lucidez de que grandes talentos do passado chegaram aonde chegaram com um pouco da ajuda de determinadas drogas como no caso do álcool. Quando o cineasta chega neste ponto, por exemplo, ele acaba se tornando corajoso ao colocar na tela políticos do mundo real que chegaram ao poder, mas que não conseguiam esconder em determinados momentos que usavam certas drogas ilícitas para conseguir falar com o povo ou a imprensa. Se por um lado surpreende pela coragem, do outro, se torna sarcasticamente previsível quando surge na tela o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, pois o escândalo sobre o que ocorria no salão oval daqueles tempos se tornou algo conhecido mundialmente.

Dos quatro protagonistas, Martin, interpretado pelo ótimo Mads Mikkelsen, aceita em participar do experimento, mas sempre com a mão no freio, mesmo quando surgem elementos que o poderiam tentá-lo em jogar tudo para alto. Se do primeiro ato até ao início do segundo o experimento dá certo resultado, porém, logo em seguida se percebe que é inevitável que os quatro comecem a cair no desfiladeiro do alcoolismo e cabe o bom senso de cada um ali saberem quando se deve parar antes que seja tarde demais.

No final das contas, Thomas Vinterberg não procura suavizar a questão das bebidas ilícitas, mas sim nos dizer que todos nós somos seres humanos destinados a experimentar tudo que vier pelo nosso caminho. Porém, cabe a nós sermos adultos e dizermos a nós mesmos quando se deve parar. O epílogo, por exemplo, nos mostra os sobreviventes de um círculo de eventos da trama comemorando com tudo o que tem direito, mas todos ali tendo a consciência dos seus próprios atos.

Indicado ao Oscar de Melhor Longa Internacional, "Druk - Mais Uma Rodada" é sobre pessoas talentosas, porém, não menos que humanas e que carregam para si os seus erros e acertos na vida. 

Onde Assistir: Assista pelo Google Play

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quinta-feira, 25 de março de 2021

Cine Dica: Cine Dica: Streaming: 'Supernova'

Sinopse: Três homens, um lugar e um acontecimento que vai mudar a vida de todos. Supernova analisa como a essência de uma pessoa pode mudar baseada em um fato do acaso e do destino.

Em tempos de crise política, pandêmica e descrença que nós sentimos perante aos nossos líderes, constatamos que cada vez mais o lado bestial do ser humano está se aflorando, ao ponto que corremos um sério risco de adentrarmos um caminho sem retorno. Curiosamente, esse caminho está inundado de trevas, mas também de luz e da qual nem mesmo ela pode consertar o estrago que já está sendo feito. O filme Polonês "Supernova" (2019) é uma representação do mundo atual prestes a ter um ataque de nervos e do qual corremos sério risco de testemunharmos.

Dirigido estreante  Bartosz Kruhlik, o filme é baseado num fait divers no qual o diretor diz ter se inspirado quando leu sobre o trágico atropelamento de uma família, em uma estrada vicinal do campo polonês, em nota de pé de página de jornal. Assistimos uma jovem com os seus dois filhos fugindo do seu marido bêbado, mas ela e as crianças são atropeladas por um determinado político. Com a chegada da polícia e dos paramédicos se tem início a diversas situações em um único ponto da estrada.

Em pouco mais de uma hora de duração, Bartosz Kruhlik nos convida para adentrarmos em uma trama cuja a mesma se passa em um dia ensolarado, como se não houvesse razão nenhuma para acontecer algo trágico. Curiosamente, o prólogo começa em um Plano-sequência, onde gradualmente avistamos a mulher, seus filhos e o marido bêbado tentando convencê-la a não ir embora. Só por essa cena já imaginamos diversos desdobramentos, mas todos eles acabam se tornando errados, pois a realidade acaba sendo muito mais crua do que nós imaginamos.

Há uma curiosa interligação dos personagens uns com os outros na medida em que eles vão surgindo, provocando a sensação para alguns que aquilo pode ser um tanto que inverossímil, mas se tornando coerente na medida que vamos conhecendo as suas motivações, seja do policial, do seu superior, ou dos demais que vão surgindo na tela. É a famosa teoria sobre o efeito borboleta, mesmo que aqui seja em menor escala, mas que a própria cresce na medida em que a situação foge do controle. É algo similar ao que já havia sido visto no filme "Babel" (2007), de Alejandro González Iñárritu, em escalas menores, mas sintetizando o fato de que qualquer mudança na água pode gerar uma onda maldita.

