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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 12 de março de 2021

Cine Especial: 'Gandhi - Humanismo e Épico Cinematográfico'

Sinopse: Os acontecimentos mais importantes da vida de Mohandas Gandhi, o líder indiano que enfrentou o domínio britânico sobre seu país.  

O cinema atual se encontra um pouco relaxado na questão de elaborar superproduções. Já houve tempos em que os técnicos de efeitos visuais, edição de arte e fotografia colocavam realmente as mãos na massa e criavam cenários surpreendentes e não poupando na questão de figurantes para dar uma dimensão exata do poder da imagem. Hoje, infelizmente, há muitos casos de grandes produções serem feitas somente com efeitos digitais, mas nos dando a sensação um tanto que artificial em alguns casos que eu não irei citar aqui e fazendo eu me perguntar se essas obras atuais irão sobreviver ao ao teste do tempo.

Os anos oitenta e noventa, por exemplo, foram as últimas décadas que não caíram na tentação pelo lado mais fácil e criando superproduções com os velhos recursos cinematográficos. Olhando para trás, se percebe que havia maior substância, mais toque humano e fazendo dessas produções terem mais vida como um todo. Uma dessas superproduções é sem sombra de dúvida "Gandhi" (1982), obra que não somente contou sobre a vida de um grande personagem histórico, como também sobre os novos rumos de uma nação como um todo.

Dirigido por Richard Attenborough, do filme "Uma Ponte Longe Demais" (1977) o filme começa na África do Sul, 1893. Após ser expulso da 1ª classe de um trem, o jovem e idealista advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi (Ben Kingsley) inicia um processo de autoavaliação da condição da Índia, que na época era uma colônia britânica, e seus súditos ao redor do planeta. Já na Índia, através de manifestações enérgicas, mas não-violentas, atraiu para si a atenção do mundo ao se colocar como líder espiritual de hindus e muçulmanos.

"Gandhi" era um projeto dos sonhos do diretor Richard Attenborough, mas para realizá-lo a tarefa não foi fácil. Nenhum estúdio da época se interessou em produzir o filme. Parte da produção de "Gandhi" foi financiada por Joseph E. Levine, que em troca exigiu que Richard Attenborough dirigisse o já citado "Uma Ponte Longe Demais" e Magia Negra (1978). Attenborough e sua esposa, Sheila Sim, venderam os direitos da peça teatral "The Mousetrap" para ajudar na produção do filme. Na época esta era a peça há mais tempo em cartaz em Londres.

A quantia restante foi obtida com Jake Eberts, amigo de Richard Attenborough, e em pequenas produtoras inglesas. Com o orçamento nas mãos faltava o intérprete para assumir a dura tarefa de dar vida ao personagem histórico, mas opções é o que não faltaram. Alec Guinness e Anthony Hopkins estiveram cotados para interpretar Gandhi, além de John Hurt e Tom Courtenay chegaram a fazer testes para o personagem.

Curiosamente, Dustin Hoffman também tinha interesse, mas preferiu atuar no já clássico "Tootsie" (1982). Harold Pinter sugeriu o até então desconhecido Ben Kingsley, após vê-lo numa peça teatral. O prólogo já dá uma dimensão do que iremos testemunhar ao longo do filme. Já no início, testemunhamos o assassinato do protagonista, para logo em seguida mergulharmos no grande funeral que a Índia havia preparado para ele. A cena em si é, desde já, uma das mais surpreendentes da história do cinema, onde reuniu cerca de quatrocentos mil figurantes. Só para se ter uma ideia, a saída dos hebreus do Egito no clássico "Os Dez Mandamentos" (1956) reuniu no máximo duas mil pessoas, sendo um número irrisório perto do que foi usado em "Gandhi".

Essa verossimilhança para realização do filme se deve ao enorme respeito que o diretor tinha pela figura desse personagem histórico, do qual sem usar nenhuma arma mudou os rumos da história da Índia. Em mais de três horas de duração, assistimos passo a passo o desenvolvimento do personagem, da maneira como ele pregou a sua palavra de paz e como a mesma foi usada para mudar a forma de pensar do seu povo e dos políticos da época. A tarefa foi árdua, já que estamos falando de um único homem contra o império Inglês, sendo que o mesmo usou da força bruta para continuar com o seu poder contra a Índia.

É nesses momentos, por exemplo, que a produção nos dá uma noção da preocupação da reconstituição dos fatos. Para tanto, não poupou momentos duros onde retrata a resposta fria do governo inglês contra a Índia: a cena do massacre de 1.500 pessoas pela polícia britânica é impactante e me fez lembrar a clássica cena da escadaria do filme russo "O Encouraçado Potemkin" (1926).

Fotografia, edição de arte e figurino são tudo impecáveis, além de um olhar seguro do diretor que jamais obteria tal feito na carreira e deixando um legado único sobre como se deve fazer superproduções no cinema. Porém, a alma do filme pertence ao intérprete Ben Kingsley, que interpretou o protagonista com tamanha entrega que alguns nativos da Índia acharam que ele fosse seu fantasma. O segredo pode estar nos genes: a família paterna do ator é oriunda do estado indiano de Gujarat, o mesmo de Gandhi.

Não é à toa que o filme viria a ser o favorito em diversas premiações da época, ao ponto de receber oito Oscar, incluindo Melhor Filme, Diretor e Melhor Ator para Ben Kingsley. Curiosamente, "Gandhi" bateu de frente com o favoritismo da época que era o filme "ET" (1982), obra prima de Steven Spielberg, que era a maior bilheteria da época, mas que viu muitos dos prêmios sendo levados pela produção de Richard Attenborough. Revisto hoje, ambas produções merecem um lugar na história do cinema, independente de quem mereceu mais os prêmios daquele período.

"Gandhi" é uma obra prima, uma reconstituição sobre a cruzada de um grande homem da nossa história e um exemplo de como se fazia superproduções com as velhas e boas técnicas cinematográficas. 

Onde Assistir: Em DVD ou Netflix e locação pelo Youtuber.

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