"Tubarão" (1975) foi um marco do cinema em todos os sentidos, sendo um longa que não somente consagrou de forma definitiva a carreira de do diretor Steven Spielberg, como também mudou o mercado cinematográfico para sempre. Até aquele momento filmes sobre animais incomuns que atacam as pessoas se limitavam a somente aos filmes B e cujo orçamento, por vezes, eram minúsculos. Ao mesmo tempo em que o cinema de horror e ficção estava sendo visto com novos olhos, ao mesmo tempo, produtores como Roger Corman viam isso com certo temor, já que os grandes estúdios começariam a investir pesado neste gênero e fazendo com que as pequenas produtoras ficassem de lado.
Conhecido em saber investir barato e obter retorno astronômico, Corman não perdeu tempo em investir em uma ideia similar que se equiparasse ao que ocorreu com "Tubarão", mas realizado do seu modo, com pouco dinheiro e filmagens que não levavam muito tempo para serem concluídas. O resultado é "Piranha" (1978), que rapidamente se tornaria um filme cultuado e até mesmo bastante imitado. Não demorou muito para próprio Universal querer processar Corman de plágio, mas o próprio Spielberg abortou a ideia, pois até hoje ele considera o filme a melhor coisa que veio depois de "Tubarão".
A trama é simples, onde acompanhamos Maggie (Heather Menzies) partindo para um acampamento de verão onde desapareceram um casal a mais de uma semana. Lá ele encontra um morador local chamado Paul (Bradford Dillman) que vive próximo a esse acampamento e cuja sua filha Suzie está por lá. Ambos investigam um complexo militar onde há um laboratório onde encontram experimentos bizarros com peixes.
Maggie decide escoar a água da piscina do local para ver se não encontra o casal desaparecido, mas são abordados pelo cientista Robert Hoak (Kevin McCarthy), cujo mesmo avisa que eles acabaram de liberar piranhas carnívoras geneticamente modificadas e que podem sobreviver na água doce. Tem início uma corrida contra o tempo, já que as piranhas podem estar se dirigindo para o acampamento em que Suzie e as demais crianças se encontram. Porém, durante a jornada cada segundo se torna um terrível pesadelo.
Inicialmente é preciso assistir ao clássico "Piranha" com a mente aberta, já que a produção mesma foi criada para não se levar a sério e fazendo com se obtenha identidade própria. Conhecido por produções como o clássico como "Meus Vizinhos São Um Terror" (1988), Joe Dante nos passa a sensação que se divertiu filmando o filme em menos de um mês, mesmo com a supervisão direta de Corman ao longo do trabalho. Ele nem sequer se preocupa com as comparações que iriam fazer com o clássico "Tubarão", sendo que há uma pequena referência ao filme de Steven Spielberg na abertura, onde a protagonista joga um vídeo game referente ao longa.
Em tempos em que efeitos digitais ainda eram um sonho distante tudo o que se vê na tela são efeitos práticos feitos a mão, com o direito de termos em cena piranhas de borracha e sendo controladas por varetas com mergulhadores embaixo d'água. Claro tudo realizado com uma edição dinâmica para que não possamos ver os defeitos especiais, sendo que eles se tornam ainda menos visíveis quando o sangue jorra na tela na medida em que as criaturas vão atacando os banhistas. Vale destacar o barulho em que elas fazem quando atacam, sendo algo reconhecível até mesmo nos dias de hoje e que ainda impressiona.
Também não se pode exigir muito do elenco principal na questão de interpretação, sendo que eles estão ali somente como mocinhos para salvarem o dia, sendo que o único com a veia dramática é Kevin McCarthy que faz do cientista alguém que carrega um grande peso ao criar os peixes assassinos. Curiosamente, há um pitaco contra o governo dos EUA, já que eles criaram os tais peixes com a intenção de usá-los durante a Guerra do Vietnã e cuja ideia absurda seria posteriormente usada em outros filmes do mesmo estilo.