Com a câmera na mão, Bartosz Kruhlik nos passa uma sensação de uma obra quase documental sobre os fatos, como se aquilo estivesse realmente acontecendo. Curiosamente, foram poucos atores profissionais que foram contratados, sendo que a maioria que provoca ali a multidão que irá desencadear o descontrole são apenas moradores comuns da região em que foi feita a obra. O resultado é a transição do lado amador para o perfeccionismo da situação, onde qualquer passo em falso poderia ser benéfico para o resultado final da obra como um todo.

"Supernova" se encaminha facilmente na mesma fileira onde se encontra filmes recentes como "Parasita" (2019) ou "Coringa" (2019), pois são obras que dialogam com a sociedade atual cada vez mais sobrecarregada devido aos diversos problemas em que o mundo se encontra, seja ele moral, político ou de um desprezo cada vez maior das classes dominantes que se acham no dever de menosprezar um lado mais sociável. O epílogo, aliás é simbólico, pois ele fala de um eventual fim do mundo vindo através de uma supernova vinda do espaço, mas bem da verdade ele já está ocorrendo aqui embaixo e o que resta é, ou intervir, ou manter o pouco que nos resta nestes tempos indefinidos.

"Supernova" transita entre a insanidade e a estupidez  humana atual perante as situações que poderiam ser evitadas.         


Onde Assistir: NOW, Looke e outras plataformas de aluguel. 

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quarta-feira, 24 de março de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Corpus Christi'

 Sinopse: Daniel experimenta uma transformação espiritual durante o tempo em que passa em um centro de detenção para jovens.  

Jan Komasa tem chamado atenção da crítica especializada mesmo com uma curta filmografia. Em "A Rede do Ódio" (2020), por exemplo, ele toca em um assunto universal que é na questão das fake news, mas também nos falando um pouco do que é moldado a Polônia atual e da qual transita entre o conservadorismo e a liberdade individual. Em "Corpus Christi" (2020) ele toca agora na questão da religião e revelando uma sociedade hipócrita que se esconde através da fé e das regras da igreja das quais eles dizem que não irão quebrar.

O filme conta a história de Daniel (Bartosz Bielenia), um rapaz de 20 anos que experimenta uma transformação espiritual enquanto vive em um Centro de Detenção para Jovens. Ele quer se tornar padre, mas isso é impossível por causa de sua ficha criminal. Quando é enviado para trabalhar na oficina de um carpinteiro em uma cidade pequena, na chegada, ele se veste de padre e acidentalmente assume a paróquia local. A chegada do jovem e carismático pregador é uma oportunidade para a comunidade local iniciar o processo de cura após uma tragédia que aconteceu na região.

Durante boa parte do filme acompanhamos a cruzada do jovem protagonista, que procura se encontrar na vida, mas tendo que enfrentar as regras impostas contra ele. Além disso, ele precisa ter que contornar uma realidade conservadora, mas que também não esconde o seu lado mais sombrio na formação das pessoas através de uma fé cega. Portanto, o protagonista possui um olhar inocente perante a realidade moldada pela fé, mas ao mesmo tempo estando preparado pelos duros golpes que irá sofrer.

Daniel é uma representação do jovem rebelde atual, do qual transita entre a anarquia e o bom senso, mas correndo um sério risco de voltar à estaca zero. Ao se disfarçar de padre, ele se encaminha para uma estrada desconhecida, mas que o conduz a ter que usar as palavras que haviam sido ensinadas para ele ao longo de sua vida.  Por conta disso, ele conhece essas pessoas que vivem nesta pequena comunidade, que se dizem cidadãos do bem, mas que não sabem perdoar o próximo e, ao mesmo tempo, cometendo atos errôneos e acreditando que estarão a salvos ao confessarem os seus pecados.

Bartosz Bielenia está ótimo interpretando Daniel, mesmo em cenas em que o seu personagem não diz nada, mas cujo o seu olhar fala por si e representando muito bem o conflito interno que ele vai enfrentando ao longo desse percurso. Jan Komasa, por sua vez, cria enquadramentos únicos, dos quais se destaca a presença do protagonista como um todo e fazendo com que o mesmo se case com aquela nova realidade em que ele vai convivendo. Atenção para a belíssima cena em que ele segura a carestia, desde já uma das melhores partes do filme.

Mas diferente do que se imagina, o filme não procura criticar a igreja em si, mas sim uma sociedade hipócrita que a procura, moldada pela ambição do capitalismo e não sabendo como administrar uma realidade dividida entre a fé e o dinheiro. Daniel transita entre esses dois pólos, dos quais ele enfrenta com certo êxito, mas tendo que enfrentar a seguir as consequências dos seus atos. Na sua reta final, testemunhamos um Daniel despreocupado de qualquer arrependimento, pois a própria sociedade que o machuca é que deve um pedido de desculpas.

