Sinopse: O presidente Fred Hampton tinha 21 anos quando foi assassinado pelo FBI, que coagiu um pequeno criminoso chamado William O'Neal para ajudá-los a silenciar Hampton e o Partido dos Panteras Negras.
Em tempos de retrocessos onde quase ficamos à beira de uma guerra civil, seja ela nos EUA ou no Brasil, é curioso observar que o cinema tem cada vez mais olhado para trás e trazendo histórias sobre a luta pelos direitos civis. No recente "Os Sete de Chicago" (2020), por exemplo, vemos o julgamento imposto contra líderes socialistas e cuja a prisão foi orquestrada justamente pelo governo dos EUA. "Judas e o Messias Negro" (2021) segue em uma linha parecida, porém, muito mais explícita ao mostrar líderes sociais sendo perseguidos por um poder racista nas entrelinhas.
Dirigido por Shaka King, a história mostra ascensão e queda de Fred Hampton, interpretado pelo ator Daniel Kaluuya do filme "Corra" (2017), o ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton.
Ao retratar fatos reais, o diretor Shaka King aproveita para que o seu primeiro ato transite entre a ficção e documentário, ao destacar cenas reais de uma época em que os EUA viviam uma guerra civil pelos direitos sociais e de discursos inflamados de líderes que se sacrificaram por um bem maior. A partir daí, adentramos aos EUA dos fins dos anos sessenta e começo dos anos setenta, onde a sociedade estava com os ânimos inflamados devido à crise financeira, derrocada do Vietnã e corrupção política. Em meio a isso os movimentos sociais explodiram e fazendo despertar o pior do governo dos EUA.
Nesta mistura se encontra William O’Neal, rapaz negro que somente quer se dar bem na vida, mas não escondendo o seu desejo de estar no lado certo da história. Ao ser um infiltrado do governo dentro do partido Panteras Negras, O’Neal transita entre a lucidez e a loucura prestes a explodir, já que ele pode ser morto a qualquer momento, ou carregar a culpa que irá destrui-lo. LaKeith Stanfield nos brinda com uma atuação assombrosa e fazendo dele quase um protagonista, pois ele nos atrai para o seu lado e fazendo querer que a gente entenda a sua posição da qual ele escolheu, mesmo a gente concluindo que ele está caindo em um abismo sem fundo.
Ao retratar uma época em que o racismo era comum vindo dos homens brancos engravatados, é de se espantar o discurso preconceituosos disparados em alguns momentos vindos de determinados personagens. Em um desses casos por exemplo, vemos um dos chefões do FBI J. Edgar Hoover, interpretado pelo veterano Martin Sheen, fazendo uma pergunta pesada e racista para o agente Roy Mitchell, interpretado pelo ator Jesse Plemons e visto recentemente no ótimo "Estou Pensando em Acabar com Tudo" (2020). A cena, aliás, não há violência em si, mas o seu horror é retratado na expressão de Roy ao não saber ao certo como responder uma pergunta tão hedionda.
Mas o coração do filme pertence a figura de Fred Hampton e cujo os seus discursos de luta pelos direitos iguais servem até mesmo para os dias atuais, pois o fascismo está aí para ser combatido a todo custo. Daniel Kaluuya nos brinda com a melhor atuação de sua carreira, pois a sua caracterização como Fred é surpreendente e sua voz soa imponente em discursos inflamados e cuja as cenas se tornam impactantes. Assim como muitos líderes daqueles tempos, Fred Hampton era uma ideia da qual nem sua morte poderia ser silenciada, mesmo quando ela veio de uma forma tão criminosa.
O filme vem em um momento em que muitas revelações estão surgindo nos horizontes do cenário político e provando que determinados poderes não medem esforços para eliminar aquele que pode atrapalhá-los. Na verdade, esse jogo mortal sempre existiu, independente de qual país, pois o sistema capitalista não tolera a palavra socialismo desde sempre, mesmo quando ele falha e levando milhares de pessoas a sofrerem preconceito, seja pela raça ou pelo seus status. A luta não foi silenciada com a morte Fred Hampton, pois uma ideia jamais será apagada das páginas da história.
Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya, "Judas e o Messias Negro" é o retrato de uma luta social que perdura até hoje, seja em meio aos traidores como também perante aos governos autoritários disfarçados de democráticos.
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