Vale destacar que os anos setenta eram tempos mais corajosos com termos de filmes de terror e, portanto, não se surpreenda ao ver um bando de crianças indefesas sendo devoradas pelas piranhas no rio do clube. A cena, aliás, chega a ser tão chocante quanto a cena em que o menino é devorado no filme de "Tubarão", mas tudo de uma forma ainda mais exagerada, com o direito de uma piranha pular na cara de um dos atores. Claro que há um final feliz, porém, ele termina em aberto, com uma possível continuação e com olhar peculiar da atriz Barbara Steele que interpreta uma cientista sem escrúpulos.
Curiosamente, Roger Corman e os demais realizadores tiveram até mesmo tempo de prestar uma homenagem ao clássico "A 20 Milhões de Léguas da Terra" (1957), onde na cena em que o casal protagonista entra no laboratório há uma criatura geneticamente modificada e que lembra bastante do monstro criado por Ray Harryhausen. A cena foi feita em stop motion, mas sendo a única da produção o que não deixa de ser curiosa para dizer o mínimo.
Com tantas continuações, derivados e imitações que "Tubarão" obteve ao longo de todos esses anos, é até mesmo impressionante como esse pequeno filme tenha sobrevivido ao longo do tempo. Porém, ela não escapou de uma continuação famigerada de 1981, intitulada "Piranhas 2 - Assassinas Voadoras" (1982) e que foi dirigida por ninguém menos que James Cameron. Porém, esse é um outro assunto que eu falarei logo mais abaixo.
"Piranhas" é o melhor filme das inúmeras imitações que o clássico "Tubarão" obteve ao longo de todo esse tempo e por isso mesmo merece ser redescoberto por essa nova geração de cinéfilos.
'Piranhas II - Assassinas Voadora
É bem difícil defender essa continuação, pois ela é tão ruim que acaba sendo divertido testemunhar tamanha tosquise. O que surpreende mais vendo esse filme nos dias de hoje é que ele foi dirigido por ninguém menos que James Cameron no início de carreira. Durante muito tempo o realizador renegou esse longa, pois ele havia sido demitido antes do término das filmagens e sendo substituído pelo próprio produtor que concluiu o projeto.
O engraçado que quando assistia esse filme na tv, seja na Globo ou no SBT, as emissoras anunciavam de uma forma tão séria que parecia algo realmente assustador. Para uma criança de cinco anos algumas cenas ficaram marcadas na memória, como as duas garotas sendo atacadas em um barco, ou dos banhistas sendo devorados pelos peixes que saiam do mar voando. Revendo hoje percebo o quanto eu era covarde, pois não acredito que uma criança de hoje em dia se assustaria com tais cenas.
Se havia criatividade no primeiro filme na elaboração das cenas aqui nada é bem cuidado, sendo que podemos até ver os fios que balançam os peixes de borracha no ar e cuja bizarrice acontece quando um ataca uma enfermeira no necrotério e foge pela janela. Se isso já não é tosquise o que dizer de um casal na abertura do filme, que tentam fazer sexo embaixo d'água e acabam sendo servidos como comida pelas piranhas.
Vale destacar que o filme possui algumas caras conhecidas que trabalhariam posteriormente para Cameron, como no caso de Lance Henriksen que trabalharia com o cineasta em quase todos os seus filmes e se tornaria bastante lembrado como o androide visto em "Aliens - O Resgate" (1987). Já Tricia Oneil sempre foi uma intérprete que trabalhava mais para a tv, mas ganharia uma participação vários anos depois em "Titanic" (1997) e provando que o cineasta não se esquece daqueles que ele havia trabalhado no passado, mesmo considerando por muito tempo como esse projeto de maldito. Em tempos atuais, onde o diretor tem o seu lugar dentro da história do cinema, ele com certeza aceita de maneira mais fácil esse projeto problemático, pois querendo ou não na vida sempre começamos por baixo para então assim darmos voos mais altos.
"Piranhas II - Assassinas Voadoras" é apontado como um dos piores filmes de todos os tempos e exemplos dentro da obra é o que não faltam.
Onde Assistir: Em DVD pela Classicline
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948
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