"Corpus Christi" é um filme sobre uma sociedade conservadora alienada, transitando entre a fé e o dinheiro e fazendo do primeiro uma mera desculpa para esconder os seus piores pecados.  

Onde Assistir: Look. 

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quinta-feira, 18 de março de 2021

Cine Dica: Curso PLANETA DOS MACACOS: A CONSTRUÇÃO DE UM CLÁSSICO

 Curso inédito

IMPERDÍVEL!

O curso online PLANETA DOS MACACOS: A CONSTRUÇÃO DE UM CLÁSSICO, ministrado pelo escritor Saulo Adami (que há 40 anos pesquisa o tema), vai oportunizar aos participantes uma viagem de volta aos bastidores da produção do filme "O Planeta dos Macacos" (1968), de Franklin J. Schaffner, que marcou o início da cinessérie produzida por Arthur P. Jacobs a partir do livro de Pierre Boulle, o mesmo autor de "A Ponte do Rio Kwai".

Serão abordados temas como: o livro, roteiros propostos, maquiagem, figurino, cidade cenográfica, espaçonave e demais atrativos que levaram milhões de espectadores às salas de projeção e o estúdio a investir em outros sete filmes para cinema e dois seriados de televisão.


Curso online

PLANETA DOS MACACOS: A CONSTRUÇÃO DE UM CLÁSSICO

de Saulo Adami

Datas: 27 e 28 de março

Horário: 14h às 16h

Material:

Apostila + Certificado

VALOR PROMOCIONAL PARA AS PRIMEIRAS 10 INSCRIÇÕES

http://cinemacineum.blogspot.com/2021/03/planeta-dos-macacos.html


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terça-feira, 16 de março de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'A Paixão de Joana d'Arc' (1928)


Participe e confira a minha crítica abaixo sobre o filme. 

Sinopse: A jovem camponesa Joana D'Arc é condenada à morte por ter liderado o povo francês contra o exército invasor inglês, dizendo que foi inspirada por Jesus e São Miguel. Ela passa suas últimas horas de vida capturada e torturada pelos ingleses.

Devido ao seu aspecto polêmico, tanto em relação à negligência e ambiguidade da igreja, quanto à visão equivocada do próprio Estado Francês, o talvez mais conhecido filme de Carl Theodor Dreyer, A Paixão de Joana D’Arc (1928), foi não só proibido de ser distribuído e exibido, como teve seu negativo e as cópias de que se tinham notícia, queimadas. Dessa forma, durante mais de cinco décadas,  não houve acesso à obra original, ou pelo menos uma copia similar a ela. Até que, em 1981, uma cópia Dinamarquesa, muito fiel à primeira edição do filme, foi encontrada num hospício na Noruega. O filme conhecido pela grande maioria das pessoas – inclusive lançada pela coleção Criterion, é uma adaptação da Cinematèque Française dessa cópia. A trilha sonora oficial do filme não existe, tendo sido tocadas várias peças musicais durante sua apresentação ao longo das décadas. É sugerido pela própria Cinematèque, que seja executado em conjunto a peça Voices of Light, de Richard Einhorn, que se inspirou tanto na vida da heroína, quanto na visão de Dreyer acerca dela, para compô-la.

O filme não mostra a menor necessidade de trilha sonora ao fundo. A falta da trilha, aliás, dá a impressão de uma mensagem muito mais pesada para os nossos olhos. Dizem que o silêncio foi um recurso apenas alcançado com o advento do cinema com som, uma vez que a ausência desse recurso seria uma opção dos realizadores para configurar uma atmosfera mais densa e melancólica. Pois então, a falta de trilha sonora caiu com uma luva nesse filme, cuja tensão é levada ao extremo.

Uma cena curiosa é aquela em que os padres toma uma decisão com importância grande no destino de Joana, e conta ao padre ao seu lado. O segredo é passado de padre para padre, e a câmera acompanha em travelling esse ‘telefone-sem-fio’, como se fosse ela própria o segredo sendo disseminado pela sala. O close, aliás, é uma grande marca registrada do filme, que não contém sequer um stablishing shot. Isto, é claro, causa uma confusão do espectador, que acostumado a ser sempre bem situado acerca do ambiente em que se desenrola a ação, pode sentir-se desnorteado e apresentar certa dificuldade em compreender o todo. Quando temos uma noção mais ampla da cena, um plano médio, o espaço ocupado pela atriz é sempre insignificante, perto da altura e posição privilegiada dos seus condenadores.

A intenção da obra tem o objetivo de desconcertar do início ao fim. Em nenhum momento, temos uma noção maior do que está acontecendo, do que a própria Joana d’Arc. O lado histórico, e os precedentes da guerreira não são mostrados ou explicados. No máximo, são citadas referências pelos padres. Não há aqui, portanto, preocupação com uma abordagem de Joana como uma heroína, ou guerreira. Aqui é explorado o aspecto humano da mesma, é buscada uma aproximação do real. Mostra-se, então, uma Joana comum, de aparência masculinizada, e nenhum glamour. Não uma guerreira destemida, mas uma garota de 17 anos que acredita estar fazendo um bem para seu país, uma missão para seu Deus, e vê-se encurralada, ao ser questionado acerca do seu modo de vestir, agir, e pensar. A interpretação de Maria Falconetti é emblemática, sendo não raramente eleita uma das melhores do cinema mudo.

Onde Assistir: Telecine ou Youtube. 

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sexta-feira, 12 de março de 2021

Cine Especial: 'Gandhi - Humanismo e Épico Cinematográfico'

Sinopse: Os acontecimentos mais importantes da vida de Mohandas Gandhi, o líder indiano que enfrentou o domínio britânico sobre seu país.  

O cinema atual se encontra um pouco relaxado na questão de elaborar superproduções. Já houve tempos em que os técnicos de efeitos visuais, edição de arte e fotografia colocavam realmente as mãos na massa e criavam cenários surpreendentes e não poupando na questão de figurantes para dar uma dimensão exata do poder da imagem. Hoje, infelizmente, há muitos casos de grandes produções serem feitas somente com efeitos digitais, mas nos dando a sensação um tanto que artificial em alguns casos que eu não irei citar aqui e fazendo eu me perguntar se essas obras atuais irão sobreviver ao ao teste do tempo.

Os anos oitenta e noventa, por exemplo, foram as últimas décadas que não caíram na tentação pelo lado mais fácil e criando superproduções com os velhos recursos cinematográficos. Olhando para trás, se percebe que havia maior substância, mais toque humano e fazendo dessas produções terem mais vida como um todo. Uma dessas superproduções é sem sombra de dúvida "Gandhi" (1982), obra que não somente contou sobre a vida de um grande personagem histórico, como também sobre os novos rumos de uma nação como um todo.

Dirigido por Richard Attenborough, do filme "Uma Ponte Longe Demais" (1977) o filme começa na África do Sul, 1893. Após ser expulso da 1ª classe de um trem, o jovem e idealista advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi (Ben Kingsley) inicia um processo de autoavaliação da condição da Índia, que na época era uma colônia britânica, e seus súditos ao redor do planeta. Já na Índia, através de manifestações enérgicas, mas não-violentas, atraiu para si a atenção do mundo ao se colocar como líder espiritual de hindus e muçulmanos.

"Gandhi" era um projeto dos sonhos do diretor Richard Attenborough, mas para realizá-lo a tarefa não foi fácil. Nenhum estúdio da época se interessou em produzir o filme. Parte da produção de "Gandhi" foi financiada por Joseph E. Levine, que em troca exigiu que Richard Attenborough dirigisse o já citado "Uma Ponte Longe Demais" e Magia Negra (1978). Attenborough e sua esposa, Sheila Sim, venderam os direitos da peça teatral "The Mousetrap" para ajudar na produção do filme. Na época esta era a peça há mais tempo em cartaz em Londres.

A quantia restante foi obtida com Jake Eberts, amigo de Richard Attenborough, e em pequenas produtoras inglesas. Com o orçamento nas mãos faltava o intérprete para assumir a dura tarefa de dar vida ao personagem histórico, mas opções é o que não faltaram. Alec Guinness e Anthony Hopkins estiveram cotados para interpretar Gandhi, além de John Hurt e Tom Courtenay chegaram a fazer testes para o personagem.

Curiosamente, Dustin Hoffman também tinha interesse, mas preferiu atuar no já clássico "Tootsie" (1982). Harold Pinter sugeriu o até então desconhecido Ben Kingsley, após vê-lo numa peça teatral. O prólogo já dá uma dimensão do que iremos testemunhar ao longo do filme. Já no início, testemunhamos o assassinato do protagonista, para logo em seguida mergulharmos no grande funeral que a Índia havia preparado para ele. A cena em si é, desde já, uma das mais surpreendentes da história do cinema, onde reuniu cerca de quatrocentos mil figurantes. Só para se ter uma ideia, a saída dos hebreus do Egito no clássico "Os Dez Mandamentos" (1956) reuniu no máximo duas mil pessoas, sendo um número irrisório perto do que foi usado em "Gandhi".

Essa verossimilhança para realização do filme se deve ao enorme respeito que o diretor tinha pela figura desse personagem histórico, do qual sem usar nenhuma arma mudou os rumos da história da Índia. Em mais de três horas de duração, assistimos passo a passo o desenvolvimento do personagem, da maneira como ele pregou a sua palavra de paz e como a mesma foi usada para mudar a forma de pensar do seu povo e dos políticos da época. A tarefa foi árdua, já que estamos falando de um único homem contra o império Inglês, sendo que o mesmo usou da força bruta para continuar com o seu poder contra a Índia.

É nesses momentos, por exemplo, que a produção nos dá uma noção da preocupação da reconstituição dos fatos. Para tanto, não poupou momentos duros onde retrata a resposta fria do governo inglês contra a Índia: a cena do massacre de 1.500 pessoas pela polícia britânica é impactante e me fez lembrar a clássica cena da escadaria do filme russo "O Encouraçado Potemkin" (1926).

Fotografia, edição de arte e figurino são tudo impecáveis, além de um olhar seguro do diretor que jamais obteria tal feito na carreira e deixando um legado único sobre como se deve fazer superproduções no cinema. Porém, a alma do filme pertence ao intérprete Ben Kingsley, que interpretou o protagonista com tamanha entrega que alguns nativos da Índia acharam que ele fosse seu fantasma. O segredo pode estar nos genes: a família paterna do ator é oriunda do estado indiano de Gujarat, o mesmo de Gandhi.

Não é à toa que o filme viria a ser o favorito em diversas premiações da época, ao ponto de receber oito Oscar, incluindo Melhor Filme, Diretor e Melhor Ator para Ben Kingsley. Curiosamente, "Gandhi" bateu de frente com o favoritismo da época que era o filme "ET" (1982), obra prima de Steven Spielberg, que era a maior bilheteria da época, mas que viu muitos dos prêmios sendo levados pela produção de Richard Attenborough. Revisto hoje, ambas produções merecem um lugar na história do cinema, independente de quem mereceu mais os prêmios daquele período.

"Gandhi" é uma obra prima, uma reconstituição sobre a cruzada de um grande homem da nossa história e um exemplo de como se fazia superproduções com as velhas e boas técnicas cinematográficas. 

Onde Assistir: Em DVD ou Netflix e locação pelo Youtuber.

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sexta-feira, 5 de março de 2021

Cine Especial: 'Amadeus - Sinfonia Cinematográfica '

Sinopse: Dentro de um manicômio, um compositor  lembra os fatos de três décadas antes, quando o jovem Mozart ganhou a confiança da corte do imperador austríaco Joseph II. Uma lenda urbana se forma sobre a morte de Amadeus Mozart. 

Em muitos casos, grandes talentos nascem e morrem sem ao menos o povo conhecer, mas fica fragmentos de sua pessoa ao longo da história. Por trás de um mito que entrou para história sempre haverá um homem ou mulher por detrás das cortinas. Talentos que lutaram pelo reconhecimento, mas que viveram na sombra de outros.

Grandes talentos que morrem precocemente, mas que entram para o imaginário das pessoas por toda a eternidade. Talentos que nunca são realmente reconhecidos da maneira que mereciam e morrem esquecidos ao longo do tempo. O clássico "Amadeus" (1984) é sobre talento e obsessão, inveja e admiração, culpa e redenção.

Dirigido por Milos Forman, do filme "Um Estranho no Ninho" (1975), o filme conta a história de Salieri (F. Murray Abraham), que após tentar se suicidar  confessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart (Tom Hulce). Ele relata como conheceu, conviveu e passou a odiar Mozart, que era um jovem irreverente, mas compunha como se sua música tivesse sido abençoada por Deus. As consequências acabam sendo devastadoras.

Com três horas de duração o filme é uma das grandes superproduções dos anos oitenta, daquelas capazes de encher os olhos do cinéfilo mais exigente e sair espantando da sessão com tamanha magnitude. Com uma edição de arte caprichada, alinhada com uma fotografia sublime, o filme ainda possui um figurino deslumbrante e cheios de detalhes. Curiosamente, o filme possui um ritmo quase frenético, cuja a edição parece um balé e fazendo a gente mais se cansar.

Transitando entre o drama e a comédia, o filme possui uma das trilhas sonoras mais contagiantes da história do cinema, sendo que a maioria delas é comandada por vários clássicos da obra de Mozart. O filme influenciou a música e a cultura popular da época, e continua a influenciar escritores, autores e músicos. Um exemplo é a canção "Rock Me Amadeus", do artista pop austríaco Falco, que foi um hit em 1985. Abraham aparece no filme "O Último Grande Herói" (1993) em um certo momento em que o garoto Danny avisa a Arnold Schwarzenegger que não confie nele porque "ele matou Mozart!" Schwarzenegger pergunta "num filme?" Ao que Danny responde, "Amadeus! Ganhou oito Oscars!"

Acima de tudo, é um filme sobre talento vs sociedade conservadora da época, mas cujo o artista que foi Mozart deu um passo à frente e injetando novo gás em sua arte que serviu de inspiração para vários mestres da música posteriormente. O filme vale principalmente pelo grande talento dos dois intérpretes, onde um é tão protagonista quanto o outro e fazendo a gente se perguntar em alguns momentos quem rouba a cena de quem. Se por um lado  F. Murray Abraham coloca o filme no seu bolso nas cenas em que ele se encontra em asilo para loucos, do outro, Tom Hulce sintetiza toda a força da entidade que foi Mozart e cuja a sua risada se torna uma crítica ácida sobre uma sociedade cheia de regras conservadoras, porém, muito hipócritas e cuja as suas mazelas perduram até hoje em dia.

Com minutos finais surpreendentes e corajosos, "Amadeus" é uma sinfonia da sétima arte e que sempre será imortal para todo o sempre. 

Onde Assistir: Em DVD

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quinta-feira, 4 de março de 2021

Cine Dica: Cine Dica: Streaming: 'Uma Noite em Miami'

Sinopse: O filme conta uma curiosa história do encontro entre Muhammad Ali, Malcom X, Sam Cooke e Jim Brown. 

A união de cinema e teatro gerou bons frutos ao longo do tempo, principalmente recentemente, como no caso, por exemplo, de "Um Limite Entre Nós" (2016), que é baseado em uma peça de teatro, mas sabendo se expandir em sua adaptação cinematográfica e gerando assim uma pequena joia como um todo. Já "A Voz Suprema do Blues" (2020) segue para um mesmo caminho, onde a direção segura e atuações poderosas faz com que a obra se torne maior e cujo o palco não seria o suficiente. Chegamos então em "Uma Noite em Miami" (2021), onde grandes celebridades de uma época distante se juntam para colocar os seus sonhos e suas frustrações enquanto as horas vão passando.

Dirigido pela atriz Regina King, recentemente na série de sucesso "Watchmen" (2019), o filme é baseado em uma peça de teatro de  Kemp Powers, onde conta um recorte da vida do lutador de boxe da categoria de peso-pesado, Cassius Clay, o Muhammad Ali. O filme acompanha sua trajetória desde jovem, quando ganhou visibilidade após participar do Miami Beach Convention Center e sair como vencedor de sua categoria, além de revisitar como se deu o início de sua amizade com Malcom X, Sam Cooke e Jim Brown.

Embora novata no ramo, Regina King demonstra segurança na sua direção, principalmente ao nos apresentar um prólogo que não tem pressa em apresentar os seus personagens principais e para só depois de quase vinte minutos ser apresentado o título do filme. Isso é proposital, já que a obra é protagonizada por quatro importantes figuras da cultura norte americana e que fizeram parte da luta pelos direitos civis que o povo negro tanto lutava a partir dos anos sessenta e setenta. Mas o filme engrena de vez quando os quatro se encontram em um simples quarto de hotel em Miami.

Ali, as quatro celebridades decidem colocar a conversa em dia, desde o fato de comemorar a última vitória de Muhammad Ali, como também discutir os planos de cada um. É aí que o filme começa a ficar tenso, principalmente através das palavras de Malcom X, que deseja que os três presentes façam parte da sua causa. Os quatro discutem, sendo que cada um tem uma opinião distinta sobre os seus papéis perante uma sociedade norte americana ainda muito preconceituosa naquela época.

Logicamente, a discussão se intensifica principalmente por causa de Malcom, que transita entre o radicalismo, mas com certa razão se formos pensar nos horrores que o povo negro sofreu ao longo da história. Kingsley Ben-Adir não só está bem caracterizado como Malcom como se torna o personagem mais complexo do longa, pois embora já saibamos sobre o seu destino dentro da história, não deixa de ser curioso observarmos a sua paranoia com relação ao mundo em volta e do qual ele teme pelos ventos da mudança que não possa controlar. E se por um lado Eli Goree e Leslie Odom Jr estão apenas ok como Muhammad Ali e Sam Cooke, por outro lado, Aldis Hodge se destaca como Jim Brown e cuja a sua lembrança em show de Boston se torna um dos grandes momentos do filme como um todo.

Acima de tudo, é um filme que se discute sobre tempos distantes, mas cujo os direitos sociais, preconceito e os dilemas de sua própria identidade são assuntos que são debatidos até os dias de hoje. Do lado de cá da tela, já conhecemos de antemão o destino dos quatro protagonistas, mas os próprios mal imaginavam o quanto colaboraram na luta social pelos direitos civis, mesmo quando alguns saíram de cena tão precocemente. Um filme simples, mas com mensagem poderosa para os dias de hoje.

"Uma Noite em Miami" é uma reunião entre amigos, onde cada um tem um potencial para ser compartilhado para sociedade, mesmo se pagando um alto preço para se obter esse feito.  

Onde Assistir: Amazon Prime. 

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quarta-feira, 3 de março de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: ‘Judas e o Messias Negro’

Sinopse: O presidente Fred Hampton tinha 21 anos quando foi assassinado pelo FBI, que coagiu um pequeno criminoso chamado William O'Neal para ajudá-los a silenciar Hampton e o Partido dos Panteras Negras.

Em tempos de retrocessos onde quase ficamos à beira de uma guerra civil, seja ela nos EUA ou no Brasil, é curioso observar que o cinema tem cada vez mais olhado para trás e trazendo histórias sobre a luta pelos direitos civis. No recente "Os Sete de Chicago" (2020), por exemplo, vemos o julgamento imposto contra líderes socialistas e cuja a prisão foi orquestrada justamente pelo governo dos EUA. "Judas e o Messias Negro" (2021) segue em uma linha parecida, porém, muito mais explícita ao mostrar líderes sociais sendo perseguidos por um poder racista nas entrelinhas.

Dirigido por Shaka King, a história mostra ascensão e queda de Fred Hampton, interpretado pelo ator Daniel Kaluuya do filme "Corra" (2017), o ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton.

Ao retratar fatos reais, o diretor Shaka King aproveita para que o seu primeiro ato transite entre a ficção e documentário, ao destacar cenas reais de uma época em que os EUA viviam uma guerra civil pelos direitos sociais e de discursos inflamados de líderes que se sacrificaram por um bem maior. A partir daí, adentramos aos EUA dos fins dos anos sessenta e começo dos anos setenta, onde a sociedade estava com os ânimos inflamados devido à crise financeira, derrocada do Vietnã e corrupção política. Em meio a isso os movimentos sociais explodiram e fazendo despertar o pior do governo dos EUA.

Nesta mistura se encontra William O’Neal, rapaz negro que somente quer se dar bem na vida, mas não escondendo o seu desejo de estar no lado certo da história. Ao ser um infiltrado do governo dentro do partido Panteras Negras, O’Neal transita entre a lucidez e a loucura prestes a explodir, já que ele pode ser morto a qualquer momento, ou carregar a culpa que irá destrui-lo. LaKeith Stanfield nos brinda com uma atuação assombrosa e fazendo dele quase um protagonista, pois ele nos atrai para o seu lado e fazendo querer que a gente entenda a sua posição da qual ele escolheu, mesmo a gente concluindo que ele está caindo em um abismo sem fundo.

Ao retratar uma época em que o racismo era comum vindo dos homens brancos engravatados, é de se espantar o discurso preconceituosos disparados em alguns momentos vindos de determinados personagens. Em um desses casos por exemplo, vemos um dos chefões do FBI  J. Edgar Hoover, interpretado pelo veterano Martin Sheen, fazendo uma pergunta pesada e racista para o agente Roy Mitchell, interpretado pelo ator Jesse Plemons e visto recentemente no ótimo "Estou Pensando em Acabar com Tudo" (2020). A cena, aliás, não há violência em si, mas o seu horror é retratado na expressão de Roy ao não saber ao certo como responder uma pergunta tão hedionda.

Mas o coração do filme pertence a figura de Fred Hampton e cujo os seus discursos de luta pelos direitos iguais servem até mesmo para os dias atuais, pois o fascismo está aí para ser combatido a todo custo. Daniel Kaluuya nos brinda com a melhor atuação de sua carreira, pois a sua caracterização como Fred é surpreendente e sua voz soa imponente em discursos inflamados e cuja as cenas se tornam impactantes. Assim como muitos líderes daqueles tempos, Fred Hampton era uma ideia da qual nem sua morte poderia ser silenciada, mesmo quando ela veio de uma forma tão criminosa.

O filme vem em um momento em que muitas revelações estão surgindo nos horizontes do cenário político e provando que determinados poderes não medem esforços para eliminar aquele que pode atrapalhá-los. Na verdade, esse jogo mortal sempre existiu, independente de qual país, pois o sistema capitalista não tolera a palavra socialismo desde sempre, mesmo quando ele falha e levando milhares de pessoas a sofrerem preconceito, seja pela raça ou pelo seus status. A luta não foi silenciada com a morte Fred Hampton, pois uma ideia jamais será apagada das páginas da história.

Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya, "Judas e o Messias Negro" é o retrato de uma luta social que perdura até hoje, seja em meio aos traidores como também perante aos governos autoritários disfarçados de democráticos. 


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terça-feira, 2 de março de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'O Juiz'

Sinopse: Hank Palmer, um advogado bem-sucedido e arrogante, retorna à sua pequena cidade natal para o velório da mãe. Ele descobre que seu pai, o respeitado juiz local Joseph Palmer, está sendo acusado de ter assassinado um antigo réu 

Participem da live semana que vem. Confira a minha crítica sobre o filme. 

Não há família perfeita, mas sim somente pessoas com os seus altos e baixos e que cabe um dia estarem frente a frente para colocar as suas desavenças para o lado de fora da bolha. Há casos que isso nunca ocorre, mas basta uma situação apertada para que os laços de sangue falem mais alto quando precisam um do outro. "O Juiz" (2014) é um pequeno retrato de figuras familiares que acreditam serem seguras de si, mas que precisam do seu próximo para enfrentar um momento cataclísmico.

Dirigido por  David Dobkin, o filme conta a história de um advogado de muito sucesso, Hank Palmer (Robert Downey Jr), que volta à cidade em que cresceu para o velório de sua mãe, que há muito não via. É recebido de forma hostil pela família e resolve ficar um pouco mais quando seu pai, veterano juiz (Robert Duvall), é apontado pela polícia como responsável pela morte de um homem que condenou há vinte anos. Mesmo não se entendendo com o pai, Hank debruça-se sobre o caso, mas os dois não conseguem conviver amigavelmente e a possibilidade de condenação aumenta a cada revelação.

O subgênero filmes de tribunal já deram bastante frutos ao longo da história do cinema, pois basta nos lembrarmos, por exemplo, de "12 Homens e uma Sentença" (1957) ou "O Sol é Para Todos" (1962). Porém, o tribunal aqui fica em segundo plano, mesmo que até certo ponto, pois o que está em pauta na trama é a desestruturação dessa família e os motivos que levaram a eles chegarem nesta situação. Tudo é explicado em meio a lembranças e gravações em rolo de Super-8 e fazendo com que esses momentos nos identifiquemos, pois todos nós já passamos por conflitos familiares, mas nos lembramos quase sempre dos momentos mais felizes.

Logicamente, o filme chama mais atenção pelo duelo de cena entre os seus astros do que a trama em si em alguns momentos, sendo que aqui temos a presença de um grande veterano do cinema e o astro deste século 21. Robert Downey Jr está mais do que a vontade em um papel que ele tira de letra, já que o seu personagem é alguém prepotente, ambicioso e que raramente deixa a sua guarda baixar. Sendo o Homem de Ferro para toda uma geração, o ator não precisa provar mais nada em termos de versatilidade, a não ser   participar de projetos de sua escolha e esse veio para provar que ele não viverá somente dentro de uma armadura.

Porém, Robert Duvall não fica muito atrás, já que sempre foi um grande astro coadjuvante em filmes que entraram para a história do cinema. De "O Poderoso Chefão" (1972) a "Apocalypse Now" (1979), Duvall nos brinda com um dos seus grandes últimos trabalhos no cinema, ao interpretar um Juiz quase intocável, mas cuja a realidade lhe atingiu em cheio. Cabe a reaproximação do seu filho para que ele consiga reestruturar na sua vida, mesmo que seja em pouco tempo.

O filme, infelizmente, não foge de alguns clichés básicos, desde ao nos apresentar um roteiro que não esconde a trilha que irá culminar em um final que a gente já havia previsto. O filme se sustenta mais principalmente graças aos dois intérpretes, principalmente quando ambos os personagens se digladiam em cenas cujo os ataques verbais afloram feridas nunca cicatrizadas. O filme, no final das contas, é sobre a redenção do indivíduo perante um obstáculo que não pode ser retirado, mas cabe então fazer uma curva para seguir o seu caminho.  

"O Juiz" é sobre família, perdas, revelações e redenções.    

Onde Assistir: Netflix. 

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